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A primeira associação com o termo rendimento é a de remuneração monetária do trabalho. Essa é apenas uma de várias possibilidades. Rendimento é a disponibilização de meios (em euros, ou não), que tem como base o uso de “recursos”. O tempo disponível e a capacidade para trabalhar são os recursos que dão origem ao salário. Idealizar uma campanha publicitária usa tempo e criatividade de quem nela se empenha; produzir um copo envolve materiais, equipamento e o esforço, mais ou menos automatizado; prestar um serviço envolve normalmente tempo e conhecimento, etc.
Ver o rendimento deste modo, como resultado do uso de recursos, é útil para olhar o que será o rendimento no futuro. Estamos talvez demasiado habituados a pensar em rendimentos de trabalho e de capital, associados a ativos físicos (como imóveis ou terrenos arrendados) ou financeiros (como depósitos a prazo, obrigações e ações de empresas).
Duas tendências que são mencionadas a propósito de rendimento são a instituição de um rendimento básico universal (em experiência na Finlândia e no Canadá) e a crescente automação, com ou sem algoritmos de inteligência artificial, de atividades desempenhadas atualmente por trabalhadores humanos.
Na primeira tendência, o aspeto central é o rendimento ser independente dos recursos que cada um possui e do que entende fazer com eles. A principal dificuldade que se pode antecipar a uma generalização a toda a população desta ideia é como ter recursos suficientes para essa distribuição. As experiências em curso ainda são de pequena dimensão, e procuram compreender que efeitos poderá ter esta ideia no comportamento, estilo de vida e satisfação das pessoas.
A segunda tendência, a automação, é de natureza distinta. Vai gerar mais recursos disponíveis, e logo mais rendimentos, mas com a distribuição desse rendimento mais concentrada na população se forem mantidos os atuais mecanismos da sociedade quanto a impostos, mercado de trabalho e redistribuição de rendimento. A tensão está na (re)distribuição de recursos, e se exigirá uma intervenção pública (e de que tipo).
Estas tendências estão ainda dentro de um quadro tradicional. O desafio é imaginar recursos que venham a ser mais valiosos no futuro e que possam dar origem a rendimentos.
Tem sido usada, muitas vezes, a expressão “sociedade do conhecimento”, quase exclusivamente associada à ideia de informação e em particular de informação digital. Porém, pouco se fala sobre o valor da experiência como recurso. A construção de experiência não é imediata. A experiência acumula-se, exigindo capacidade de avaliação e julgamento que vai além da mera recolha de informação. É um recurso que será dificilmente transmissível. E que estará associada à idade. A capacidade mental de resolução de problemas inesperados ganha importância relativamente à capacidade física. E nesta linha, mais importante que a idade e o vigor físico para o trabalho será essencial a saúde mental para o desempenho dessas atividades.
Haverá novos desafios: quando é o esforço físico da tarefa que está em causa (seja força, rapidez, ou destreza) não é muito complicado definir o que é resultado da ação individual ou do grupo. Porém, quando está em causa a qualidade de uma decisão, tomada em grupo ou individualmente, como o momento adequado de apanha de fruta, é menos evidente saber a contribuição de cada pessoa para a decisão. A própria forma de definir o modo de contribuição, o seu ritmo e o rendimento associado será potencialmente diferente do que vemos hoje, abrindo espaço para uma população reformada mas não inativa, envolvida nas atividades produtivas, mesmo depois da reforma oficial.
De forma similar à posse de ativos físicos ou financeiros poderão surgir formas de gerar rendimento a partir da informação obtida rotineiramente na vida diária de cada um. Um prenúncio disso é a informação que resulta das redes sociais e dos vários dispositivos que usamos regularmente (telefones, relógios, pulseiras inteligentes, etc...). Muita dessa informação não foi originada com a intenção de obter rendimento, mas sabemos que é útil para alguém. Se vier a ser suficientemente interessante, existirá quem pague por essa informação.
O futuro do rendimento irá, provavelmente, combinar estes vários elementos e terá de lidar com novos desafios, em termos das desigualdades de rendimento (e riqueza) que daí possam emergir.
Tudo o que implique decisão e capacidade de julgamento ganhará importância como fonte de rendimento, ao longo da vida ativa e a evolução do rendimento com a experiência demonstrada, será diferente da que vemos hoje.
É previsível que gerar informação a partir das nossas vidas diárias venha também a ser fonte de rendimento (passiva), quase da mesma forma que um depósito a prazo dá origem a rendimento. Assim, não se deixará de contribuir e receber rendimento muito para lá dos 60 anos.