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A pensar neste grande desafio que é a longevidade e o envelhecimento da população, partilho convosco uma história, que a minha avó me contava na minha infância, acerca de um costume em que os filhos levariam os pais velhos, que já não podiam trabalhar, para o cimo de um monte onde ficavam sozinhos, para morrer à míngua. Certa vez um jovem ao abandonar o pai no destino deu-lhe uma manta para que se abrigasse do frio até a hora da morte. E este perguntou; Tens por acaso uma faca contigo? Tenho, respondeu o filho perplexo. Para que a quer? Para que a cortes ao meio e leves metade para ti, para o dia em que o teu filho te trouxer para este lugar. O rapaz ficou pensativo, tomou o pai às costas e voltou com ele para casa, fazendo assim, com que o horrível costume desaparecesse para sempre.
A propósitos dos avós, e do processo de envelhecimento, recordei esta fábula e do quanto eu gostava que a minha avó ficasse a cuidar de nós quando os meus pais viajavam. A verdade é que ao longo das nossas vidas muitas são as fases e estatutos por que passamos, quer pessoais quer profissionais, onde assumimos papéis em que somos cuidados ou em que somos cuidadores.
E se é inquestionável na nossa vida, o prazer em cuidar de um bebé, tomar conta dos nossos pais ou de familiares mais velhos é uma tarefa menos consensual, mas tão ou mais importante. É a ordem natural da vida, ou pelo menos, deveria ser. Poder retribuir a quem tanto nos deu ao longo da vida, da mesma forma, com o mesmo gozo e com a mesma capacidade de entrega que fomos recebendo ao sermos cuidados, deveria ser um privilégio.
Ser cuidador é sem dúvida uma atividade que pode ser de grande exigência, que obriga a uma enorme disponibilidade a vários níveis. Para além de algum tipo de conhecimento, exige uma capacidade grande de escuta, de entrega, muita persistência e resiliência e acima de tudo, uma grande humanidade e amor ao próximo.
Ser cuidador é ser responsável por alguém, ou seja cuidar, tratar e apoiar. Esta humanidade e capacidade de entrega deve ser cada vez mais promovida e valorizada. Seja ela formal ou informal. Devemos ter atenção aos outros, a quem nos rodeia e se cruza connosco, podendo ter um papel mais presente e ativo na sociedade e no cuidado dos outros, para que e também, quando chegar a nossa altura, possamos ser cuidados com todo o carinho e entrega de quem soube cuidar. Vamos a isso?