Temos sido mais rápidos a ganhar anos de vida do que a entender, como sociedade, o que é o envelhecimento.
O envelhecimento é um sinal de prosperidade e de desenvolvimento de um país. Afinal o aumento da esperança de vida só é possível porque há uma melhoria das condições de vida, uma melhor alimentação, melhor habitação, acesso à saúde e à educação. Contudo, as perspetivas sobre o envelhecimento continuam a não ser as desejáveis. As pessoas idosas, mesmo que ativas, são muitas vezes encaradas como pessoas frágeis, doentes e dependentes, o que promove fenómenos de desrespeito pelos seus direitos, exclusão, marginalização e, não raras vezes, situações de violência.
Esta realidade levou a Associação Portuguesa de Apoio à Vítima (APAV) e a Fundação Calouste Gulbenkian a desenvolveram, entre janeiro de 2019 e junho de 2020, um projeto que resultou no ‘Relatório Portugal Mais Velho’ e que tem por objetivo «promover a reflexão e alteração de paradigmas acerca do envelhecimento e da violência contra pessoas idosas», explicou Marta Carmo, Jurista e Técnica de Projetos da APAV, que falava no dia 27 de janeiro durante a segunda sessão do Simpósio InterAções.
Deste projeto resultou a publicação do Relatório "Portugal Mais Velho", disponível AQUI. Resultou também a apresentação de 30 Recomendações dirigidas a variadas instituições governamentais e não governamentais, disponíveis AQUI.
- Adotar uma perspetiva de direitos humanos transversal a diversas áreas da atuação do Estado.
- Promover uma visão positiva das pessoas idosas através da visibilidade e capacitação das mesmas.
- Generalização (mainstreaming) do conceito de envelhecimento ativo e saudável.
- Realizar um estudo sobre o impacto da população idosa nas contas do Estado.
- Traçar o retrato continuamente atualizado da violência contra pessoas idosas em Portugal.
- Apresentar dados desagregados sobre a vitimação de pessoas idosas nas Estatísticas da Justiça.
- Sensibilizar a sociedade para as consequências da violência contra pessoas idosas, nos planos individual, familiar, comunitário e social.
- Perceber e combater a invisibilidade da violência institucional.
- Melhorar os procedimentos de fiscalização das instituições que acolhem ou prestam apoio a pessoas idosas.
- Compreender os fatores de proteção que podem diminuir a vulnerabilidade de uma pessoa idosa a situações de vitimação.
- Compreender as causas e a incidência de situações de abandono de pessoas idosas em hospitais.
- Conferir uma maior tutela às pessoas idosas vítimas de crime perpetrado em contexto doméstico através do alargamento do conceito de coabitação.
- Promover a adoção de termos mais adequados no que diz respeito aos/às cuidadores/as profissionais e familiares.
- Promover a formação dos/as profissionais de saúde e da área social para a adequada prestação de cuidados a pessoas idosas.
- Desenvolver uma estratégia nacional para a formação de cuidadores/as informais ou familiares.
- Garantir a formação dos dirigentes ou proprietários de equipamentos para pessoas idosas (como ERPI ou Centros de Dia).
- Certificação/reconhecimento da carreira profissional nas áreas da gerontologia, incluindo a de cuidador/a formal ou profissional e a de assistente operacional.
- Criar mecanismos de supervisão e de apoio dos/as cuidadores/as formais ou profissionais e informais ou familiares.
- Definição de uma Política de Família que passe por alteração do Código do Trabalho (reconhecer a importância dos/as familiares na prestação de cuidados a pessoas idosas); rever o Direito Sucessório; alterar o regime de benefícios fiscais para promover a manutenção da pessoa idosa em sua casa.
- Produzir mais conhecimento sobre a violência entre pessoas idosas em contexto institucional.
- Desenvolvimento de uma estrutura de base comunitária com competência para atuar sobre as vulnerabilidades das pessoas de todas as idades (Comissões para Pessoas Adultas em Situação de Vulnerabilidade e Comissão Nacional para Pessoas Adultas em Situação de Vulnerabilidade).
- Desenhar uma estratégia de informação sobre os tipos de violência contra pessoas idosas, como preveni-los e como reagir.
- Adoção de manuais de boas práticas a utilizar pelos/as profissionais/as que trabalham com pessoas idosas.
- Alterar a representação normalmente feita das pessoas idosas nos meios de comunicação e noutras formas de disseminação de informação e imagem, por exemplo anúncios, livros ou manuais escolares.
- Promover a formação de jornalistas sobre violência, em particular violência contra pessoas idosas.
- Estimular a aprendizagem ao longo da vida e desconstruir o preconceito de que a vontade e capacidade de aprender estagnam na idade adulta.
- Promover programas e soluções intergeracionais com impacto positivo comprovado, estimulando, desde logo, as relações entre as gerações no seio da família.
- Integrar o paradigma dos direitos humanos na educação e formação académica das crianças e jovens.
- Melhorar implementação, avaliação e impacto dos programas e/ou projetos na área do envelhecimento.
- Monitorizar e avaliar as políticas públicas na área do envelhecimento através da criação de um grupo de trabalho interdisciplinar e interministerial e com participação da sociedade civil na dependência do Gabinete da Ministra de Estado e da Presidência.
Pode consultar toda a informação do projeto "Portugal Mais Velho" em apav.pt/portugalmaisvelho/
3ª Edição do Simpósio Interações – Uma Sociedade para Todas as Idades
A sessão ‘Portugal Mais Velho: Desafios da Longevidade & Envelhecimento’ decorreu no dia 27 de janeiro, no âmbito da 3ª Edição do Simpósio Interações – Uma Sociedade para Todas as Idades, uma iniciativa da Santa Casa da Misericórdia de Lisboa e organizado pela Unidade de Missão “Lisboa Cidade de Todas as Idades”.
Sobre esta sessão pode ler também o nosso artigo ‘Em que sociedade queremos envelhecer?’ e ainda 'Os nossos direitos não têm idade'.
Saiba mais AQUI sobre o Simpósio InterAções. E não deixe de ver ou rever no vídeo da sessão completa no canal do Youtube da SCML AQUI.