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Na saúde e na doença

18/10/2019 | Luís Coelho Filipe Economista, aluno do doutoramento em economia da Nova SBE

Luís Coelho Filipe Economista, aluno do doutoramento em economia da Nova SBE Luís Coelho Filipe Economista, aluno do doutoramento em economia da Nova SBE

Quem não conhece os famosos votos de casamento em que os noivos prometem ficar juntos seja qual for a condição em que se possam vir a encontrar no futuro? Pois bem, pretendo entender como é que as coisas funcionam na parte em que declaram ficar juntos “na saúde e na doença”.

O meu trabalho recente incide sobre a temática das pessoas dos escalões etários mais avançados e a necessidade destas receberem cuidados pessoais dos seus parceiros. Ou seja, mulheres que cuidam dos seus maridos, ou vice-versa, quando as debilidades físicas por parte de um dos membros do casal assim o exige. São os parceiros que ajudam o debilitado com tarefas outrora simples, como sair da cama, tomar banho e vestir.

 

Mas quais são as consequências? Como é que prestar cuidados pessoais afeta o prestador?

Aparentemente, em nada no que diz respeito aos nossos casais! Pelo menos naqueles que contribuem unicamente com cuidados pessoais. Embora seja verdade que os parceiros que cuidam tenham, em média, pior saúde auto-reportada, isso não se deve à atividade de cuidar. Deve-se antes a outros fatores de seleção, como a partilha de potenciais maus hábitos de saúde com os restantes membros do agregado familiar. Por outras palavras, partilham as razões que levaram ao estado de debilidade do outro membro do casal. Quando tentando inferir sobre causalidade, os estudos que tenho feito apresentam resultados que variam entre nulos e positivos. Logo, existe até a possibilidade de que cuidar possa ter um efeito positivo nos níveis de saúde auto-reportados destas pessoas.

Uma das possíveis causas para estes resultados é que os cuidadores se sintam mais realizados. Estarem mais ativos pode implicar ganhos físicos. Fazerem algo relevante pode contribuir para um maior nível de autoestima. No momento de responderem a um questionário sobre o seu nível de saúde, este valor auto-reportado pode ser superior ao que seria caso não prestassem auxílio ao seu parceiro.  

Quando usando uma perspetiva mais geral, no entanto, a investigação existente aponta no sentido de que cuidar pode ser mau para o cuidador. Nomeadamente, filhos que precisam de cuidar dos pais apresentam tendencialmente piores índices de saúde. Ou, em outra perspetiva, cuidadores que enfrentam problemas de saúde mais austeros, como demência severa, tendem a apresentar sintomas negativos em termos de stress mental.

Então qual é a razão para eu encontrar resultados no sentido inverso? Aparentemente, o ato de cuidar, quando não está associado a situações de severidade muito elevada (como por exemplo demência ou alzheimer) ou a acrescentos significativos na rotina diária do cuidador (por exemplo filhos que se deslocam a casa dos pais), não apresenta efeitos nocivos à saúde dos cuidadores. Relembro que eu avalio apenas casos de cuidados pessoais, o que exclui à partida casos mais severos. Sendo parceiros, também não têm alterações muito relevantes na sua rotina.

Do ponto de vista de quem desenha politicas, este tipo de informação pode ser importante. Cuidados informais de parceiros para parceiros devem ser promovidos em detrimento de cuidados formais. Investimentos em cuidados formais, ou em compensações para cuidadores informais, devem apontar sobretudo aos pacientes que possam gerar maiores custos para os seus cuidadores, como nos exemplos que apresentei antes.