Longevidade: Vamos falar do elefante na sala? | Opiniões

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Longevidade: Vamos falar do elefante na sala?

16/05/2022 | Ana Marquilhas

A longevidade e o elefante na sala Foto: DR A longevidade e o elefante na sala Foto: DR

Ainda nem sequer tinha começado a folhear o jornal e logo, ali, à primeira vista, dois headlines chamaram-me à atenção. Um dizia “Governo alarga para os 30 anos o limite de ingresso na PSP” e o outro “Os professores com mais de 60 anos concorrem a lugar no quadro”.

Pois é, começa a ser notório que, gradualmente, a longevidade penetra na nossa sociedade, não concordam?

É incontornável dizer que urge tomar medidas estratégicas para aproveitar este fenómeno positivo.

Até quando os decisores vão permanecer de cabeça enfiada na areia? Não tenho essa resposta. O que sei é que não podemos continuar a fazer medidas a conta gotas, em vez de medidas estruturais que apoiem verdadeiramente os diferentes intervenientes:

  • os indivíduos,
  • as empresas
  • a sociedade.

A Vida dos 100 anos

No livro “A vida de 100 anos” (título original: “The 100-year life”), lançado em 2017, os autores, Linda Gratton e de Andrew J. Scott, abordam a importância de encarar urgentemente este fenómeno da longevidade. Debruçam-se sobre os aspetos positivos que a compõem, propondo ao indivíduo e à sociedade tirarem partido da mesma, adotando medidas estratégicas com a sua vida pessoal, à semelhança das que a nossa sociedade desesperadamente precisa.

A primeira medida é, sem dúvida, o conhecimento. Sem conhecermos o que queremos abordar, sem medir, sem estruturar, nada se faz.

Como dizia Lord Kevin, um dos físicos mais importantes do século 19,

“O que não se define, não se pode medir, o que não se mede não se pode melhorar e o que não se melhora, degrada-se sempre!”.

Ora, da leitura deste livro, saliento aquele conhecimento que me pareceu mais pertinente para mim e que, muitas vezes, se presta pouca atenção, exatamente porque é difícil de medir… mas não impossível.

Estou a falar do que se chama “os ativos intangíveis”.

Vamos por partes.

Primeiro, o que são ativos? Em contabilidade, um ativo é um termo utilizado para expressar os bens, valores, direitos que fazem parte do património de uma pessoa singular ou coletiva e que são avaliados pelos seus custos.

Por isso, na nossa longevidade, segundo Linda Gratton e de Andrew J. Scott, também temos ativos que são divididos em tangíveis e intangíveis.

E o que são ativos tangíveis?

São aqueles que são fáceis de medir e que, regra geral, se definem muito cedo na nossa longevidade. É o que se quer para as nossas vidas: normalmente, é uma casa, um carro e algum dinheiro no banco. São fáceis de medir e, por hábito, atribuímo-los a uma garantia de estabilidade e de qualidade de vida.

Mas não nos enganemos. Existem outros que são, sem dúvida, muito importantes e fundamentais, tantas vezes descurados. Esses, são os ativos intangíveis.

E o que são os ativos intangíveis?

Os ativos intangíveis são mais difíceis de medir e podemos categorizá-los em 3 tipos:

  • produtividade,
  • vitalidade
  • transformacionais.

Os ativos de produtividade estão relacionados com o conhecimento adquirido ao longo dos anos, a flexibilidade e a agilidade mental que se vai desenvolvendo; além da nossa preciosa rede de contatos que vamos adquirindo durante a nossa vida, da qual faz parte a nossa Marca pessoal.

Temos também, os ativos de vitalidade que dizem respeito ao nosso bem-estar físico e mental e ao nosso equilíbrio.

E, por último, os transformacionais, que são relativos ao nosso autoconhecimento e resiliência. Basicamente, onde a nossa capacidade de motivação para nos adaptarmos às mudanças e transições, que uma vida longa pressupõe, está incluída.

Não sei se vos acontece o mesmo, mas quando li o livro e vi esta estrutura fez-se uma luz e fui a correr fazer a minha lista de ativos.

Estes ativos são parte fundamental da nossa longevidade e se não trabalharmos e investirmos no seu desenvolvimento, certamente, que a nossa qualidade de vida irá ser pior.

Esta é apenas uma pequena parte a que temos de dedicar atenção para que a nossa longevidade não seja apenas longa, mas sim qualitativa.

Para terminar, deixo-vos um desafio: que tal fazer a vossa lista de ativos?

Sobre a autora: Ana Marquilhas, consultora de Media, com alma viajante e dedicada à família. Apaixonada e curiosa pelo tema da longevidade, porque acredita que a vida ativa não acaba aos 50 anos, mantém-se atualizada sobre as tendências que surgem nesta área. Defende que é necessário mudar a sociedade e transformar mentalidades para valorizar, sem exceção, todas as gerações.