“Eu tenho valor? Sim, porque eu mereço” | Opiniões

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“Eu tenho valor? Sim, porque eu mereço”

07/03/2022 | Ana Marquilhas

Sim, nós temos valor... sempre! Foto: L'Oreal Sim, nós temos valor... sempre! Foto: L'Oreal

Em fevereiro de 1971, Ilon Specht, uma jovem copywriter de 23 anos da agência de publicidade McCann, criou uma assinatura para uma campanha da L'Oréal com a seguinte mensagem: "Because I'm worth it". Em Portugal, o slogan ficou conhecido como “Porque eu mereço”, mas poderia muito bem ter sido “Porque eu tenho valor”. Afinal, é o que esta pequena, mas poderosa, afirmação reivindica: dar poder às mulheres para se afirmarem com o valor que sabem que têm.

Criada para mostrar que o produto de coloração da L’Oréal até podia ser mais caro face à concorrência, a campanha sobretudo ficou famosa por defender que era “aquele” anunciante que realmente se preocupava com as necessidades da mulher.

Foi um sucesso e representa até hoje um marco na comunicação da marca porque foi das primeiras a colocar a mulher como um ser individual, com desejos e aspirações próprias, numa sociedade habituada a vê-la como objecto, uma sociedade verdadeiramente patriarcal.

Mais do que um slogan, esta assinatura passou a ser a missão da marca. Para assinalar os seus 50 anos, em fevereiro, a L’Oréal pegou na mensagem e desafiou algumas figuras públicas a revelar o que a afirmação "Because I'm worth it” significa verdadeiramente para cada uma delas.

Tocaram-me especialmente os testemunhos de Kate Winslet e de Viola Davis ‑ ambas actrizes consagradas pelo público e a crítica - pela força das suas palavras de empoderamento feminino e das suas vozes, e quem sabe por terem, tal como eu, mais de 45 anos.

Ao ouvir as palavras de Kate Winslet e de Viola Davis, sinto-me em casa. 

https://www.youtube.com/watch?v=mjcd6Xu4MYU

A beleza é real, somos reais e devemos valorizar-nos como tal.

Defensora da beleza natural e sem preconceitos, no seu vídeo, Kate Winslet refere que havia um tempo em que achávamos que só tínhamos valor quando a nossa cara estava perfeita.

Quando o nosso corpo era igual àquilo que a sociedade identificava como perfeito mas que, na realidade, era inatingível para quase 80% das pessoas. Caímos na armadilha de pensar que a atenção que os outros nos davam era o que valia; transpondo para a actualidade, passamos a analisar o número de likes como fator de sucesso.

 

Ao envelhecer, será que continuamos a ter valor?

Será que num mundo onde a juventude é celebrada e o envelhecimento (longevidade, como eu teimo em chamar-lhe) desprezado, continuamos a merecer, a ter valor? Será que achamos que valemos menos?

Numa sociedade que condena a nossa idade, os nossos cabelos brancos, as nossas rugas e, sim, por vezes também a nossa lentidão que é sistematicamente associada a menor capacidade, quando o que queremos é aproveitar cada minuto, será que continuamos a ter valor?

A resposta é sim!

Sim, tenho valor, pelo que sou!

É gratificante ver Kate Winslet dizer com a força da sua representação aquilo que tenho vindo a descobrir: eu tenho valor pelo que sou, pelo corpo que tenho, pelas rugas que apresento, pelas marcas que tenho, mas que são o retrato da minha longevidade.

Esta consciência da beleza da longevidade tem de ser celebrada, divulgada e abraçada. Campanhas como esta são desejáveis pois não só elevam a auto-estima das mulheres como, essencialmente, mostram - a quem ainda não percebeu - que a longevidade é um luxo que devemos exibir.

A comunicação tem um papel importante na mudança de estereótipos podendo derrubar barreiras nunca sonhadas.