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Conceito vasto, a autoestima é essencial ao longo de toda a vida. A psicoterapeuta Conceição Almeida explica, em entrevista, que estamos perante algo inerente à condição humana e que temos de fazer um esforço por trabalhar a autoestima, independentemente do escalão etário em que nos encontremos e que nunca devemos desistir de nós próprios, mantendo o gosto de viver. “A autoestima tem a ver com sentirmo-nos bem dentro da nossa pele. Realizarmos os nossos desejos. Termos projetos de vida. Sermos relativamente importantes para alguém, no sentido da atenção, da preocupação e da ternura”, refere Conceição Almeida.
O que podemos esperar em relação à autoestima à medida que os anos passam?
O conceito de autoestima é muito vasto. É inerente à condição humana, pois não vivemos bem sem autoestima, mas é muito subjetivo. A autoestima tem a ver com sentirmo-nos bem dentro da nossa pele, realizarmos os nossos desejos, termos projetos de vida e sermos relativamente importantes para alguém, no sentido da atenção, da preocupação e da ternura. Pode ser um filho, um pai, um vizinho, um familiar afastado ou até um animal de companhia, mas este aspeto de relação com o outro é muito importante neste sentimento de autoestima. A autoestima pode estar relacionada com a beleza e aqui com uma clara distinção entre o interior e o exterior. A beleza exterior, sobretudo nas zonas mais cosmopolitas, é um pouco facilitada, mesmo para pessoas de menos recursos económicos, dado que a gama de cosméticos e produtos de beleza é abrangente. O problema é que há muitas pessoas que desistem de si a partir de uma certa idade. As mulheres entram na menopausa e, além dos cabelos brancos, passam também a deixar tudo em branco: o corpo, a roupa, os interesses… fecham-se em casa. Pelo contrário, outras pessoas também se esquecem de si porque têm imensas exigências familiares e, com as dificuldades económicas que o nosso país atravessou, muitos avós passaram a ser o sustento de filhos e netos, o que levou a esse desinvestimento das pessoas em si. Se no século XX a criança foi o centro das atenções sociais, no século XXI será a pessoa dos escalões etários mais avançados o centro de referência dos grandes investimentos da comunicação social, da ciência, da psicoterapia, da comunidade em geral.
Isto tem muito a ver com a evolução demográfica das sociedades economicamente mais desenvolvidas.
O meu interesse por esta área surgiu porque, enquanto psicoterapeuta, comecei, há dez anos, a ser procurada por pessoas dos escalões etários mais avançados. Era uma variável que não entrava na nossa prática clínica e, como também faço terapia de casal, comecei a ser procurada por casais que estavam desentendidos por entrarem na reforma e se encontrarem na mesma casa. Para grande espanto meu, há vários casos de divórcio depois dos 60 anos. Além disso, tenho observado que as pessoas refazem as suas vidas. Hoje, as pessoas têm muitos locais de encontro informais, como as redes sociais, mas também em comunidades como as universidades seniores ou as associações de voluntariado. Se a pessoa cuidar de si e estiver bem consigo…
Nesta questão da autoestima também é, claro, importante o exercício físico.
É essencial. E também aqui não é forçoso ter poder de compra. Há academias, associações, juntas de freguesia e câmaras municipais que têm oferta que facilita essa atividade. À medida que as nossas células vão envelhecendo, se não forem ativadas por experiências, a parte desses mesmas células que faz a ligação com outras células vai envelhecendo também. Isso faz com que a capacidade cognitiva e afetiva vá diminuindo.
A perda da autoestima gera muitas vezes, depressões e apatia. Caso a pessoa tenha dificuldades, é importante pedir ajuda profissional. Por onde começar?
A ajuda profissional deve começar sempre pelo médico de família. Os médicos de família têm uma tarefa hercúlea, porque são a procura primária das pessoas com idade mais avançada. Estes profissionais têm muitos utentes e esta faixa etária tem muitas solicitações. As USF [unidades de saúde familiar], hoje, têm assistentes sociais, enfermeiros e psicólogos, a quem são sinalizadas as pessoas com mais dificuldades relacionais e pessoais para terem ajuda, o que pode permitir reduzir o número de consultas médicas. Além disso, há associações de psicoterapia com bolsas sociais, onde há consultas a 25-30 euros, o que facilita o acesso. Na Associação Portuguesa de Psicanálise e Psicoterapia Psicanalítica temos essa oferta, com grande procura. Mas há oferta em vários quadrantes da sociedade.
Que estratégias podemos adotar para poder manter ou aumentar essa autoestima?
Há um estudo de um autor americano chamado Willis que é preditivo da qualidade de vida nos escalões etários mais avançados. O autor coloca como primeiro paradigma ter moderação em tudo (tabaco, álcool, determinados alimentos, de falta de exercício físico, da qualidade do sono, etc.). O segundo paradigma é a manutenção do nível funcional cognitivo (manter a inteligência fluída, isto é, vemos uma telenovela, por exemplo, mas depois associamos as personagens da telenovela com aspetos da nossa vida), procurar saber sobre o máximo de coisas possíveis, incluindo das questões dos novos saberes tecnológicos, mas também fazer outro tipo de manifestações, como cultura ou viagens.
Não é uma questão de nos mantermos jovens, é uma questão de nos mantermos com gosto de viver. Esse é o primeiro passo. Outro é mantermos laços sociais. Não importa se são de família ou não, o importante é desenvolver esses laços sociais.
