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Na verdade, muitas pessoas optam por continuar a trabalhar mesmo após alcançarem a idade, seja por questões financeiras ou simplesmente porque desejam continuar ativas e envolvidas em alguma atividade que lhes dê sentido em suas vidas. São pessoas que se recusam a ir “para os aposentos”. E eu sou uma delas.
Às vésperas de minha reforma, decidi que começaria uma nova carreira e preparei-me para trabalhar na área do jornalismo, um setor totalmente diverso da minha experiência anterior. Esta foi uma das mais importantes decisões que tomei em minha vida, uma vez que a minha nova carreira iniciada após os 60 anos tem sido plena de realizações e convívio intergeracional.
Recentemente assisti a um documentário muito interessante e que apresenta muitas razões para que pensemos seriamente na urgência e obrigatoriedade de nos prepararmos para uma vida longeva e saudável. Trata-se do filme “Além do Aposento”.
Além do Aposento é um documentário que propõe diversas perspectivas sobre a vida após a reforma e nos leva a muitas reflexões. Com a participação do renomado médico, gerontólogo e Presidente do Centro Internacional de Longevidade Brasil, Alexandre Kalache e dirigido por Gabriel Martinez, o filme apresenta a história de seis entrevistados e seus exemplos de determinação e dinamismo, fatores que os levaram a construir novas, ativas e saudáveis vidas “fora dos aposentos”.
O documentário Além do Aposento nos cativa a atenção do começo ao fim e vem para nos ajudar a refletir e questionar sobre as possibilidades positivas acerca das nossas vidas maduras.
Assista o documentário aqui.
É interessante constatar que esta nova forma de pensar e agir a respeito da reforma tem ocorrido em vários países. Do artigo publicado pelo periódico inglês Financial Times podemos ver que, cada vez mais, pessoas optam por criar novas formas de continuarem ativas ao invés de se reformarem. Por motivos financeiros, sociais ou de saúde integral, reformar-se deixou de representar uma saída da vida ativa e integrada à sociedade. Isso é fantástico!
Vejamos os exemplos britânicos:
Neil, 70 anos, reformou-se no fim do ano passado. Foi gerente de uma empresa do ramo automobilistico. Depois de trabalhar desde os 17 anos e adiar a reforma por seis anos, ele decidiu que era finalmente a hora. Porém, mal havia passado um mês até que Neil percebesse que as “contas não batiam” - A pensão que recebia do Estado não cobria os seus custos de vida. Em pouco tempo, ele estava de volta à procura de emprego. Além de suas preocupações com o dinheiro, ele também sentia falta de estar perto de pessoas.
"Claro que tenho preocupações financeiras, mas eu sinto falta principalmente do aspecto social do trabalho. Eu costumava trabalhar para uma equipe de pessoas felizes com muitas brincadeiras", diz ele.
Muitas pessoas com mais de 65 anos no Reino Unido, como Neil, já fazem parte dos chamados "não-aposentados". A crise do custo de vida, as oportunidades de trabalho mais flexível e a percepção pós-lockdown da importância do convívio social coincidiram, forçando muitas pessoas a procurar novamente uma atividade laboral.
De acordo com o Escritório para Estatísticas Nacionais do Reino Unido, o número de pessoas com mais de 65 anos de idade trabalhando ou procurando trabalho atingiu perto de 1,5 milhão no meio do ano passado. O número total para aqueles com mais de 50 anos está agora perto de 10,5 milhões, em linha com os níveis pré-pandêmicos.
Muito mais pessoas com mais de 65 anos estão reentrando na força de trabalho e um número crescente está à procura de novas oportunidades.
Stuart Lewis, chefe executivo da Rest Less, uma comunidade digital e grupo de defesa das pessoas na faixa dos 50, 60 anos ou mais, diz que os dados oficiais do mercado de trabalho mostram um claro sinal de uma tendência de longo prazo de pessoas 65+ economicamente mais ativas.
“Há muitas pessoas considerando voltar da reforma", diz Lewis. A pandemia forçou muitos - particularmente os seniores - a reavaliarem suas prioridades. O valor baixo das pensões e o alto custo de vida tem feito com que muitos trabalhadores revejam os seus planos de reforma”, diz Lewis.
