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Recentemente a ONU publicou um dado relativo ao potencial de desaceleração no crescimento populacional global. A quebra na natalidade e o progressivo aumento do tempo de vida reforçam o fenómeno do envelhecimento demográfico das sociedades e o foco no aumento da longevidade. Torna-se imperativo criar as melhores condições para que as pessoas vivam mais e melhor.
Também se tornou oficial a mudança de estratégia na gestão da saúde nos Emirados Árabes Unidos, com uma maior preocupação tanto na promoção da longevidade como do envelhecimento saudável, com vista ao desenvolvimento onde ao maior tempo de vida corresponde um substantivo potencial de crescimento económico.
Assim, uma economia marcada pelo poder do petróleo vê no desenvolvimento da economia ligada à Longevidade um novo “petróleo”, o que explica não só a mudança na estratégia de gestão e de investimento na saúde, como também outro tipo de investimentos relacionados à atração de start-ups e mentes inovadoras que atuam no mercado da longevidade, por exemplo.
Andrew J. Scott, professor da London Business School of Economics e uma das referências internacionais na economia da longevidade defende que o aumento do tempo de vida das pessoas acarreta, forçosamente, um potencial de crescimento económico que compensa os efeitos negativos de um peso quase maioritário de pessoas com mais de 60 anos na sociedade.
O impacto do aumento da longevidade nas populações é transversal a praticamente todos os setores da sociedade. Implica uma profunda mudança de paradigmas seja na gestão, no urbanismo e mesmo no desenvolvimento tecnológico, onde países como o Japão ou Singapura já estão a rever muito daquilo que é a forma de pensar a relação entre tecnologia e envelhecimento, com a promoção de uma sociedade mais centrada no ser humano e nas relações ser humano – ser humano em detrimento das relações ser humano – máquina.
Uma mudança de paradigma que nos levará a deixar de pensar na idade vivida (= idade cronológica) para pensar no tempo de vida a viver, um conceito um pouco estranho, mas que já é uma realidade, ou mesmo no conceito de idade biológica, definida com base numa equação que junta biomarcadores, idade cronológica e condicionalismos sociais.
Num artigo publicado no The Lancet Healthy Longevity, Andrew J. Scott refere que “tal economia(a da longevidade) tem o potencial de contribuir para o crescimento do produto interno bruto por meio de emprego e do capital humano.
A mudança para uma economia da longevidade requer menos dependência de políticas declaradas puramente em termos de idade e mais extensão das políticas existentes voltadas para diversas necessidades e circunstâncias para grupos etários mais velhos.
Uma perspectiva de curso de vida também é necessária, para garantir o foco na equidade intergeracional e uma melhor compreensão das necessidades dos idosos que não são orientadas para a saúde.”
A economia mundial volta-se progressivamente para a longevidade. Os países que estão a liderar são aqueles que já perceberam o quão estratégico é falar mais em longevidade e menos em envelhecimento (assumindo que a longevidade contém o envelhecimento), são aqueles, como a Irlanda, que estão a implementar estratégias para a promoção da saúde das populações que vai muito mais além da promoção do envelhecimento ativo e saudável.
A questão que se coloca para Portugal, o 4º país mais envelhecido do mundo e onde as pessoas vivem mais anos, mas com menos qualidade de vida, é até quando iremos permanecer sem um plano para a promoção de uma sociedade mais longeva e sem uma estratégia de promoção do desenvolvimento da economia da longevidade, quando alguns dos países que são importantes para a nossa balança comercial já estão a implementar políticas públicas, fiscais e de exportação comercial que têm a longevidade na mira.
Autora: Ana João Sepúlveda é presidente executiva da empresa 40+Lab
A autora escreve de acordo com o antigo acordo ortográfico
Artigo publicado no Jornal Expresso