O Novo Mapa da Vida | Sociedade

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O Novo Mapa da Vida

30/05/2022 | Sílvia Triboni

O Novo Mapa da Vida Foto: Unsplash O Novo Mapa da Vida Foto: Unsplash

No entanto, tendo em vista instituições sociais, legislação e políticas públicas não estarem devidamente preparadas para receber esses futuros e bem preparados centenários, o Stanford Center on Longevity lançou uma iniciativa chamada The New Map of Life – O Novo Mapa da Vida, acreditando que transformações tão profundas da experiência humana exigem mudanças igualmente impactantes e criativas na maneira como levamos cada etapa dessas vidas de 100 anos.

O objetivo desta iniciativa foi o de identificar maneiras de melhorar a qualidade dessas vidas centenárias, para que as pessoas experimentem um sentimento de pertença, propósito e mais valia em todas as idades e fases, e acreditar que podemos enfrentar os desafios que a longevidade nos proporciona se agirmos agora, guiados por princípios orientadores (abaixo resumidos) os quais favorecerão novas e mais opções para aprender, ganhar dinheiro e economizar, enquanto também cuidamos da saúde e das ligações sociais.

No lugar da suposição ultrapassada de que os mais velhos reduzem a produtividade e drenam os recursos da sociedade, para a criação de O Novo Mapa da Vida foi adotada uma perspectiva que enfatiza o potencial económico que um país atinge quando os seus seniores contribuem de maneira cada vez mais significativa para o bem social e para o PIB.

Leia aqui o relatório na íntegra.

1. Diversidade etária tem um impacto líquido positivo

Nunca antes na história da humanidade tantas gerações estiveram em conjunto a criar oportunidades e ligações até agora impossíveis.

Esta era de diversidade etária sem precedentes significa que a sociedade beneficia de uma complementaridade de habilidades que as pessoas desenvolvem ao longo de suas vidas.

A velocidade, força e entusiasmo pela descoberta comum em pessoas mais jovens, combinado com a inteligência emocional, habilidade presente nas pessoas mais velhas, permitem que sejam criadas novas possibilidades para famílias, comunidades e locais de trabalho.

Famílias multigeracionais podem partilhar recursos financeiros e sociais, incluindo habitação e cuidado, aprofundando a responsabilidade social e a ligação através das gerações.

Um desafio é a promoção de ligações significativas entre diferentes gerações para aproveitar ao máximo este capital social nunca visto na humanidade.

A diversidade etária presente na força de trabalho atual traz profundas reflexões. Os trabalhadores com mais de 55 anos são o grupo que mais cresce, e que agora representa 25 por cento da força de trabalho dos EUA. Enquanto os estereótipos retratam os trabalhadores mais velhos como menos saudáveis, produtivos, ou experientes em tecnologia em relação aos seus colegas mais jovens, as evidências mostram que os trabalhadores mais experientes e com mais conhecimento são superiores em julgamento, confiabilidade e habilidades de mentoria, além de serem realmente capazes de dominar os requisitos de tecnologia em seus empregos.

Mudar a narrativa para valorizar a diversidade etária em conjunto com outras formas de diversidade é mais do que um exercício de semântica: é essencial fazermos uso das imensas reservas de conhecimento, experiências e habilidades dos adultos mais velhos que desejam permanecer produtivos no mercado de trabalho remunerado, no voluntariado ou mentoring, em todo o país neste momento de extrema necessidade. Suposições desorientadas conduzem políticas e práticas de emprego equivocadas e preconceito de idade.

2. Investir nos futuros centenários para obter grandes retornos

As narrativas sobre a “sociedade envelhecida” retratam as últimas décadas da vida como um período marcado pela vulnerabilidade e dependência.

Uma perspectiva de longevidade, por outro lado, vê os 30 anos extras de vida como um dividendo que pode ser estrategicamente distribuído em todas as fases da vida. Em uma época de escassez de mão de obra, por que esperamos que o conhecimento dos trabalhadores de 65 anos saia da força de trabalho?

Podemos investir em futuros centenários otimizando cada etapa da vida, de modo que os benefícios possam se acumular por décadas, ao mesmo tempo em que permite mais tempo para se recuperar de contratempos.

3. Alinhar os períodos de saúde aos períodos de vida

Um princípio fundamental do The New Map of Life é que a longevidade saudável requer investimentos em saúde pública em todas as fases da vida, e o tempo de saúde deve ser a métrica para determinar como, quando e onde investir.

Enfrentar as disparidades de saúde significa investir não apenas num melhor acesso à saúde, mas na saúde das comunidades, especialmente aquelas afetadas pela pobreza, discriminação e danos ambientais.

4. Trabalhar mais anos com mais flexibilidade

Ao longo de 100 anos de vida, podemos esperar trabalhar 60 anos ou mais.

