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As projeções para o futuro da população mundial apontam para um aumento significativo das mulheres, principalmente nas gerações mais velhas (assumo as gerações acima dos 40/45 anos de idade). Isto quer dizer que nas próximas décadas teremos mais mulheres maduras no mercado de trabalho, proporcionalmente ao número de homens. Mas sobretudo, teremos mais mulheres em idade da menopausa, devido ao aumento da esperança média de vida, leia-se da longevidade.
Segundo dados da Pordata, num espaço de 20 anos o número de mulheres na população portuguesa passou de 5.344.316 (2000) para 5.439.503 (2020), um aumento de 95.187 mulheres. Atualmente temos cerca de 816.539 mulheres em Portugal com idades entre os 45 e os 55 anos de idade – intervalo etário médio da menopausa para as mulheres nos países ocidentais.
Este facto levanta algumas questões relacionadas com os efeitos provocados pela menopausa e que afetam profundamente a vida das mulheres e a forma como se sentem, como convivem com os outros e, mais especificamente, a sua produtividade e forma de estar no contexto de trabalho. Temas complexos, sem dúvida.
Daquilo que tem sido a minha experiência (porque também já me encontro em menopausa), da experiência de outras mulheres com quem convido e com quem falo, a nível profissional, há um profundo desconhecimento sobre o que é a menopausa. Tanto nas alterações que acarreta como na diversidade de reações que as mulheres têm, porque não há uma uniformidade neste processo que começa e termina de forma gradual.
Para além de muitas de nós só nos darmos conta de que estamos na peri, ou na menopausa, quando sentimos de forma mais acentuada os seus efeitos (calores e a dificuldade em dormir são os mais comuns, da minha experiência), alguma investigação sobre a longevidade e a menopausa mostra que temos mulheres a entrarem e a saírem mais tarde, da menopausa. Ainda vivemos num tempo em que a mulher é discriminada, no seu local de trabalho, ainda mais quando ocupa um posto de grande destaque e de liderança. A sociedade não está acostumada a ver uma mulher suar durante uma reunião, a ter dificuldade em se concentrar ou a perder o autocontrole, fruto desta alteração hormonal que não controla.
Em janeiro deste ano, o tema da discriminação das mulheres menopausicas no trabalho foi abordado no podcast “Is the menopause a workplace issue?”e mais tarde levado ao Parlamento Europeu por um grupo de deputados do Grupo da Aliança Progressista dos Socialistas e Democratas no Parlamento Europeu, no documento “Addressing menopause as a workplace issue and preventing discrimination of women of menopausal age”.
Para perceber melhor o potencial de discriminação feminina, fui ver quais as principais consequências da menopausa e elenco aqui com o intuito de contribuir para a reflexão de todos, mulheres e homens:
Parece-me que fica bastante clara a pertinência do tema em contexto laboral.
De acordo com o que foi apresentado ao Parlamento Europeu, não tem havido grande reflexão sobre o tema no âmbito das discussões sobre a longevidade e o envelhecimento das populações.
No documento que referi pode ler-se que “embora a ação política relacionada ao envelhecimento da população tenha ganhado destaque e seja intensamente discutida na UE, o tema da menopausa no local de trabalho permanece amplamente invisível nos discursos públicos e políticos, abrindo a porta para o tratamento desigual e a discriminação contra as mulheres.
Limitar a menopausa a uma esfera médica e privada, e a incapacidade de abordar a menopausa como uma questão no local de trabalho, estão cada vez mais a conduzir a uma proteção insuficiente das trabalhadoras e à saída precoce das mulheres do mercado de trabalho, aumentando assim o risco de dependência económica, pobreza e exclusão social das mulheres.”
Estas formas de exclusão vão contribuir para uma progressiva perda de conhecimento e de expertise, o que diminui o valor destas pessoas no mercado de trabalho. Por isso é premente colocar o tema em debate, mas principalmente em fóruns de liderança, de pessoas que ativamente podem contribuir para uma mudança positiva de mentalidades.