Afinal, o que é a idade? | Dar vida aos anos

Introduza o seu e-mail

Afinal, o que é a idade?

20/10/2021 | Cidália Aguiar - Reporter 60+

O que é a idade e como podemos aproveitar a reforma Foto: Cidália Aguiar O que é a idade e como podemos aproveitar a reforma Foto: Cidália Aguiar

Com mais de 43 anos como docente no ensino secundário, nos quais desempenhei muitos cargos pedagógicos, decidi reformar-me. Os motivos por que o fiz têm a ver com as mudanças que o tempo presente impõe no estatuto do professor e algum desencanto. A decisão foi despoletada com o advento da pandemia.

Cerca de nove em cada dez professores admitem querer reformar-se de imediato, se tal oportunidade lhes fosse proporcionada.

No meu caso, já tinha ultrapassado o tempo necessário para tal, e estávamos há dois meses em aulas online devido aos surtos pandémicos. Tinha a minha oportunidade, agarrei-a sem pensar muito.

Contudo, tal ideia já estava amadurecida há algum tempo. É ainda durante a vida ativa que um professor deve preparar a passagem para a reforma.

Tive desde sempre outros interesses:

  • a pintura,
  • o desenho
  • a escrita.

Para preparar a transição realizei, cerca de 2 anos antes, um curso de fotografia e integrei-me num grupo de fotógrafos, fazendo tertúlias semanalmente, assim como no grupo Urban Sketchers.

A reforma chegou em onze dias. Apesar de ter pensado e preparado este processo, fiquei abalada pela notícia, pois esperava num prazo otimista, que demorasse quatro a cinco meses… Com o facto consumado, tratei de dar trabalho aos portáteis, às tintas e pincéis, à máquina fotográfica e manter um ritmo de trabalho que não mais parou até agora.

E assim, ao fim de três dias tinha ultrapassado o “choque”.

A reforma e o tempo para novas rotinas:

Com a reforma, ganhei tempo para outras coisas.

Sinto-me mais livre para outras atividades.

As formações online foram uma constante e novos desafios foram aparecendo. Vou aceitando todos com agrado e entusiasmo.

O que senti que era importante era manter-me sempre com muita atividade.

Rejeito ver a reforma apenas como um momento difícil. Tem que ser um momento vivido como uma passagem para um resto de vida, muito rico em ações.

Defendo que é preciso encontrar estratégias para que antigos professores, se assim o desejarem, possam continuar a contribuir, com a experiência acumulada, para aquilo que fizeram. Há projetos possíveis de levar a cabo dentro das escolas, em regime voluntário, mas nem sempre há grande recetividade.

A reforma: o que pode ser, na minha opinião 

A meu ver, a reforma não significa um ponto de partida para o envelhecimento. Nem para a vivência de alguns anos de descanso.

Para muitos, significa o início de um novo ciclo ou de um novo projeto.

O fundamental é que a pessoa consiga redefinir um lugar para si, onde se sinta satisfeita e realizada tanto social como pessoalmente.

A identidade pessoal persiste e evolui independentemente da passagem à reforma, uma vez que há uma expansão dos papéis anteriores e desenvolvimento de novos papéis, de forma a canalizar o tempo livre em atividades e projetos diversificados.

Concordo com Mia Couto quando questiona:

Afinal, o que é a idade? Quando eu era jovem uma pessoa de 50 anos era velha. Eu tenho 60 e apenas em certos momentos percebo que me pesa a idade. É por uma atitude interior, uma vitalidade que se alcança pela capacidade de fazer amigos, de amar e ser amado e de ser dono do sentido de tempo.”

Eu acrescentaria: manter a atividade, ter sonhos, realizar projetos e continuar a aprender.

 

Cidália Aguiar é uma Reporter 60+. Saiba o que é, aqui na nossa entrevista com Silvia Triboni