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A esperança de vida média aumentou de forma contínua ao longo das últimas décadas em Portugal. Entre 1960 e 2016, passou de 60,7 para 77,7 anos nos homens e de 66,4 para 83,4 anos nas mulheres. Em boa parte, esta evolução deve-se à redução de mortalidade por doenças cardiovasculares. Maior literacia em saúde e maior acesso aos cuidados de saúde primários têm permitido a sensibilização para estilos de vida mais saudáveis e para o controlo dos chamados fatores de risco cardiovascular: obesidade, sedentarismo, hipertensão, níveis elevados de colesterol, diabetes, consumo excessivo de álcool e tabagismo (este último, nunca é de mais lembrar, continua a ser a principal causa de morte evitável em todo o mundo). Estes são os fatores que aumentam a probabilidade de se sofrer um enfarte agudo do miocárdio ou um acidente vascular cerebral.
Outrora frequentemente fatais, estes eventos podem agora ser tratados sem que fiquem grandes ou nenhumas sequelas, desde que haja acesso rápido a cuidados médicos adequados. Por tudo isto, estamos a evitar mortes prematuras, vivemos mais tempo. Consequentemente, confrontar-nos-emos cada vez mais com o derradeiro fator de risco cardiovascular: o envelhecimento.
Com o passar dos anos, ocorrem alterações relacionadas com o próprio processo de envelhecimento do sistema cardiovascular, as quais podem ser potenciadas pelo mau controlo destes fatores de risco. Algumas das mais comuns são a hipertensão sistólica isolada (apenas a “máxima” está aumentada e a “mínima” até pode estar baixa, por perda da elasticidade das artérias), a insuficiência cardíaca por deficiente capacidade de relaxamento do músculo cardíaco (e não por deficiência da contração), as bradiarritmias (o coração bate demasiadamente devagar) e a estenose valvular aórtica (a válvula através da qual o coração bombeia o sangue, desgasta-se e abre mal).
A medicina, apoiada por avanços tecnológicos, vai encontrando soluções. Colocam-se pacemakers, cada vez mais sofisticados (que fazem o coração bater a um ritmo adequado e/ou de forma mais eficaz), e colocam-se válvulas aórticas em substituição das doentes, através de um cateterismo, evitando-se uma cirurgia convencional que, em idades mais avançadas, pode ter um risco excessivo.
Para termos o “privilégio” de envelhecer, há que controlar os fatores de risco desde que somos jovens e sem doença. Para atrasar o próprio envelhecimento, fármacos e suplementos alimentares dirigidos ao chamado stress oxidativo e inflamação, vêm sendo testados, até à data, com resultados inconsistentes. O que tem benefício comprovado é o exercício físico regular (privilegiar exercícios simples e de que se goste, como caminhar, andar de bicicleta ou, por exemplo, dançar) e uma dieta equilibrada com restrição calórica e baixo teor de açúcares. Tudo isto sem esquecer a importância de se preservarem e cultivarem as relações familiares e sociais, combatendo o isolamento progressivo. Isso comprovadamente também reduz a mortalidade e o risco cardiovascular.