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A importância de (verdadeiramente) desconectar

20/08/2019 | Susana Marvão, jornalista

Desconectar - imagem iStock Desconectar - imagem iStock

Parar. Realmente parar. E contemplar. E não interessa o prazo de entrega dos textos, ou do projeto, o preparar da marmita dos miúdos para a escola, a roupa na lavandaria, a entrega dos resultados financeiros, a prenda do sobrinho que faz anos para a semana ou o carro que já devia ter ido à oficina. Parar. Realmente parar. E contemplar. “Só” isso. Ou nem isso.

Vamos por partes: com o mundo que hoje nos é apresentado não é propriamente fácil o simples ato de parar. Porque não estamos apenas a falar da ausência de atuar, de deixar de fazer “coisas”. Estamos a falar da ausência de pensar nas coisas que temos para fazer, nas coisas sobre as quais temos de atuar.

E isto não quer dizer que estejamos a falar “apenas” em meditação. Aliás, começa logo porque definir meditação é entrar em terreno um pouco pantanoso. Porque das primeiras coisas que se aprende quando se começa a estudar o tema é que há diferentes definições de meditação, consoante a abordagem ou “escola” da qual estivermos a falar. Mas nunca será muito errado dizer que meditação é um ato de contemplação mental. Pode haver depois é vários instrumentos ou formas para lá chegar. Há a meditação budista, a Zazen, a Hare Krishna, a Transcendental, há Vipassana e Taoísta, há o Mindfulness e a sua Atenção Plena e há ainda meditação guiada, potenciada por plataformas como o Spotify ou o Youtube. E há ainda o yoga. Ou seja, não é por falta de opções que não meditamos. Que não paramos.

Miguel Vasconcelos, psicólogo clínico, apesar de mencionar que alguns estudos, nomeadamente teses de doutoramento de Harvard, aponta claramente para que todo este tipo de atividades, nomeadamente o yoga, têm um efeito positivo no equilíbrio dos níveis de tensão arterial e na taxa de colesterol, defende particularmente o seu impacto na prevenção e cura de doenças respiratórias e cardiovasculares, diabetes, ansiedade, depressão, distúrbios alimentares e problemas de coluna. “Mas numa primeira fase, creio que todos estes tipos de abordagens têm, desde logo, o efeito de nos ‘obrigar’ a termos tempo para nós. E se estivermos a falar de pessoas na pré-reforma, ou reforma, podem ser uma excelente e saudável forma de fazer a transição de uma vida de trabalho para um momento de alguma tensão que é o início da reforma”.

Meditação não é só para pessoas alternativas

Richard Branson, um dos empresários de maior sucesso no mundo, é um adepto da meditação. Jack Dorsey, CEO da Square e cofundador do Twitter, acorda às cinco da manhã para meditar. A apresentadora Oprah Winfrey acredita que a meditação está diretamente relacionada com a sua qualidade de vida, eficiência no trabalho e sensação de paz. Warren Buffett, o bilionário de 88 anos e considerado o maior investidor de todos os tempos, também cuida do corpo e da mente, enquanto Lloyd Blankfein, de 64 anos, 12 deles como diretor-executivo da Goldman Sachs, oferecia sessões de meditação e mindfulness aos seus funcionários. William Ford, de 61 anos, presidente da marca de automóveis, declarou que, durante períodos difíceis da empresa, a prática do mindfulness permitiu-lhe seguir em frente. Marc Benioff, CEO da Salesforce.com, é adepto da meditação há cerca de duas décadas.

O que é que estes nomes têm em comum para além da prática de meditação? São empresários, homens e mulheres de negócios, empreendedores e executivos. Estão longe da generalizada ideia preconcebida de que este tipo de abordagens é para pessoas mais ligadas às “artes”. De facto, ninguém fica minimamente espantado quando nomes de atores, cantores ou artistas em geral são apontados como “seguidores” da meditação mas há um generalizado “ai sim?” se dissermos que um executivo de topo de 88 anos usa a meditação para se concentrar nos negócios.

A minha meditação é melhor do que a tua

Não há meditações melhores do que outras. Não há yogas melhores do que outros. O que há, sim, é meditações ou yogas ou seja que tipo de atividade mais introspetiva for que se adapta melhor e mais facilmente a determinadas pessoas. Um dos tipos de meditação que mais adeptos tem vindo a ganhar nos últimos anos é mindfulness, traduzido para português como atenção plena. E são basicamente duas as intenções deste tipo de prática. A primeira é direcionar a atenção para o momento presente e focar a atenção no que estamos a fazer. Uma segunda intenção é a de reconhecer quando deixamos de estar atentos ao que estamos a fazer e redirecionarmos novamente o foco para o momento presente.

Carla Martins, psicóloga clínica e fundadora do Ser Integral - Centro Português de Mindfulness, explicou-nos que no mundo moderno, estamos constantemente a ser bombardeados com estímulos que nos chegam de todos os lados e que facilmente nos distraem do nosso foco. “Cada vez mais a nossa atenção se movimenta de um estímulo para o outro reforçando ligações neuronais associadas à tendência da mente vaguear. Consequentemente, há cada vez mais dificuldade em manter a concentração em apenas uma tarefa”. A prática de mindfulness tem precisamente por objetivo ajudar a fomentar circuitos neuronais associados à atenção, ao foco e à concentração.

A psicóloga esclarece ainda que a prática de mindfuless é acessível a todos. “Recebemos pessoas calmas e stressadas, ansiosas e serenas, alegres e deprimidas, saudáveis e com desequilíbrios físicos, homens e mulheres, crianças, adolescentes, adultos e seniores – e todos, sem exceção, conseguem fomentar esta capacidade de estar no momento presente! Para uns poderá ser mais fácil e haver menos desafios na aprendizagem, mas independentemente da experiência individual de cada um, todos conseguem aprender e experienciar esta arte de viver no momento presente”.

PS: Já agora, só como nota de rodapé, o artigo foi escrito ao som do “The Tower of Embelion”, de Muni Yogi, em loop.

 

Três apps para relaxar e meditar

Headspace

O Headspace é uma das aplicações mais populares entre a oferta de apps de meditação. Conhecida por ser “a app de meditação para a vida moderna” e criada por um monge budista inglês, Andy Puddicombe, permite realizar sessões guiadas de dez minutos. O único inconveniente é só estar disponível em inglês. Há versão gratuita que ensina o básico da meditação.

Aura

Aplicação bastante premiada internacionalmente, sobretudo pela qualidade e simplicidade do seu serviço, mas também por ser uma aplicação em que a Inteligência Artificial, é a tecnologia usada para recomendar as narrações mais adequadas. A IA baseia-se no estado de espírito do utilizador e em algumas perguntas realizadas, propondo meditações guiadas de três minutos por dia para reduzir o stress e tornar os utilizadores mais positivos na vida. A versão gratuita permite apenas o seu uso durante sete dias.

Calm

Eleita a app do ano em 2017 pela Apple, conta com uma grande variedade de programas, esta aplicação foi desenhada com a intenção de ajudar a reduzir a ansiedade, dormir melhor e, em última instância, ser mais feliz. Mas é a pagar. As últimas atualizações incluem um conjunto de músicas mindfulness para relaxar. Está disponível em inglês e espanhol. O custo é de 9,99 euros por mês.