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Embora continuem a vida ativa, têm perspetivas distintas quanto a questão da reforma obrigatória na função pública.
Portugal tem uma estrutura etária das mais envelhecidas da Europa com diferenças no regime laboral que permite, a quem trabalha no sector privado, poder continuar para além dos 70 anos, se assim o entender. Havendo concordância com a entidade patronal, os trabalhadores podem assinar um contrato renovável a termo de seis meses.
O que não acontece no serviço público, onde terá obrigatoriamente que se reformar quando chegar aos 70 anos.
Os funcionários públicos são assim obrigados à reforma, apesar de muitas vezes estarem perfeitamente aptos para continuarem a trabalhar, desempenhando com grande relevancia e eficiencia as suas funções.
O Japão, por exemplo, aumentou a idade da reforma obrigatória para os 80 anos, face a perspectiva de aumento da esperança de vida que apresenta este pais, não muito longe da de Portugal.
Por cá, continuamos a fazê-lo aos 70 anos.
Vamos ver a perspectiva de 3 personalidades da sociedade portuguesa que passaram pela necessidade de reforma obrigatória aos 70 anos, mas que continuam a trabalhar.
Depois de se encontrar a frente do serviço de Psiquiatria do Hospital de Santa Maria (Lisboa) durante quatro décadas, Daniel Sampaio, deixou o Serviço Nacional de Saúde (SNS) em finais 2016 por ter atingido o limite de idade.
Daniel Sampaio está entre os defensores de uma saída não “abrupta” ou forçada.
“Dirigi o serviço até aos 69 anos e 364 dias, até às 6 da tarde. No dia seguinte, estava reformado”,
conta o psiquiatra para quem, a haver um limite indicador, este poderia ser aos “75 anos”.
Também faria sentido, advoga, que alguns funcionários pudessem continuar nos serviços públicos como consultores.
“Teria sido bom para o meu sucessor que eu tivesse ficado mais algum tempo para ajudar à transição”,
acredita o médico, que lembra que, muitas vezes, profissionais experientes saem dos serviços públicos sem que haja quem os ajude na transição ou mesmo, alguém para os substituir de imediato.
Apesar de ter saido da função pública, continua a exercer atividade no seu consultório e a fazer formação em terapia familiar.
Daniel Sampaio frisa ainda que os 70 anos de hoje não se podem comparar com os 70 anos do passado.
“Se uma pessoa tiver saúde, se estiver na posse plena das suas faculdades, não deveria ter de sair compulsivamente.”
Há sempre quem partilhe uma visão distinta.
É o caso de Francisco George, Director-geral da Saúde durante 12 anos, tendo deixado o cargo em Outubro de 2017 por limite de idade.
Na sua opinião, a regra da reforma obrigatória, não devia ser alterada.
“Na administração privada quem tem mais acções é quem mais ordena.
Mas a administração pública não é uma empresa privada.
É uma empresa com 10 milhões de accionistas.
Faz todo o sentido que os titulares de cargos dirigentes dêem lugar aos mais jovens, os lugares não podem ser vitalícios”.
Para o ex-director-geral da Saúde, “ficar eternamente num cargo é que pode ser um desperdício”.
Se alguém considerar que continua em condições para trabalhar, “pode sempre concorrer a outros lugares no sector social ou no privado”, refere Francisco George.
Foi o que fez.
É agora presidente da Cruz Vermelha Portuguesa, um cargo que exerce sem remuneração, depois de 44 anos de serviço público.
“A saída é saudável, é a altura de encontrar outro caminho. Há quem dê em escritor, pintor, dirigente de organizações humanitárias” que não exclui uma futura ida para a política.
Tivemos o prazer de o entrevistar para a nossa rubrica dos Jovens para Sempre. Francisco George é um homem discreto, com uma energia contagiante, um sorriso franco e uma vontade insaciável de contribuir para uma sociedade mais justa e igualitária.
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Com cerca de 90 anos, o médico Gentil Martins é uma das personalidades que está contra a reforma compulsiva aos 70 e que foi “obrigado” a sair da Faculdade de Ciências Médicas e do Hospital D. Estefânia, em Lisboa, há quase duas décadas.
“Atualmente vivemos mais 20 anos do que quando o limite dos 70 anos foi instituído”,
Apesar de operar cada vez menos, Gentil Martins não compreende que exista idade estipulada para a reforma.
“Não acredito que uma pessoa com 66 anos esteja gagá.
Haverá pessoas com 60 anos que estão gagás, mas há outras com 70 ou 80 anos que estão muito bem”.
“Deixem as pessoas trabalhar enquanto estiverem bem.”
No sector da saúde, competirá à Ordem dos Médicos verificar se os profissionais “estão ou não em condições”, propõe.
Trabalhar, também pode ser para muitas pessoas, sinónimo de uma vida feliz, afirma Gentil Martins.
E para si? Qual faz sentido ser a idade correcta para a reforma, a haver alguma?
Será a idade o fator a ter em conta?
Ou será este mais um fator a repensar evitando assim as questões do idadismo (descriminação pela idade)?
Dá que pensar!
Para saber mais sobre o idadismo, não perca o nosso podcast sobre o tema.