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Comecemos pelo fim: ainda fará sentido comprar automóveis? Nas cidades, a tendência será cada vez mais para utilizar o automóvel como um serviço, em detrimento de os utilizadores serem proprietários do bem. O tempo e dinheiro que se perdem nos engarrafamentos e no estacionamento levam cada vez mais utilizadores a interessarem-se por alternativas como o car-sharing, o ride-hailing, o car-pooling, soluções de “última milha” e transportes públicos.
No entanto, em Portugal basta sair dos centros urbanos para se sentir uma maior dependência do automóvel, devido à escassez das outras alternativas. Para muitas pessoas a compra de um automóvel ainda faz e continuará a fazer sentido, apesar de a sua utilização tender para ser mais combinada com outras alternativas de serviços de mobilidade e de tipos de veículos.
A esmagadora maioria da comunidade científica (97%) está de acordo que o aquecimento global se deve a causas humanas e que a emissão de CO2 por parte dos veículos é uma das responsáveis. Por outro lado, a concentração continuada de seres humanos nas cidades – em 2050, mais de 60% da população mundial viverá em cidades – obriga à implementação de medidas para melhoria da qualidade do ar nestas zonas. Se os motores diesel emitem menos CO2 face a propulsores equivalentes a gasolina, também produzem até 11,5 vezes mais óxido de nitrogénio (NOx), um dos responsáveis por doenças respiratórias e cardiovasculares. Em setembro de 2015, o escândalo “Dieselgate” deu máxima visibilidade aos expedientes para contornar ilegalmente os limites de emissões de NOx, o que produziu no mercado uma tendência para preterir os motores a gasóleo. Como os veículos de zero emissões ainda exigem um prémio de preço e dispõem de uma oferta pouco diversificada, os clientes dos segmentos inferiores voltaram a sua atenção para as soluções de propulsão a gasolina ou híbrida.
E chegamos aos dias de hoje em que é legítimo que os clientes tenham dúvidas sobre qual a melhor opção para as suas necessidades de mobilidade. É isso que vamos tentar clarificar, dando prioridade a uma explicação simples e clara, em detrimento de definições exaustivas que incluam todos os cenários existentes.
Diesel: para roladores
Se utiliza o seu veículo predominantemente em estrada, para fazer longos percursos com poucas paragens, então o diesel ainda é uma boa opção para si. Também o é se utilizar um veículo específico, por exemplo um furgão, segmento onde a oferta de outros propulsores é escassa e o seu preço ainda não é suficientemente competitivo.
Gasolina: para quem procura preço
Se a sua prioridade é um preço reduzido de aquisição e se a distância que percorre não for suficiente para que compense um veículo mais caro mas que consuma energia mais barata, então deverá considerar um veículo a gasolina.
Híbridos: eletrificação sem constrangimentos
Se procura a máxima economia em zonas urbanas – com a consequente redução de emissões – mas não quer ficar dependente da capilaridade de pontos e do tempo dos carregamentos, então deverá considerar um veículo mild ou full hybrid, que combina um propulsor a gasolina ou a gasóleo com um ou mais motores elétricos. No caso do sistema mild hybrid, o motor elétrico não aciona diretamente as rodas do veículo e nos full hybrid a propulsão puramente elétrica dá-se em distâncias e velocidades reduzidas (2 ou 3 km). O full hybrid consegue atingir consumos inferiores e as manobras são realizadas quase sempre em modo elétrico.
Plug-in hybrids: vários veículos num só
Se pretende que o seu automóvel disponha de 20 a 50 km de autonomia 100% elétrica para as deslocações diárias e, simultaneamente, quer manter a conveniência de utilização de um veículo a combustão em viagens longas, então deverá equacionar um plug-in hybrid. Tal como os mild e full hybrids, os plug-ins conjugam motores elétricos com propulsores a gasolina ou a gasóleo, mas, graças a baterias maiores e à possibilidade de as carregar a partir de fontes externas ao veículo, garantem maior autonomia. Considerando os incentivos fiscais e no caso dos clientes empresa, a opção plug-in hybrid poderá ser financeiramente a mais vantajosa em determinados segmentos de mercado.
Elétricos: o citadino ideal
Os veículos elétricos propõem emissões praticamente nulas a nível local, com impactos muito positivos na qualidade do ar que se respira nas zonas mais congestionadas das cidades. Em termos de CO2, o seu impacto também é muito inferior ao dos veículos dotados de motores a combustão, especialmente em países onde a eletricidade é produzida a partir de fontes renováveis. Se a sua prioridade é o ambiente, se realiza o essencial das suas deslocações em áreas urbanas ou suburbanas e se tem possibilidade de carregar o veículo em “casa”, a escolha ideal é o 100% elétrico. Tal como nos plug-in hybrids, a conjugação dos incentivos fiscais com determinados modelos e perfis de clientes, pode fazer dos veículos 100% elétricos a melhor opção financeira.
Fuel-cell: ainda para poucos.
Os fuel-cell são veículos elétricos capazes de produzirem energia elétrica a bordo, o que lhes garante autonomias e tempos de abastecimento idênticos aos dos veículos dotados de motores de combustão. Esta produção de energia resulta da reação do hidrogénio com o oxigénio, que tem como única emissão vapor de água. As estruturas de abastecimento de hidrogénio são hoje o maior entrave ao desenvolvimento em larga escala desta solução. No entanto há necessidades de mobilidade que poderão beneficiar mais cedo da propulsão por célula de combustível, como é o caso dos transportes de mercadorias de longa distância que, tipicamente, iniciam e terminam cada viagem em áreas industriais onde poderá ser mais viável instalar estruturas de abastecimento de hidrogénio.
É mais fácil decidir do que parece!
Evite optar em função dos grandes títulos dos media ou das discussões acaloradas nas redes sociais. Estude e mantenha-se informado acerca do futuro da mobilidade, subscrevendo conteúdos como aqueles que são publicados em World Shopper Trends (www.world-shopper.com/news). Faça uma análise objetiva das suas necessidades de mobilidade. Inclua as suas convicções no processo de decisão, tais como sensibilidade ambiental e preferências pessoais. Se não tiver a certeza sobre a opção que tomou, reduza o risco da sua decisão e opte por uma solução flexível de financiamento do automóvel que lhe permita diferentes opções no final do contrato (troca, devolução ou compra).
Por fim, estou sempre à sua disposição nas redes sociais para conversar sobre o futuro do setor automóvel e da mobilidade.
Ricardo Oliveira
World Shopper founder