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Além de uma representação depreciativa, era totalmente incoerente com o perfil maioritário do público sênior. Atrevo-me a dizer que este pictograma* desde a sua origem foi criado de forma apelativa e sem traduzir verdadeiramente a imagem das pessoas com mais idade à época de sua criação.
*PICTOGRAMAS – “São informações de objetos ou conceitos traduzidos de forma gráfica extremamente simplificada, porém contidos de muitos significados que ultrapassam as barreiras linguísticas.”
Hoje festejamos a legislação que nos fez justiça e a adoção deste novo pictograma que mostra uma pessoa ereta ao lado do símbolo “60+”. Além de justo e pertinente, este sinal sempre nos fará lembrar desta vitória que culminou em uma nova resolução do Conselho Nacional de Trânsito (Contran).
Trata-se da Resolução nº965/22, de 17 de maio de 2022, do Contran, que alterou o modelo da placa nos estacionamentos que inclua “área de estacionamento para veículo de pessoa idosa, para o estacionamento de veículo conduzido por, ou que transporte, pessoa idosa, devidamente identificado pela credencial.”
A nova resolução passou a vigorar em 1º de junho e as instituições têm até cinco anos para se adequarem ao novo modelo. Porém, em alguns estados a substituição já começou a ser realizada.
Tudo começou com um movimento na internet contrário ao pictograma com a bengala para os 60+, a partir do qual, em 2012, Max Petrucci, o presidente da Agência Garage IM, iniciou uma campanha para modificar essa imagem:
“Descobrimos que o envelhecimento é uma questão deixada de lado no Brasil”, conta empresário de 45 anos. Ele mesmo conta que até então nunca tinha pensado na velhice. “Estamos vivendo cada vez mais, porém construímos uma imagem deturpada da terceira idade. Segundo essa visão, envelhecer é só ruim. E, aos 60, a pessoa se torna caquética como no pictograma”.
O projeto incluiu uma competição de propostas por meio do site Itsnoon e contou com mais de 400 sugestões de pictogramas, dez dos quais foram selecionados. A campanha para atualizar a representação do público 60+ na sociedade envolveu todas as gerações e recebeu o nome RE/GENERATION. Veja aqui as 10 propostas escolhidas para a competição.
Fonte: Placa no estacionamento do Anexo 2 do Senado Federal, em Brasília-DF.
Símbolos pejorativos que representem pessoas com deficiência, ou idosas, devem ser eliminados.
Hoje celebramos a Resolução do CONTRAN que determinou a mudança nas placas preferenciais nos estacionamentos. Entretanto, há mais trabalho a fazer e lutas a vencer.
Devemos agir para que os demais pictogramas, como os dos assentos prioritários, também sejam substituídos. Felizmente, há projetos legislativos em andamento que contemplam tal alteração e podem ser acelerados se agirmos coletivamente.
Tramita na Câmara dos Deputados o Projeto de Lei do Senado 126/2016, que dispõe sobre o uso de símbolos desprovidos de caráter pejorativo na identificação de pessoa com deficiência e de idoso. De autoria do senador Waldemir Moka (PMDB-MS), a sua proposta afirma que:
“a identificação de idosos, exposta junto a assentos reservados no transporte coletivo e caixas de bancos, por exemplo, seja expressa com pictografia baseada objetivamente na idade mínima de 60 anos, e não mais com a figura de alguém arqueado sobre uma bengala, atualmente empregada na comunicação visual para identificar esse grupo.”
O Senador Moka, acertadamente, diz que “a lei que estabeleceu o atendimento preferencial aos idosos é para protegê-los, e não deve incorrer no fortalecimento de juízos constrangedores e preconceituosos.”
Devemos celebrar brava e ostensivamente a conquista de novas e justas placas preferenciais de estacionamento para os sêniores, como forma de pressionarmos a eliminação do símbolo pejorativo e desfavorável à nossa fase 60+.
“Pode haver redução do preconceito etário no mercado de trabalho só pela alteração em uma placa de estacionamento para pessoas 60+?” “Comemoramos uma imbecilidade que nada muda em nossas vidas?
