A economia da longevidade da visão estratégica aos números | Sociedade

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A economia da longevidade da visão estratégica aos números

27/02/2023 | Ana Sepulveda - 40+Lab

A economia da longevidade Fonte: Stock adobe A economia da longevidade Fonte: Stock adobe

Já tive oportunidade de escrever sobre os diversos países que desenharam uma estratégia de desenvolvimento da economia da longevidade, por isso quero aqui dar destaque a alguns números que são referência.

Vivemos numa era em que a pesquisa sobre longevidade e envelhecimento saudável está a progredir substancialmente. Investidores, investigadores e economistas reconhecem que este é um dos maiores e mais crescentes mercados do mundo, mas que ainda é subvalorizado como setor da economia.

A visão tradicional de como envelhecemos representa um enorme desafio social, pessoal e económico para a sociedade moderna dado o aumento de recursos necessários para sustentar uma sociedade cada vez mais marcada por pessoas adultas e adultas maduras (= pessoas com 65 e mais anos de idade).

Explorar as oportunidades e desafios da longevidade

Posto isto, é importante explorar as oportunidades e desafios económicos, financeiros, tecnológicos e sociais resultantes da atual mudança demográfica, da diminuição da taxa de natalidade e do aumento da expectativa de vida saudável.

A demografia salta à vista e em Portugal a publicação do último censos deixou isso bastante evidente. Esta tomada de consciência marca um ponto de inflexão, não apenas no investimento em investigação sobre envelhecimento, mas também em muita da investigação na área da biologia que afeta o tempo de vida saudável.

Esta interação entre saúde, longevidade, decisões económicas e realidade demográfica cria um círculo virtuoso, e vou buscar estas palavras a Andrew J. Scott, de tal forma que o quanto mais bem-sucedida for a sociedade em melhorar a forma como envelhecemos, maior será a valor económico da longevidade enquanto setor da economia.

No artigo “O valor económico de focar o envelhecimento”, escrito por Andrew J. Scott, Martin Ellison e por David A. Sinclair, os autores analisam a temática do aumento da esperança média de vida e questionam o impacto económico que daí resulta, para definirem e proporem um modelo de desenvolvimento económico.

Segundo os autores, as pessoas, cientes que vão viver mais tempo, fazem escolhas relativamente a:

  • Consumo para a promoção de um estilo de vida que esteja alinhado com a sua visão de longevidade. Daí resulta uma nova categoria de consumo;
  • A forma de trabalhar - o número de horas dedicadas ao trabalho e ao lazer, com base no salário esperado e respetivas taxas de juros;
  • Idade estimada de reforma (pressupondo que as pessoas têm uma estratégia para a reforma);
  • O tempo de vida pós reforma e o seu estado provável de saúde.

Mudanças na saúde ou longevidade levam a mudanças nessas decisões económicas, permitindo-nos estimar a disposição de um indivíduo a pagar/investir nessas melhorias.

Quanto mais anos as pessoas percebem que vão viver e quanto maior a literacia para a longevidade e para o envelhecimento, maior o desejo das pessoas em investir naquilo que consideram importante para que a vida seja positiva. Mas também maior o nível de exigência das pessoas, para que tanto os agentes económicos, como políticos, deem resposta às suas necessidades.

No referido artigo, os autores, com base em dados relativos aos Estados Unidos, revelam que “uma desaceleração do envelhecimento que aumenta a expectativa de vida em 1 ano vale US$ 38 trilhões e, em 10 anos, US$ 367 trilhões. Em última análise, quanto mais progresso for feito para melhorar a forma como envelhecemos, maior será o valor de outras melhorias.”

Pelo lado dos governos e da economia privada, a consolidação tanto do aumento do tempo de vida como da baixa da natalidade, que não se estima venha a sofrer uma inversão positiva visível do ponto de vista do seu impacto económico nos próximos 15 anos, levam a que haja também a necessidade e o desejo de um investimento em:

  1. Adaptar o mundo atual aos mais velhos (urbanismo, acessibilidade, gestão energética, ergonomia dos espaços e do mobiliário, etc);
  2. Desenvolver a “indústria da longevidade” – com inovação científica no reforço do aumento do tempo de vida;
  3. Promover a mudança de mentalidade para a normalização do ser mais velho = combate ao idadismo e a valorização da pessoa mais velha;
  4. Desenvolvimento de produtos e serviços que respondam às necessidades e motivações das pessoas com 60 e mais anos de idade;

 

Criação de oferta focado no aumento da esperança de vida

Atualmente também vemos o crescimento de uma oferta (B2C, P2P, B2B2C) para aqueles que já perceberam que vão viver mais tempo e estão a mudar o consumo hoje. Aqui refiro-me em particular à geração dos 50 anos que lidera a pressão sobre as marcas e a criação de soluções que respondam às suas necessidades, ante a ausência de oferta no mercado.

A par disto, está-se também a investir na criação de uma oferta para os seniores de amanhã e aqui reside a principal e mais desafiante oportunidade de desenvolvimento económico e social. Aliás, como se vê no gráfico abaixo, este é um mercado em crescendo, se nos focarmos somente nas pessoas mais velhas e numa perspectiva de longo prazo.

Fonte: http://www.aarp.org/longevity

AARP - THE LONGEVITY ECONOMY® OUTLOOK Snapshot 2021

Um mercado em formação, como é o mercado relacionado com a longevidade, onde incluo o envelhecimento, está a ser construído com um duplo foco:

- os consumidores de hoje, quando ainda não percebemos bem o que é isto de longevidade,

- os consumidores de amanhã, quando a literacia para a longevidade já não seja necessária e quando todos soubermos bem que é a longevidade.

De acordo com o referido relatório de Outlook da AARP o aumento do tempo de vida e o consequente envelhecimento da sociedade desencadeia um crescimento exponencial em todos os setores da economia e destaca que as marcas que visem o segmento dos 50+ terão ganhos económicos grandes, ao que eu acrescento que as marcas que, no atual contexto de retração do mercado, fruto da atual crise económica, queiram pelo menos manter a sua quota de mercado, devem olhar para a longevidade como uma nova categoria de consumo.

Segundo o relatório da Oxford Economics e da AARP de 2016 – The Longevity Economy – o crescimento percentual das pessoas com 50 e mais anos de idade tem um impacto profundamente transformador e transversal a toda a sociedade.

Assim, define a economia da longevidade como o somatório de todas as atividades económicas impulsionadas pelas necessidades dos 50+, incluindo os produtos e serviços que compram diretamente e a atividade económica adicional que esse gasto gera. Ao que se soma o impacto económico do trabalho destas pessoas, destacando que um aumento do tempo de vida economicamente ativa tem um impacto positivo no consumo e por consequência na arrecadação de impostos.

Contexto: O segmento dos menos de 50 anos

Um foco que persiste nos mais novos (50-) como o grande segmento de consumo é irrealista atualmente, porque infelizmente cresce a pobreza nos mais novos, mantém-se a dependência destes em relação aos 50+.

Já em 2015 isso era verdade, veja-se novamente o exemplo dos Estados Unidos.

 

Fonte: Oxford Economics e AARP “Longevity Economy - How People Over 50 Are Driving

Economic and Social Value in the US”, 2016 pg.9

Em outro relatório da mesma fonte, Oxford Economics, é apresentado um gráfico já relativamente “famoso” que mapeia a economia da longevidade no contexto da economia global:

 

Fonte: Oxford Economics “The Longevity Economy Generating economic growth and new opportunities for business”, pg6.