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O reconhecimento do seu trabalho no meio científico internacional é grande, com destaque para a Medalha Ariëns Kappers, atribuída, em junho de 2017, pela Academia Real de Artes e Ciência da Holanda, pelo contributo para o estudo do movimento e da aprendizagem de novas e complexas ações.
O neurocientista português Rui Costa explica, em entrevista, que nem tudo piora no cérebro humano com o envelhecimento e que nos aspetos em que isso acontece há estratégias de melhoria, por norma que impliquem mudanças nos exercícios manuais. Também o ambiente que rodeia a pessoa deve ser alterado, porque, refere o investigador, com a idade não ficamos piores, mas ficamos diferentes. “É um bocado ridículo construirmos um mundo para pessoas de 15 anos quando a maioria é de 50 Mais”, considera.
Há duas grandes vertentes, diria. Uma é, obviamente, a de tentar prever questões como o declínio cognitivo, as demências e melhorar a evolução dessas doenças ou curá-las. A ciência tem posto muito esforço no diagnóstico precoce, mas ainda temos um grande caminho a percorrer, quer no Parkinson, quer no Alzheimer. O Alzheimer é mais frequente e o Parkinson a segunda mais frequente. Há um grande trabalho a fazer para ter o diagnóstico tão cedo quanto possível, até com recurso à Inteligência Artificial, olhando para imagens de cérebro, com novos biomarcadores. Há um grande esforço a nível mundial em termos de iniciativas de estudo do cérebro para tentar perceber o que existe de errado nessas doenças e como é que as podemos melhorar. Tenho algum otimismo de que nas próximas décadas haja avanços. Esse é, portanto, um caminho para tentar prever e restaurar de uma forma, digamos, clássica.
A outra vertente onde a ciência pode ajudar [a que os anos adicionais de vida possam ser de qualidade] é, creio, na forma como o cérebro funciona no dia a dia, o quê que muda à medida que vamos avançando na idade e o que podemos mudar no ambiente para que se adapte àquele cérebro ou àquele organismo. Por exemplo, eu estudo o cérebro e a fragilidade do movimento, ou seja como é que o cérebro controla os movimentos. Uma borrachinha, por exemplo, numa porta pode causar imensos problemas. Portanto, no design de todo o nosso ambiente isso tem de ser tido em conta. Outro exemplo são a maioria dos anúncios de produtos para 50+, e a sociedade portuguesa será, em breve, maioritariamente desse escalão etário: ou estão em letras muito pequenas ou em posições pouco adequadas. O mesmo sucede com na televisão. Se se aumentar o volume, se colocarem as legendas com um tamanho maior ou reduzir a velocidade a que passam, não há dificuldade nenhuma. O que às vezes é percebido como alguém não ter percebido uma história, acontece, muitas vezes, somente porque a pessoa não conseguiu ouvir ou ler. Isto são coisas muito simples de resolver. Analisar a velocidade de perceção e o que acontece a certas frequências da audição e conseguirmos transformar isso, muda logo tudo.
O nosso conhecimento de como o cérebro funciona a diferentes idades pode permitir-nos desenvolver um ambiente em que o cérebro está perfeitamente normal. É um bocado ridículo construirmos um mundo para pessoas de 15 anos quando a maioria é de 50+. Ou seja, não é um problema do cérebro, é um problema da forma como nós construímos o mundo. Há coisas que melhoram com a idade, como seja a capacidade de síntese. Se é pedido a pessoas mais velhas e a outras mais jovens para verem determinado filme, o jovem descreve com todos os detalhes, enquanto o mais velho sintetiza melhor. Temos a tendência de não valorizar isso.
Além disso, sabedoria e inteligência não são, necessariamente, a mesma coisa. A pessoa pode ser mais rápida a resolver um problema de matemática em certa idade, mas pode ter mais informação e sabedoria em outra idade. Mesmo a nível do trabalho, em vez de nos focarmos tanto na reforma, podemos pensar que tipo de trabalho é que aquele cérebro é melhor a fazer. Funções que impliquem síntese podem ser mais bem feitas por pessoas mais velhas. Estamos numa sociedade muito técnica e que descarta um pouco a sabedoria, que é essa capacidade acumulada de ligar diferentes coisas que por vezes não são naturalmente ligáveis.
Acho que há um estigma muito grande de perda de capacidade com a idade e temos de mudar isso.
Há perdas e há ganhos. A maioria dos grandes poetas são novos. A maioria dos grandes prosistas tem mais idade. Se virmos o exemplo de Saramago, quando escreveu as grandes obras tinha mais de 58 anos. Quando se vê aquele tipo de obra, não é só a métrica de um poema ou algo curto. Não é como a matemática. Portanto, é verdade que há muitas capacidades que decrescem com a idade, mas há outras que aumentam. A questão é mais o ajustar da capacidade à realidade.
