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A mobilidade está a mudar. É um facto. Depois de a máquina a vapor ter assinalado a primeira revolução industrial, a eletricidade e a linha de montagem a segunda, a eletrónica, a robótica e as telecomunicações a terceira, é agora chegada a vez da quarta revolução com as tecnologias enquadradas em conceitos como o big data, o cloud computing, a Internet das Coisas e a mobilidade. A chamada Revolução 4.0 faz-se não pela evolução, mas por uma mudança profunda das cidades, mentalidades e hábitos.
Três fatores estão a influenciar a indústria, países e cidades para esta revolução que marca a convergência de tecnologias digitais, físicas e biológicas.
O crescimento populacional. Até 2030, 60% da população mundial viverá nas cidades, com o número de megacidades – mais de dez milhões de habitantes – a aumentar, significando mais congestionamento, poluição e consumo de energia.
Mudanças climatéricas. Os fenómenos naturais mais extremados obrigam a que as cidades se tornem resilientes.
Rápidas inovações. Importantes avanços tecnológicos originam novos modelos de negócio. Haverá mais mudanças nos próximos cinco anos do que nos últimos vinte.
Estes fatores levaram ao desenvolvimento de um triângulo tecnológico disruptivo com base na automação, eletrificação e conectividade. Estas tecnologias poderão resultar numa mobilidade mais eficiente, segura e sustentável.
A eletrificação dos veículos apresenta-se como uma das soluções mais viável e rápida para atingir as metas de redução de CO2. A diminuição dos custos de baterias, a cada vez mais alargada rede de carregadores, o aumento da autonomia, a reutilização das baterias, permitem ter custos operacionais mais baixos com emissões zero.
No entanto, esta revolução na mobilidade revela novos desafios. A sobrecarga da rede de infraestruturas é um deles. A solução passa por energia renovável e autogeração de energia.
A automação vem facilitar e acelerar a resposta para alguns dos problemas de congestionamento nas cidades, potenciando soluções e mobilidade partilhada.
Cada vez mais a tendência será a partilha em detrimento da posse de uma viatura. Os utilizadores terão mais tempo útil a bordo, o que irá motivar a utilização de serviços durante a deslocação.
Ao longo dos últimos anos fomo-nos habituando a efetuar as nossas deslocações de automóvel e as cidades foram-se moldando a essa realidade, tornando lenta qualquer tentativa de mudança de comportamento.
Os desafios são comuns a todas as cidades, com intensidades diferentes: a qualidade do ar e efeitos de estufa, segurança rodoviária, complexidade dos padrões de mobilidade. Com estes desafios que se colocam à conectividade, o terceiro fator do triângulo veio garantir a afetação em tempo real da oferta à procura. A Uber é um exemplo de resposta às novas necessidades de deslocações e da procura de soluções flexíveis e disponíveis na ponta dos dedos. Aqui vemos a clara ligação entre mobilidade, conetividade e, num futuro próximo, a automação.
Nos últimos anos a cadeia de deslocações de cada indivíduo aumentou de duas viagens para quatro e cinco, o que torna inviável a totalidade das deslocações em transportes coletivos ou a pé. Passamos de deslocações tipicamente casa/trabalho/casa para deslocações casa/escola/trabalho/lazer/desporto/casa.
O foco passou a ser direcionado para o acesso facilitado a novas soluções de mobilidade. A legislação adaptada a estas novas realidades é fundamental para acelerar esta tendência.
A diminuição do sentido de posse permite desenvolver várias soluções de mobilidade partilhada e flexível, através do carsharing tradicional, da partilha de viaturas próprias. Esta lógica de partilha aplica-se a indivíduos e a empresas cuja frota passa a ser partilhada quando está parqueada, gerando receita adicional.
Num cenário extremo, se 100% das viaturas que circulam em Lisboa fossem partilhadas, a necessidade de espaços de estacionamento reduziria 90%.
Assim, nascem as cidades inteligentes, em constante evolução, com ciclos constantes de inovação, interação e conectividade, tendo como foco a sustentabilidade e benefício para a vida nas cidades. Uma Cidade Inteligente é constituída por redes inteligentes de edifícios, energia, planeamento urbanístico, mobilidade, tecnologia, legislação – que se conectam entre si.
A necessidade de criar cidades resilientes e preparadas para a mudança veio obrigar a repensá-las de forma mais orgânica e adaptadas para as alterações – climatéricas, de mobilidade, de novas vivências – ao mesmo tempo que têm de operar mudanças para melhorar a vida da sua população e reduzir o impacto das sucessivas revoluções que sofreram ao longo do tempo.
Este novo paradigma é um terreno fértil para a inovação e, como consequência, para as startups.