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Sabemos que em Portugal os rendimentos são mais baixos do que na média dos países da União Europeia e, por isso, também não espanta que as pensões o sejam. Porém, mais relevante poderá ser a dimensão do “choque financeiro” associado com a passagem à reforma. Além do elemento financeiro, tem de existir capacidade de saúde para esse envelhecimento ativo.
Para uma primeira incursão nestas duas dimensões, o SHARE – Survey on Health, Ageing and Retirement in Europe permite comparar países europeus. Estas comparações têm sempre alguma arbitrariedade, pois as condições e regras existentes num país não são iguais às de outro. Ainda assim, há aspetos interessantes que resultam de as fazer.
Olhemos primeiro para o “choque financeiro” da passagem à situação de reforma. Apesar de os dados SHARE fazerem um acompanhamento de uma amostra da população ao longo dos anos, a informação sobre o rendimento líquido do agregado familiar é delicada, por questões metodológicas. Para lidar com essas dificuldades, calculou-se o rácio entre rendimento médio das pessoas de cada idade (para 65 anos e mais) e o rendimento médio dos trabalhadores com idades entre os 60 e os 64 anos. Quanto mais baixo for este rácio, mais forte é, presumivelmente, o choque financeiro da reforma (e ao mesmo tempo, permite comparar países com salários e pensões elevados com países com salários e pensões mais baixos). Neste aspeto, os residentes em Portugal sofrem um efeito relativo menor do que muitos dos residentes nos demais países, em particular para as pessoas que se reformaram há menos tempo. (Suíça, Dinamarca, Suécia, Alemanha e Espanha têm um “choque” maior.)
Por outro lado, os dados SHARE de 2011 e 2015, anos de participação nacional, confirmam que a carga de doenças crónicas depois dos 65 anos é maior em Portugal do que na generalidade dos outros países. Também num indicador de saúde mental (CASP, para análise de qualidade de vida), os residentes em Portugal estão pior, quer em 2011 quer em 2015, do que na generalidade dos europeus.
Significa, no contexto das questões acima colocadas, que o desafio para uma vida melhor depois dos 60 anos não estará associado apenas, ou primordialmente, aos aspetos financeiros (pensões e fontes de rendimento). Há uma preparação anterior a ser feita, cuja ausência não consegue ser compensada com a parte financeira. Especialistas na área do envelhecimento já têm defendido esta ideia, corroborada aqui por dados que colocam em contraste as condições de saúde e o “choque de rendimento” à idade de reforma.
Conclusão a reter: o envelhecimento ativo deve ser preparado décadas antes dos 60 anos.