A ênfase tem de ser colocada na mudança, no mundo que nos rodeia e na forma como a pessoa gere a sua energia e o tempo, do que nestas classificações qualitativas de pior ou melhor.
A memória para factos e eventos que ocorrem recentemente, diminui. A capacidade de longo prazo está lá. A capacidade de aprender certos tipos de memória, como a síntese, aumenta. Sobre a capacidade de fazer algo para manter os dois tipos de memória, quando se fala de muitos exercícios de treino de memória, do que vem nos livros, como as palavras cruzadas, mas, geralmente, melhora de forma específica. Isto é, melhora especificamente para aquele tipo de tarefa. O ideal seria haver exercícios que melhorassem tudo.
O que é interessante de sugerir é uma vida ativa diversificada. Por um lado, as pessoas focam-se muito nas rotinas. É verdade que a rotina é importante, mas, por outro lado, a rotina é castrante, pois desaparecem outros estímulos. Essa diversificação é mais interessante do que esses exercícios. No trabalho, há coisas muito interessantes, que parecem incríveis, mas que são verdade em termos científicos. Por exemplo, pessoas que trabalhem numa fábrica, a fazer três ou mais tarefas diferentes nos últimos 20 anos, têm muito mais capacidade cognitiva e muito menos fragilidade e problemas de envelhecimento [do que as que não mudaram de funções nesse período de tempo]. Isto tem um impacto tremendo na forma como organizamos a sociedade, porque tendemos a não mudar as pessoas de funções. Aqui falamos em mudar um exercício manual e os exercícios manuais – não palavras cruzadas, mas fazer coisas novas fisicamente, como apertar os atacadores com a mão esquerda – têm uma maior impacto.
Repare que nas crianças já quase ninguém questiona a importância do escalonamento etário, como por exemplo nos livros. Porque não o mesmo nos escalões etários superiores? Eu até usaria o termo de brincadeiras. Porque tem a parte do movimento, de aprender a fazer coisas novas e da destreza, e tem a parte emocional da pessoa estar divertida e explorar. Isso tem um impacto fantástico. Fala-se em palavras cruzadas, mas três tarefas manuais numa fábrica? E tem um impacto tremendo.
Tem de ser algo que entusiasme a pessoa. Não há uma especificidade, nem tem de ser só uma coisa, podem ser várias e ir mudando. Para uma pessoa pode ser dança, para outra pode ser pintar, para outra fazer barro, para outra cozinhar. Sempre coisas físicas. Atividades como ler são importantes, mas tem de haver uma parte de habilidade. Planear um movimento é algo muito cognitivo. Quando a pessoa perde memória ou capacidade de decisão, muitas vezes cai e não consegue desempenhar certas tarefas físicas. Estas atividade físicas são formas subtis de se treinarem outros aspetos.
Estamos a falar de memória. Nós temos uma capacidade de memória, de eventos e sítios, mas eu, muitas vezes, não me lembro onde estacionei o carro. Já certos tipos de aves lembram-se de três mil sítios onde esconderam sementes. Aliás, a nível dos sentidos, há muitas espécies que são fantásticas, como os cães no olfato, por exemplo. Contudo, a capacidade de nós, seres humanos, fazermos coisas é extraordinária. Se a pessoa nasce na agricultura e tem de usar enxadas, usa enxadas, se nasce num ambiente com computadores, aos cinco anos mexe em computadores. Além disso, construímos edifícios e naves espaciais. Ou seja, a nossa capacidade de criar novas ações e de aprender a controlá-las é fantástica. É fascinante. Descobrimos [no trabalho] quais são as áreas e os circuitos do cérebro que estão envolvidos em gerar ações espontâneas, no fundo em explorar e fazer coisas, em aprender. São os gânglios da base, que têm muita enervação da dopamina…
Do prazer, mas também da motivação e do movimento. No fundo, não é tanto do prazer, é da coisa boa, que é diferente do prazer. O prazer clássico é mais dos opioides.
Sabemos um pouco de como o sistema nervoso controla os músculos e quais são os circuitos construídos para isso, por exemplo quando fazemos movimentos. Contudo, depois aprendemos um certo número de condicionantes e contextos que nos dizem “faz isto e não aquilo”. Perceber como é que essa parte do cérebro, que é mais nova, controla a parte do cérebro mais antiga é um dos grandes desafios, para o nosso e para outros grupos.
Tem a ver com a experiência de cada um, claro. Mas a dúvida é como é que as vivências de cada um, depois, condicionam a forma como nós fazemos ou não fazemos e o que valorizamos. Isso é fascinante.
Tem a ver com a idade, porque as novas memórias não são adquiridas e consolidadas da mesma forma, o cérebro mudou. No entanto, as memórias antigas estão lá.
As pessoas podem dizer que é uma evolução normal, porque não evoluímos para viver tanto tempo. