O que está a acontecer a taxa de natalidade e qual o seu impacto? | Sociedade

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O que está a acontecer a taxa de natalidade e qual o seu impacto?

05/07/2021 | Sofia Alçada

Qual a evolução da população mundial? Fonte: Pexels Qual a evolução da população mundial? Fonte: Pexels

Neste artigo, é referido que este pode ter sido o fator que levou o governo da China a anunciar durante o mês de maio, que os casais poderiam ter até 3 filhos, anuncio que ocorreu após 5 anos da supressão da política de filho único iniciada em 1980.

Também a China assiste a quebra dos níveis de fertilidade, tendo o censo de maio indicado que o país perde cerca de 400.000 pessoas por ano.

O problema agrava-se com a previsão já adiantada de um grande declínio populacional projetado para meados do século, que pode agora ser antecipado para 2030, o que significa perder entre 600 e 700 milhões de pessoas em 2100.

Mas, a China não é a única. Também os USA têm assistido a um declínio da população nos últimos 6 anos, e de cerca de 19% desde 2007.

Assim como a China, também as taxas de nascimento dos USA estão bastante abaixo do necessário para a reposição da população, ficando em valores de 1.6 (na China o valor é ainda inferior e situa-se nos 1.3).

Como é sabido, para que um pais possa repor naturalmente a sua população, a taxa de natalidade deverá ser, no mínimo, de 2.1.

  • O segundo país mais populoso do mundo, a India, tem vindo a diminuir a taxa de natalidade, situando-se atualmente em 2.1.

  • O Japão apresenta uma taxa semelhante a da China, 1.3,

  • Russia 1.6,

  • Brazil 1,7,

  • Portugal da ordem do 1,36

  • Indonésia de 2.0.

 

Quais os países com taxas de natalidade acima do nível de substituição da população?

 Existe no entanto, segundo o referido artigo, países com valores bem acima dos 2.1, embora apresentando uma tendência de declínio como é o caso do:

  • Paquistão com 3.4 vs. 6.6 em 1960

  • Nigéria com 5.1 vs. 6.4 em 1960

 

Impacto do Covid-19 no declínio das taxas de nascimento

Apesar das muitas conversas e expectativas de um baby boom devido ao confinamento, o que sucedeu na maioria dos países foi o inverso.

Até porque hoje em dia, a maioria dos nascimentos são planeados, em especial nos países desenvolvidos.

O brookings institute estima que 300,000 crianças não nasceram nos USA devido a incerteza económica relacionada com a pandemia.

Image: Brookings

 

Alguns analistas, no entanto, preveem um mini baby boom assim que as vacinas estiverem amplamente disponíveis e as restrições forem suspensas.

Mas mesmo um mini baby boom, dificilmente compensará totalmente o declínio.

A experiência mostra que quando um casal adia ter um filho, por qualquer motivo, acabam muitas vezes por não o ter.

Um declínio na fertilidade é apenas uma das maneiras pelas quais a pandemia está a impactar no decrescimento populacional em muitos países desenvolvidos.

A outra, são as fronteiras fechadas.

Em 2020, a Austrália registou o seu primeiro declínio populacional desde a Primeira Guerra Mundial, devido aos controles de fronteira mais rígidos relacionados ao COVID.

O Canadá concedeu o status de residência permanente a 180.000 candidatos em 2020, muito aquém do objetivo de 381.000 - e a maioria dos novos residentes permanentes já estava no país com visto de estudante ou de trabalho. 

 

As mortes provocadas pela Covid-19

Um terceiro fator é o número de mortes provocados pela pandemia Covid-19.

Os pesquisadores preveem que a expectativa de vida nos Estados Unidos possa diminuir cerca de um ano inteiro como resultado das mortes de COVID.

As minorias raciais foram particularmente afetadas, com a expectativa de vida dos afro-americanos diminuída em dois anos e a dos latinos em três anos.

Oficialmente, a pandemia é responsável por mais de 3 milhões de mortes - mas esse número pode ser muito maior, já que em alguns países contabilização do número de mortes pode estar bastante abaixo. Isso é provável, por exemplo, na Índia, onde a pandemia retira cerca de 4.000 vidas por dia; e onde as autoridades acreditam que a contagem real é muito maior.

 

Papel da Urbanização na quebra da população mundial:

Mas não é só a pandemia ...

Segundo  o artigo Empty Planet: The Shock of Global Population Decline as forças que impulsionam o declínio da população existem desde o inicio do século.

A maior força é a urbanização. A maior migração da história da humanidade aconteceu no século passado e continua até hoje.

As pessoas mudam-se do campo para a cidade. Em 1960, um terço da humanidade vivia em uma cidade.

Hoje, este número ascende a quase 60%.

Mudar do campo para a cidade muda a situação económica e diminui a necessidade de ter famílias numerosas. Já não é preciso ter mão de obra para fazer o trabalho. Muitas crianças na cidade significam muitas bocas para alimentar. É por isso que, tomando decisões economicamente racionais, quando nos mudamos para a cidade, temos menos filhos.

 

Impacto nas mulheres:

A mudança para a cidade também muda a vida das mulheres, expondo-as a uma versão diferente da vida das suas mães e avós que viviam no campo.

As mulheres urbanas são muito mais propensas a ter educação e carreira, bem como acesso mais fácil à contraceção.

Taxas de natalidade mais baixas são o resultado inevitável.

É por isso que as mães pela primeira vez, hoje, são mais velhas e têm menos filhos, e a gravidez na adolescência diminuiu drasticamente.

Na maioria dos países desenvolvidos, a taxa de natalidade de mulheres com mais de 40 anos ultrapassou a taxa de mulheres com 20 anos ou menos.

Podemos esperar que em três décadas ou mais, a população global comece a diminuir.

 

Por que é importante perceber o impacto do declínio da população?

Menos pessoas são boas para o clima, mas as consequências económicas são graves.

Na década de 1960, havia seis pessoas em idade produtiva para cada reformado.

Hoje, a proporção é de três para um.

Em 2035, será dois para um.

Alguns dizem que devemos aprender a conter a nossa obsessão com o crescimento.

Ser menos obcecados pelo consumidor. Aprender a lidar com uma população menor.

Isso parece muito atraente.

Mas quem vai comprar as coisas que vendemos e que produzimos?

Quem vai pagar os cuidados de saúde e pensão quando envelhecer?

Porque em breve, a humanidade será muito menor e mais velha do que é hoje.

 

Este artigo, faz-nos pensar. Será que estamos realmente a prever estes impactos?

A antecipá-los?

Haverá necessariamente uma necessidade de mudança.

Resta saber para onde e como.

Preparados?