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Nunca dar nada por adquirido

25/07/2019 | Sofia Alçada

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Nunca dar nada por adquirido.

É o responsável pela Landing Jobs, uma plataforma de contratação de pessoas na área tecnológica. Passou grande parte da sua vida em processos de contratação e quando o faz pede sempre às pessoas para falarem das suas vidas, pois acredita que muito do que são é logo definido nos primeiros anos. Mas normalmente as pessoas focam-se nos últimos anos…  

A vida nem sempre foi fácil para este empreendedor. Retornado de Angola, onde nasceu em 1967, passa rapidamente, como refere, de “menino rico a menino pobre”. Quando chega a Portugal, vai viver para a pequena localidade de Vila Maior, em São Pedro do Sul, depois de sete anos em Luanda, uma grande metrópole na altura. O pai, também ele um empreendedor, recomeça a vida aos 45 anos criando um negócio de animais, que mais tarde fecha por causa da peste suína, obrigando-o mais uma vez a recomeçar, desta vez já em Lisboa, criando uma empresa de táxis, o mesmo negócio que tinha em Angola. Desta fase, retira a sua primeira lição de vida: “Nunca dar nada por adquirido.”

Sempre foi bom aluno, com forte aptidão para matemática, daí a opção pelo curso de Matemáticas Aplicadas na área de computação. Refere no entanto que a maior aprendizagem veio da necessidade de trabalhar ao mesmo tempo que tirava o curso, como taxista na empresa do pai. “A verdadeira aprendizagem veio das horas que passava no táxi a falar com as pessoas. Saber ouvir, perceber que têm interesses distintos e que querem percursos que conhecem… pois é mais confortável. Coisas tão simples ensinaram-nos bons princípios de gestão de pessoas”, que lhe marcaram a carreira e a vida.

No fim do curso, apesar de outras hipóteses, e para agradar ao pai, que muito respeitava, optou pelo seguro e foi para o Banco de Portugal, onde apenas esteve seis meses. A este nível diz com algum conhecimento de causa e para quem tem de escolher: “Nunca ouçam os vossos pais, pois eles não sabem nada da realidade atual.” Segue-se o INESC e depois a Novabase, onde fica até 2013, aproveitando todos os desafios, iniciativas e novos projetos que iam surgindo, levando inclusive a mais uma experiência fora de Portugal – no Brasil.

Cresceu muito rápido, fruto do tsunami da área da tecnologia. “Costumo dizer que é sempre melhor escolher um mercado em fase de crescimento, mesmo sendo um profissional médio, do que ser o melhor numa área estagnada.”

Quando saiu da Novabase, tinha já ideias para criar um negócio, mas hesitou em avançar e acabou por aceitar a proposta de um antigo empregador, acabando por ser novamente contratado para trabalhar para um terceiro, mas a cabeça estava em criar o seu negócio, por isso ao fim de seis meses, despediu-se para se dedicar à sua startup.

Em junho de 2014, com 46 anos, decide levar a sua ideia para a frente. Em setembro inicia a apresentação das candidaturas e em novembro recebe o primeiro financiamento de 750 mil euros para a sua empresa atual – a Landing Jobs.

 “O grande desafio na constituição do negócio é claramente a criação de equipa. Ainda há pouca gente em Portugal a arriscar trabalhar em startups, apesar desta dificuldade, como já somos bastante conhecidos, conseguimos ter muitas candidaturas, o problema tem sido segurar a nossa equipa, pois os nossos clientes vêm constantemente “roubar-nos” as pessoas. A maior parte sai para marcas com maior reconhecimento no mercado, apesar de darmos condições semelhantes nos salários e de duplicarmos o nosso crescimento todos os anos.”

Mais uma vez a família acaba por ter grande influência nesta decisão de mudança, pois vão aconselhar a mudar-se para uma empresa que tem maior marca no mercado.

Deixa alguns conselhos a quem quer ser empreendedor:

Ter grande capacidade de resiliência, ter um sócio para dividir o peso e a responsabilidade. Acreditar no projeto e na ideia. “Nas fases boas toda a gente dá palmadinhas nas costas e quando corre mal… ficamos muito sozinhos. Por isso é importante ter um sócio. Alguém com quem dividir.” Pedro Oliveira é o seu sócio, um jovem que lhe foi apresentado por um amigo comum. “É importante numa área nova ter pessoas com um mindset diferente e adaptado à nova realidade.” 

Deixa ainda mais dois conselhos: cuidado com a gestão de tesouraria face à exigência de capital, pelo rápido crescimento que estas empresas normalmente enfrentam, e tenham sempre uma estratégia de saída. Estejam preparados para vender o negócio e percebam se e quando a “empresa se aguenta sozinha”.

A Landing Jobs está atualmente avaliada entre 5 a 7 milhões. “É uma empresa saudável que cresce todos os anos.” Com cerca de trinta pessoas, oito delas estrangeiras e com uma idade média de 25 anos.

E para quem nunca pensou ser empreendedor

Se nunca pensou ser empreendedor, faça o seu self assessement. Perceba os seus pontos fortes. “A necessidade muitas vezes aguça o engenho e leva-nos a fazer coisas que nunca pensámos que seríamos capazes.” Percebam em que é que são bons a todos os níveis. “Quando se escolhe uma carreira as pessoas devem fazê-lo numa lógica racional e não emotiva.” Escreveu um livro a propósito desse tema: Your Fit – the model for landing your next job, com um modelo muito simples e prático para nos ajudar a saber como fazer.

Com um objetivo de se reformar aos 55 anos, para se dedicar à gestão social na relação geracional e escrever mais livros de ajuda no desenvolvimento das carreiras, deixa mais este conselho: “A nossa sociedade está cheia de dificuldades em lidar com este mundo novo. Vamos ter de estar sempre a aprender para incorporar todas as novidades que estão a surgir.”