Habitação, espaço de afirmação de autonomia | Opiniões

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Habitação, espaço de afirmação de autonomia

21/02/2019 | Paula Guimarães

Paula Guimarães, Jurista Paula Guimarães, Jurista

A habitação é um elemento essencial para garantir a autonomia e a preservação dos direitos de cada um de nós. Mas também se pode tornar uma prisão e um território de violência e de exclusão.

Planear o envelhecimento e as fases tardias da vida engloba, necessariamente, pensar nessa dimensão. Todavia, as circunstâncias nem sempre permitem estar atento aos detalhes ou assegurar a escolha de uma habitação adequada às diversas fases da vida.

As questões da acessibilidade, da inclusão no contexto comunitário, da existência de serviços de proximidade são fundamentais para que possamos manter-nos na nossa casa até ao mais tarde possível.

Se assegurarmos essa flexibilidade no nosso espaço habitacional, com mais facilidade podemos adotar uma solução de apoio domiciliário no futuro. Enquanto residirmos no nosso espaço, podemos preservar a intimidade, o controlo do quotidiano e a manutenção das relações de vizinhança.

Quando compramos uma casa, que demoraremos 30 anos a pagar, temos de pensar nestes aspetos. Mesmo se tivermos um perfil nómada, cada vez que mudarmos de habitação devemos estar atentos à possibilidade de uma incapacidade temporária ou definitiva. É, por isso, importante ter o cuidado de semear relações de entreajuda, cultivar uma participação ativa no bairro e na freguesia.

A habitação é um espaço de recolhimento e proteção mas é, igualmente, um centro de relações e de pertença. É, pois, fundamental para a nossa cidadania mantermo-nos atentos à vida coletiva e ativos na preservação do espaço comum.

 

Cuidados com soluções “milagrosas”

Por isso devemos ser cuidadosos ao analisar soluções pretensamente inovadoras que nos oferecem soluções milagrosas para o fim da vida, como as recentes habitações colaborativas para os mais velhos. Estas podem ser uma boa solução para algumas pessoas, mas promovem o idadismo, esbatendo a saudável intergeracionalidade.

Por outro lado, quem adere ainda autónomo a estas soluções com a ilusão que as últimas décadas da sua vida serão passadas com amigos em alegre confraternização, não deve esquecer que nem todos envelhecerão da mesma forma.

Pensar a habitação ao longo da vida é pensar e tangibilizar um direito constitucionalmente reconhecido, do qual depende verdadeiramente a nossa felicidade e independência. Deve merecer a nossa atenção e reflexão sem precipitações e cada um deve poder escolher, em liberdade, a solução certa para si.