A longevidade, a tecnologia e a inclusão social

As atividades são cada vez mais digitais. E as pessoas de todas as faixas etárias são ativas e presentes no universo digital, o que inclui a utilização das redes sociais, das aplicações, compras online, consultas aos sites de notícias e informação, e mesmo a formação online, o que contribui para uma maior inclusão digital e como consequência, também para um aumento da inclusão social.

Alguns dados demográficos:

A população mundial com mais de 65 anos tem registado um crescimento de 3% nos últimos anos, estando previsto chegar a 1,4 mil milhões em 2030, de acordo com a ONU.

O que se passa em Portugal:

No caso de Portugal, e segundo os dados do INE de 2019, referentes a população residente, são cerca de mais de 2 milhões, as pessoas com 65 ou mais anos, representando 22.1% do total da população. Para termos ideia do crescimento, o número de pessoas com mais de 64 anos, aumentou cerca de 638 mil em 20 anos, tendo na altura um peso de 16.0% da população. Isso significa que o peso deste grupo etário subiu cerca de 6.1 pontos percentuais entre 1999 e 2019, estimando-se que continue a aumentar o seu peso na população portuguesa nos próximos anos a semelhança das projeções globais.

Dados de utilização da Internet em Portugal:

Em 2020, e segundo o INE, 84,5% dos agregados familiares em Portugal tinham ligação à internet em casa e 81,7% utilizavam ligação através de banda larga, o que representa um aumento significativo, de mais 3,6%, em relação ao ano de 2019.

No contexto da pandemia, a percentagem de utilizadores de internet aumentou 3% em relação ao período homólogo de 2019. A população dos 16 aos 74 anos que utilizou a internet fez principalmente para comunicar e aceder a informação, mas foram sobretudo as atividades relacionadas com aprendizagem as que registaram maior aumento em 2020.

Interessante é também verificar o aumento do peso das compras online, feitas pelos consumidores de maior idade, os denominados seniores. que, até recentemente ficavam à margem do comércio eletrónico, e que começaram a efetuar compras online impulsionados pelo contexto pandémico que vivemos.

Segundo o Observatório de Tendências, um inquérito desenvolvido pelo Grupo Ageas Portugal e a Eurogroup Consulting Portugal, a compra online teve um maior crescimento na população entre os 18 e os 24 anos, com 70% dos jovens a admitirem ter feito mais compras online, enquanto para a população com mais de 55 anos, 47% refere que aumentou o consumo através dos canais digitais. Os inquiridos do sexo feminino, bem como aqueles que apresentam um maior nível de rendimento são também aqueles entre os quais houve um maior aumento das compras online.

Segundo refere o observatório, embora se antecipe a manutenção da tendência de crescimento do comércio online, 66% dos inquiridos consideram realizar compras de forma mista no futuro, alternando entre os canais digitais e os espaços físicos. Apenas 16% consideram voltar às lojas físicas como fonte principal das suas compras. Os mais jovens estão mais propensos a privilegiar a compra online (2.5 vezes mais do que os seniores), uma tendência que diminui diretamente com a idade.

A importância do digital para aumentar a inclusão social:

A utilização dos canais e ferramentas digitais, tornaram-se particularmente importantes para:

• minimizar o distanciamento físico (o que foi realmente chave durante o momento mais forte de isolamento da pandemia),
• manter contato com familiares e amigos;
• Fazer novas aprendizagens e habilidades.

Cada vez se fala mais da aprendizagem ao longo da vida, bem como da necessidade de uma sociedade mais participativa e interventiva.

As tecnologias são sem dúvida ferramentas facilitadores desse processo, ampliado o acesso a novos conhecimentos nas várias áreas e permitindo contribuir para um maior e melhor envelhecimento ativo, potenciando também a maior autonomia.

Projetos que visam promover a inclusão digital

Surgiram assim uma série de projetos com o objetivo de trabalhar a inclusão digital das faixas etárias com menos propensão à utilização deste tipo de ferramentas de comunicação. Citamos aqui 4 exemplos:

• Projeto Nós e os A(vós) que consiste em sessões de Literacia Digital para pessoas com mais de 65 anos, dinamizadas pelos alunos e supervisionadas por voluntários e/ou professores. Um projeto intergeracional, e uma Iniciativa de Empreendedorismo e Inovação Social (IIES) pensada pela Sicó Formação S.A., entidade proprietária da Escola Tecnológica e Profissional da Sicó (ETP Sicó) e apoiada deste o primeiro minuto pela Junta de Freguesia de Avelar e pela empresa Leca Portugal, S.A., enquanto Investidores Sociais.
• ICTskills4All - tem como objetivo explorar e testar práticas pedagógicas inovadoras e eficientes para o design e desenvolvimento de cursos e conteúdos educativos, direcionando-se à aquisição de competências digitais entre a população com mais de 55 anos cujas aptidões neste domínio sejam reduzidas. Representou um contributo para melhorar a qualidade de vida e autonomia do cidadão sénior, visando o impacto positivo no setor da formação de adultos e seniores em ambientes digitais e acompanhando as tendências atuais do setor educativo e da sociedade de informação.
• Centro de Inclusão Digital – Cyber Sénior tem como objetivo criar e dinamizar atividades educativas bem como a interação com jovens estudantes, num contexto de formação ao longo da vida, potenciando a aprendizagem das novas tecnologias para a utilização futura de serviços de teleassistência no domicílio.
• Universidades da terceira idade são igualmente outra forma de aumentar a inclusão digital através dos cursos de tecnologias de informação que ajudam a aumentar a literacia digital e aproximar as gerações gerando uma maior inclusão social.

É cada vez mais importante a adoção destas ferramentas de comunicação, que nos permitem ao longo da nossa vida ter acesso a outras comunidades, fontes de informação e de aprendizagem, diminuindo as distâncias e permitindo uma maior inclusão social. Preparados?