Entretanto, não vamos trabalhar como fazemos agora, 40 horas por semana, de manhã à noite, repletas de obrigações com a família, escola e outras responsabilidades.

Os trabalhadores buscam flexibilidade, quer isso signifique trabalhar remotamente, ou ter rotinas flexíveis dentro e fora do local de trabalho, incluindo intervalos pagos e não pagos para cuidados, necessidades de saúde, aprendizagem ao longo da vida e outras transições esperadas ao longo de uma vida centenária.

5. Prepare-se para se surpreender com o Futuro do Envelhecimento

As crianças de 5 anos de hoje beneficiarão de uma surpreendente variedade de avanços e tecnologias que tornarão a sua experiência de envelhecimento muito diferente da dos idosos de hoje.

À medida que envelhecerem, esses futuros centenários poderão implantar tecnologia em seus corpos, como a “pele inteligente” que monitora a função cardíaca, cerebral e muscular para indicar atividade anormal ou doença. Ataques cardíacos e derrames poderão ser diagnosticados remotamente em seus primeiros momentos, e poderão reduzir danos graves em órgãos e até mortes.

A conquista de períodos de saúde mais longos decorrem de investimentos em saúde na primeira infância, telemedicina, gerociência e medicina personalizada, avanços que prometem alterar o futuro do envelhecimento.

Isso tudo irá retardar ou prevenir o aparecimento de doenças, melhorar a detecção precoce de riscos para a saúde e ajudar a reduzir o custo prestação de cuidados de saúde à medida que as pessoas envelhecem.

Combinadas, essas oportunidades têm o potencial de redefinir o envelhecimento de um período associado à doença, fragilidade e dependência em mais uma fase da vida com potencial para vitalidade, independência e contribuições para a sociedade.

6. Aprender ao longo da vida

Dadas as fortes ligações entre educação, saúde e longevidade, O Novo Mapa da Vida pede inovação e muito mais opções flexíveis em nosso sistema educacional para que mais pessoas possam desenvolver o seu potencial, tornando-se, ou permanecendo, produtivas e envolvidas ao longo de suas longas vidas.

Ao invés de sobrecarregar as duas primeiras décadas de vida com a educação formal, a aprendizagem ao longo da vida proporciona não só benefícios económicos e oportunidades, mas também benefícios mensuráveis para a saúde, especialmente para os adultos mais velhos. Ter atividades estimulantes melhora a saúde cognitiva e física.

7. Transições de vida são um recurso, e não uma falha do sistema

Enquanto o curso de vida convencional é uma estrada de mão única por etapas prescritas, o novo mapa apresenta estradas com bifurcações, que nos levam em muitas direções através dos papéis, oportunidades e obrigações que os nossos 100 anos trarão.

Há cruzamentos, trevos, curvas, rampas de acesso e saídas de e para as décadas de vida dedicadas ao trabalho remunerado, proporcionando mais oportunidades de aprendizagem ao longo da vida, e para parcerias intergeracionais que melhorarão o fluxo de conhecimento e o cuidado.

Flexibilidade é o mantra, e correções de curso são a norma.

No lugar de capítulos fixos que abrangem 70 anos e focam consecutivamente em educação, trabalho e reforma, prevemos vários intervalos mais curtos e flexíveis dedicados a aprender, trabalhar, cuidar e lazer tecidos conforme o necessário no curso de 100 anos de vida.

Em lugar de associar a segunda metade da vida com a menopausa, reforma e morte, podemos criar observâncias sociais em torno de marcos como voluntariado e mentoria, retorno ao trabalho, lançamento de uma carreira ou um novo negócio, ou, até mesmo voltar a vida ativa após uma doença ou alguma limitação.

Entender que as transições são a norma, aceitar e celebrá-las nos tornará mais fortes como indivíduos e como sociedade.

O caminho a seguir

Enfrentar os desafios da longevidade não é responsabilidade única de governos, empregadores, prestadores de serviços de saúde ou seguradoras; é um empreendimento de todos os setores, que exige as melhores ideias dos setores público e privado, da medicina, da academia e da filantropia.

Para nós, não basta reimaginar ou repensar que a sociedade se prepare para a longevidade; devemos construir isso agora, e rapidamente! O desafio coletivo é desenvolver inovações sociais que ajudem as pessoas a permanecerem saudáveis e produtivas ao longo de mais anos de vida.

As políticas e investimentos que fizermos hoje, determinará como os jovens de agora serão quando se tornarem os velhos do futuro - e o que mais faremos desses 30 anos extras de vida que nos foram entregues.

 

Silvia Triboni

silvia.triboni@gmail.com

Editora e produtora de conteúdo sobre longevidade, envelhecimento ativo e economia da longevidade no site Across Seven Seas, canal Youtube e Across Podcast.