Há quem questione, ou até nos zombe, pelo fato de estarmos vibrantes com o novo símbolo para pessoas idosas e por encararmos esta mudança com uma grande conquista na batalha contra o etarismo. Entretanto, segundo o que constatamos nos nossos estudos, toda a ação que colabore para a redução de estereótipos (como pensamos), preconceitos (como sentimos) e discriminação (como agimos) em relação às outras pessoas colabora para a evolução da consciência humana.
Alterar uma placa de estacionamento para as pessoas 60+ não fará, automaticamente, com que o preconceito etário no trabalho seja eliminado. No entanto, no momento em que uma legislação nacional é alterada para preservar a dignidade das pessoas sêniores, sementes são lançadas ao solo para que muitas outras garantias e preservação de direitos possam germinar, inclusive no âmbito do trabalho.
Veja bem! A partir de uma ação positiva como esta, quanto debate já surgiu. Quantas pessoas celebram e louvam a alteração de uma “simples”, porém estereotipada imagem? O sentimento de respeito que advém desta aparente “imbecilidade” importará num aumento da auto-estima das pessoas idosas, sem falar na possibilidade de reformulação de mentalidades de líderes e setores de recursos humanos, os quais poderão rever atitudes estereotipadas, preconceituosas e discriminatórias em relação aos trabalhadores 60+, 50+, 40+ e até 30+, a partir deste grande acontecimento nacional em prol dos sêniores.
O pictograma que representa a pessoa idosa seja no trânsito, ou na destinação dos assentos prioritários, deve traduzir, verdadeiramente, o “conceito” que pretende informar. Além do mais, a eliminação de imagens incoerentes à pessoa idosa é também assunto em outros países, uma vez que a população mundial está a envelhecer e cada vez mais a proporção de pessoas idosas é superior em relação às mais jovens. Ninguém quer ser retratado de forma depreciativa, injusta, incoerente e pejorativa.
Também no Reino Unido, foi lançada uma campanha - "Sign of the Times" - para mudar a imagem do envelhecimento nas placas de trânsito. Segundo o site de notícias Spring Chicken, designers foram convidados a criarem alternativas ao sinal de trânsito “paternalista” que sugere que os idosos são todos “enfermos ou perigosos para os motoristas.”
“Não achamos que o letreiro atual – com seu casal triste e decrépito atravessando a estrada – faça justiça à fantástica criatividade, energia, curiosidade e pura energia das pessoas mais velhas que encontramos. Então, trabalhamos com nossos bons amigos NB Studio, que pediram a alguns dos designers mais conhecidos do mundo que tentassem novamente, e os resultados foram fantásticos.”
Veremos o dia em que o respeito e a gentileza com as pessoas que requerem mais atenção e cuidados nos transportes, ou no trânsito, não dependa de leis que nos obriguem a isso. A indicação de que esta mudança de mentalidade pode acontecer é o que já ocorre no metrô de Londres onde os passageiros são estimulados à prática da gentileza.
Naquele transporte metropolitano há lugares com a indicação “Please! Offer this seat!” (Por favor, ofereça este assento), para incentivar que os passageiros cedam seus assentos a alguém que precise mais.
Esta iniciativa decorreu do resultado de uma pesquisa com 1.000 passageiros, em que quase um terço deles afirmou só acreditar que deve oferecer seu assento se estiver sentado num “assento prioritário”.
Mark Evers, diretor de clientes da Transport for London, disse: “Entendemos que algumas pessoas podem se sentir desconfortáveis em oferecer seus assentos. Outros também podem não ter confiança para pedir um assento se precisarem. Incentivamos os clientes a olharem as pessoas que embarcam, para verem se há alguém próximo lutando por um assento. Incentivamos os clientes a desistirem de seus lugares para alguém que precise mais."
Com esta boa notícia vinda do Reino Unido encerro o artigo de hoje elevando o meu brinde a todas as pessoas 60+ que ganhamos uma justa e merecida imagem. 60+ sim! E sem bengala!