Conceito vasto, a autoestima é essencial ao longo de toda a vida. A psicoterapeuta Conceição Almeida explica, em entrevista, que estamos perante algo inerente à condição humana e que temos de fazer um esforço por trabalhar a autoestima, independentemente do escalão etário em que nos encontremos e que nunca devemos desistir de nós próprios, mantendo o gosto de viver. “A autoestima tem a ver com sentirmo-nos bem dentro da nossa pele. Realizarmos os nossos desejos. Termos projetos de vida. Sermos relativamente importantes para alguém, no sentido da atenção, da preocupação e da ternura”, refere Conceição Almeida.
O que podemos esperar em relação à autoestima à medida que os anos passam?
O conceito de autoestima é muito vasto. É inerente à condição humana, pois não vivemos bem sem autoestima, mas é muito subjetivo. A autoestima tem a ver com sentirmo-nos bem dentro da nossa pele, realizarmos os nossos desejos, termos projetos de vida e sermos relativamente importantes para alguém, no sentido da atenção, da preocupação e da ternura. Pode ser um filho, um pai, um vizinho, um familiar afastado ou até um animal de companhia, mas este aspeto de relação com o outro é muito importante neste sentimento de autoestima. A autoestima pode estar relacionada com a beleza e aqui com uma clara distinção entre o interior e o exterior. A beleza exterior, sobretudo nas zonas mais cosmopolitas, é um pouco facilitada, mesmo para pessoas de menos recursos económicos, dado que a gama de cosméticos e produtos de beleza é abrangente. O problema é que há muitas pessoas que desistem de si a partir de uma certa idade. As mulheres entram na menopausa e, além dos cabelos brancos, passam também a deixar tudo em branco: o corpo, a roupa, os interesses… fecham-se em casa. Pelo contrário, outras pessoas também se esquecem de si porque têm imensas exigências familiares e, com as dificuldades económicas que o nosso país atravessou, muitos avós passaram a ser o sustento de filhos e netos, o que levou a esse desinvestimento das pessoas em si. Se no século XX a criança foi o centro das atenções sociais, no século XXI será a pessoa dos escalões etários mais avançados o centro de referência dos grandes investimentos da comunicação social, da ciência, da psicoterapia, da comunidade em geral.
Isto tem muito a ver com a evolução demográfica das sociedades economicamente mais desenvolvidas.
O meu interesse por esta área surgiu porque, enquanto psicoterapeuta, comecei, há dez anos, a ser procurada por pessoas dos escalões etários mais avançados. Era uma variável que não entrava na nossa prática clínica e, como também faço terapia de casal, comecei a ser procurada por casais que estavam desentendidos por entrarem na reforma e se encontrarem na mesma casa. Para grande espanto meu, há vários casos de divórcio depois dos 60 anos. Além disso, tenho observado que as pessoas refazem as suas vidas. Hoje, as pessoas têm muitos locais de encontro informais, como as redes sociais, mas também em comunidades como as universidades seniores ou as associações de voluntariado. Se a pessoa cuidar de si e estiver bem consigo…
Nesta questão da autoestima também é, claro, importante o exercício físico.
É essencial. E também aqui não é forçoso ter poder de compra. Há academias, associações, juntas de freguesia e câmaras municipais que têm oferta que facilita essa atividade. À medida que as nossas células vão envelhecendo, se não forem ativadas por experiências, a parte desses mesmas células que faz a ligação com outras células vai envelhecendo também. Isso faz com que a capacidade cognitiva e afetiva vá diminuindo.
A perda da autoestima gera muitas vezes, depressões e apatia. Caso a pessoa tenha dificuldades, é importante pedir ajuda profissional. Por onde começar?
A ajuda profissional deve começar sempre pelo médico de família. Os médicos de família têm uma tarefa hercúlea, porque são a procura primária das pessoas com idade mais avançada. Estes profissionais têm muitos utentes e esta faixa etária tem muitas solicitações. As USF [unidades de saúde familiar], hoje, têm assistentes sociais, enfermeiros e psicólogos, a quem são sinalizadas as pessoas com mais dificuldades relacionais e pessoais para terem ajuda, o que pode permitir reduzir o número de consultas médicas. Além disso, há associações de psicoterapia com bolsas sociais, onde há consultas a 25-30 euros, o que facilita o acesso. Na Associação Portuguesa de Psicanálise e Psicoterapia Psicanalítica temos essa oferta, com grande procura. Mas há oferta em vários quadrantes da sociedade.
Que estratégias podemos adotar para poder manter ou aumentar essa autoestima?
Há um estudo de um autor americano chamado Willis que é preditivo da qualidade de vida nos escalões etários mais avançados. O autor coloca como primeiro paradigma ter moderação em tudo (tabaco, álcool, determinados alimentos, de falta de exercício físico, da qualidade do sono, etc.). O segundo paradigma é a manutenção do nível funcional cognitivo (manter a inteligência fluída, isto é, vemos uma telenovela, por exemplo, mas depois associamos as personagens da telenovela com aspetos da nossa vida), procurar saber sobre o máximo de coisas possíveis, incluindo das questões dos novos saberes tecnológicos, mas também fazer outro tipo de manifestações, como cultura ou viagens.
Não é uma questão de nos mantermos jovens, é uma questão de nos mantermos com gosto de viver. Esse é o primeiro passo. Outro é mantermos laços sociais. Não importa se são de família ou não, o importante é desenvolver esses laços sociais.