Ao passo que pessoas 65+ “desaposentam”, alguns empregadores do Reino Unido estão vendo a força de trabalho dos sêniores uma grande oportunidade em meio a uma falta de habilidades e mão-de-obra no Reino Unido, ampliada por restrições aos trabalhadores estrangeiros.
As pesquisas também mostram que uma força de trabalho multigeracional é mais criativa e pode ser melhor para todos, com pessoas mais velhas detentoras de um conhecimento institucional inestimável e transmitindo experiências de vida aos colegas mais jovens.
A Fuller's, a cadeia de bares e hotéis, lançou recentemente sua primeira campanha de recrutamento dirigida aos trabalhadores seniores, em parceria com a Rest Less.
"Podemos oferecer a máxima flexibilidade: se uma pessoa é um pássaro madrugador ou uma coruja, ou só quer trabalhar em uma sexta-feira ou não em uma terça-feira quando cuida dos netos, podemos atender a isso", diz Dawn Browne, diretora de pessoas e talentos da Fuller's.
Dessa forma, a empresa espera assegurar pessoal para turnos mais curtos e menos populares que não pagam tão bem quanto o turno de dia inteiro.
Cerca de um terço da força de trabalho em Inglaterra tem 50 anos ou mais, com cerca de 9 milhões de pessoas de 50 a 64 anos e mais de 1,3 milhão de pessoas com mais de 65 anos. Mas nem todos os empregadores oferecem o que é necessário para reter trabalhadores 50+, ou reconhecem a importância de recrutá-los.
Emily Andrews, que está pressionando para criar um acesso eqüitativo ao trabalho para as pessoas de 50 e 60 anos no Centre for Ageing Better, uma fundação beneficente, diz que deveria haver mais pessoas seniores na força de trabalho.
Andrews também destaca que as ações de recrutamento e a linguagem utilizada nos anúncios de emprego estão amplamente focadas na contratação de trabalhadores mais jovens, e muitos empregadores ainda não são flexíveis na forma como as pessoas podem trabalhar.
As empresas frequentemente não oferecem apoio a pessoas - de qualquer idade - com condições de saúde, acrescenta ela, e os trabalhadores com 50 anos ou mais são os menos prováveis a receberem formação "fora do trabalho", impactando a sua capacidade de se manterem atualizados com novas habilidades e ganharem mais emprego.
Os trabalhadores mais velhos muitas vezes ficam presos ao "nexo entre capacitação e idade", diz Andrews, e por sua vez, internalizam algumas dessas características que os levam a um enorme golpe na sua confiança.
Thomas Roulet, professor associado na University of Cambridge’s Judge Business School, diz que ainda existe um "estigma" quando se trata de contratar trabalhadores com mais idade.
Embora uma organização multigeracional possa ser altamente criativa, ela também pode aumentar os conflitos. Tanto as gerações mais novas quanto as mais velhas têm preconceitos uma contra a outra - os trabalhadores mais velhos acreditam que milenials têm direito e esperam tudo de seu empregador e uma recompensa imediata. Os trabalhadores mais jovens acreditam que os mais velhos tiveram facilidade e são incapazes de se adaptar às novas tendências", diz Roulet.
A verdade é que os milenials e as gerações mais velhas realmente compartilham os mesmos estímulos motivacionais e objetivos de carreira.
Nós, os trabalhadores 50+ não queremos um tratamento especial. Queremos apenas estar em um nível de igualdade com o pessoal mais jovem.
Diante de estes desafios, nada de ficarmos entediados ou deprimidos por não sabermos como planear a nossa fase após a reforma. Podemos ter uma postura mais ativa e empreendedora para organizarmos a nossa vida 50+. Como colaborador de uma empresa ou empreendendo por conta própria - empresário ou não - o que importa é reavaliarmos o que queremos da vida e irmos em frente.
Uma certeza teremos: NOSSAS VIDAS 50+ SERÃO SAUDÁVEIS, ATIVAS E “FORA DOS APOSENTOS”!
Obrigada!
Silvia Triboni
silviatriboni@gmail.com