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A fratura do colo do fémur ocorre, geralmente, na sequência de uma queda. É muito frequente entre as pessoas de idade mais avançada e tem elevados índices de mortalidade e de morbilidade associados. Tal deve-se não apenas à fratura, mas também às consequências que esta tem na vida destas pessoas que, muitas vezes, já se encontram debilitadas.
A Dra. Sofia Duque, médica especialista em medicina interna, no Hospital São Francisco Xavier, explica que uma pessoa mais velha que acidentalmente frature o colo do fémur «apresenta um elevadíssimo risco de deterioração da sua capacidade funcional, muitas vezes desenvolvendo uma incapacidade irreversível. Apresenta um aumento do risco de mortalidade, um aumento da duração do internamento, um aumento dos custos de saúde e sociais, um aumento do risco de institucionalização e de diminuição da qualidade de vida». Isto porque, habitualmente, estamos a falar de doentes que apresentam «situações médicas complexas, desafiantes e difíceis de tratar e um elevado risco de complicações peri-operatórias que podem comprometer o sucesso da cirurgia e os resultados clínicos».
Esta foi a realidade que levou à criação da Unidade de ortogeriatria do Hospital Francisco Xavier e destinada a tratar pessoas idosas com fratura do colo do fémur.
«Se desejamos o sucesso do tratamento o que implica naturalmente recuperar a capacidade de marcha, recuperar a autonomia, idealmente voltar ao domicílio então é consensual que operar bem, não chega!» Com efeito, «são várias as organizações internacionais que afirmam que todos os doentes com uma fratura de fragilidade devem ser abordados numa enfermaria ortopédica, com acesso por rotina a suporte ortogeriátrico», referiu a Dra. Sofia Duque, que falava durante a sétima sessão do Simpósio InterAções, no dia 3 de março.
No entanto, «a ortogeriatria não está disseminada no nosso país, ao contrário do que acontece em outros países da Europa», reconheceu a especialista. «Em Portugal a abordagem tradicional das pessoas idosas com fratura do colo do fémur acontece em enfermarias de ortopedia e que têm apoio da medicina interna após chamada ou, na melhor das hipóteses, por rotina quando há um internista a tempo inteiro. Isto muitas vezes resulta numa intervenção tardia e em priores resultados em saúde», concluiu.
Diferentemente, na ortogeriatria o internamento também acontece em enfermarias de ortopedia, mas «há um acompanhamento contínuo de todos os doentes idosos pela geriatria desde o primeiro dia de internamento e até depois da alta hospitalar». São cada vez mais os estudos internacionais que mostram que este modelo clínico de co-gestão do doente, partilhado entre a ortopedia e a geriatria, «a ortogeriatria resulta em melhores resultados clínicos».
«O segredo da ortogeriatria é que ela resulta da existência da interdisciplinaridade e da decisão partilhada e tomada entre todos os profissionais de saúde, por forma a desenvolver uma resposta multidisciplinar e centrada no doente».
Neste modelo clínico da ortogeriatria compete ao geriatra a avaliação clínica diária, «o seguimento do doente dia após dia», explicou a Dra. Sofia Duque. Mas é também da sua competência a integração e a articulação dos cuidados prestados pelos vários profissionais de saúde, bem como a comunicação com os doentes, com as famílias, com os cuidadores na clarificação de procedimentos e na gestão de expectativas. E, desde o primeiro dia, compete-lhe também o planeamento da alta e que pode, naturalmente, incluir cuidados domiciliários, reabilitação e/ou a avaliação das necessidades sociais.
Entre as vantagens da ortogeriatria, a Dra. Sofia Duque destaca a «diminuição do tempo entre a admissão hospitalar e a cirurgia, mas também a diminuição do tempo de internamento, das complicações peri-operatórias, da mortalidade e da morbilidade». E ainda «a diminuição da deterioração/declínio funcional e cognitivo; a aceleração da recuperação funcional; a diminuição de quedas e fraturas; e a diminuição dos custos».
Sofia Duque, do Hospital Francisco Xavier, Vitória Cunha, do Hospital Garcia de Orta; Maria Manuela Marques, da Santa Casa da Misericórdia de Lisboa; António Martins, do Hospital Ortopédico de Sant´Ana foram os oradores convidados da sessão ‘Do hospital à comunidade: estratégias de efetivação da continuidade dos cuidados’, moderada por Mário Rui André, Diretor da Unidade de Missão da Santa Casa da Misericórdia de Lisboa.
Uma sessão integrada na 3ª Edição do Simpósio Interações – Uma Sociedade para Todas as Idades, organizado pela Unidade de Missão ‘Lisboa Cidade de Todas as Idades’ da Santa Casa da Misericórdia de Lisboa.
Esta foi a sétima sessão de um conjunto de 16 sessões, todas com transmissão online e gratuitas, sempre às quartas-feiras, com início às 14h30.
Saiba mais AQUI sobre esta iniciativa. E não deixe de ver ou rever a sessão completa no canal do Youtube da SCML.