JOSÉ PEDREIRINHO Do esquiço à obra | Dar vida aos anos

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JOSÉ PEDREIRINHO Do esquiço à obra

24/03/2019 |

presidente da ordem dos arquitetos presidente da ordem dos arquitetos

Tem 68 anos e trabalha ao “melhor ritmo” de sempre. Além de ter atelier em nome próprio, o arquiteto José Manuel Pedreirinho é presidente da Ordem dos Arquitetos (OA) desde janeiro de 2017. A base da sua “corrida” é paixão pela arquitetura.

A organização é um dos segredos para conseguir conciliar todos os fatores da sua vida. “Sei [hoje] que há um tempo limite, o que me obriga a uma seleção do que vou fazer. Isso prende-se com esse correr melhor”, explica.

“A paixão e o interesse pela arquitetura” continuam, portanto, a ser a “gasolina” de José Manuel Pedreirinho. “Sempre achei que o que vale a pena na vida é a paixão, fazer o que gostamos. Nunca me imaginei a fazer algo de que não gostasse, não obstante de todos termos, por vezes, de fazer coisas de gostamos menos. Para mim ver, fazer, viver a arquitetura é como respirar. Tenho uma grande paixão pela arquitetura, adoro projetar, embora hoje o faça menos, porque o meu tempo é muito ocupado pela OA”.

A opção pela arquitetura foi feita aos 15 anos, “por um acumular de aspetos” omnipresentes. “Tenho dificuldade em dizer quando foi o momento em que comecei a pensar na arquitetura. Surgiu de uma multiplicidade de aspetos: de interesses, de visitas que pude fazer, de sítios que me interessaram, de sentir. Depois, há uma série de brincadeiras, que não sei se têm propriamente uma relação direta, das coisas gostava de fazer, os desenhos e as construções com as mãos”, conta.

 

País com escola de arquitetura

Portugal é um país com “escola de arquitetura” e “teve gerações de muito bons arquitetos”. Isso não obstante de continuar a “ter um cenário em que uma grande percentagem significativa da arquitetura que se faz se calhar nem sequer é arquitetura, é outra coisa, é construção”. José Manuel Pedreirinho salienta, ainda assim, que “há muito boas obras de arquitetura e houve, ao longo, sobretudo, da segunda metade do século XX, um número significativo de arquitetos que realizou uma série de obras de grande qualidade”.

A realidade com que os arquitetos trabalham em termos de projeto está, também a mudar. O presidente da OA indica que foi construído um modelo de sociedade com base na ideia de que se vivia toda a vida na mesma casa (comprada) e que isso “pressupunha uma convivência de gerações”, com retaguarda familiar. Hoje, porém, “as famílias são muito mais móveis na sua constituição e na sua localização”, pelo que aquela “retaguarda praticamente acabou”. José Manuel Pedreirinho considera que Portugal se atrasou na procura de nova soluções e que essa é uma área na qual só agora se está a trabalhar.

Uma das “ajudas preciosas” nessa adaptação da habitação e das cidades à realidade das pessoas é a Internet das Coisas. Otimização energética, mobilidade ou apoio a pessoas que estão sozinhas são algumas das áreas em que a tecnologia pode ser importante. “Agora, também é preciso termos noção que o apoio humano continua a ser insubstituível”, frisa o arquiteto.

 

Projetos para 100 anos

Voltando à esfera pessoal, não faltam objetivos futuros a José Manuel Pedreirinho. “Tenho o número suficiente de projetos para perceber que ou andava aqui mais 100 anos ou não faço metade deles”, diz.

Os planos, tanto de projeto como de escrita, têm a ver com a arquitetura. “É uma paixão. Não sei fazer mais nada. Não sei se sei fazer arquitetura, mas sei que não sei fazer mais nada, isso sei”.

Claro que gosta imenso de viajar e de conhecer coisas. “Mas também aí há a arquitetura como pano de fundo. Nos dois últimos anos, passei férias na Grécia, em ilhas com pouca arquitetura histórica, mas mesmo num território como aquele, procuro arquitetura. Acho que mesmo no deserto estou à procura, para perceber como a arquitetura ali se poderia fazer. Estou formatado para essa procura”.

Nascido em Lisboa e com raízes na capital e no Algarve, José Manuel Pedreirinho tem descendência, mas nem o filho nem a filha quiseram seguir arquitetura e os quatros netos ainda não estão em fase desse tipo de opção. “Não faço a mínima ideia se quererão seguir ou não arquitetura. Só espero é que consigam ser felizes. Foi isso que pus como programa de vida para os meus filhos, espero que seja o programa para os meus netos”.

Os filhos e os netos, mas também os alunos dos tempos em que deu aulas na faculdade são fundamentais para o presidente da OA poder manter algo que considera muito importante: as relações com as gerações mais novas. “Essa relação é fundamental para nós não envelhecermos no sentido negativo do termo, isto é, atrasarmos o ‘arteriosclerosamento’ mental. Sempre tive contacto com gerações mais novas e com as perguntas mais absurdas e inesperadas, mas que me obrigavam a pensar e a tentar transmitir o meu pensamento. Esse desafio mantem-nos ativos, dialogantes, curiosos e com essa capacidade de transmitir. Por outro lado, esse desafio mantem-nos também capazes de entendermos quais as suas angústias e a sua forma de pensar e ver o mundo”, considera.

Paixão volta a ser a base do discurso de José Manuel Pedreirinho quando o tema é procurar um envelhecimento ativo e positivo. “Um dos problemas com que nos deparamos é as pessoas, por casualidades da vida, as pessoas não fazerem o que gostam ao longo da vida. Depois, chegam a uma certa altura e decidem fazer o que gostam, mas depois não sabem muito bem do que, de facto, gostam, porque entretanto passaram décadas a fazer algo que não lhes agrada”.

Este prazer está presente na atividade profissional, mas também em outras vertentes. “É bom que saibamos reagir e tirar partido da vida. Eu gosto imenso de andar de moto e quase todos os dias é esse o meu meio de circulação. Enquanto puder, assim continuará. Andar de moto é racional em termos de tempo, mas é um prazer”, indica o presidente da OA.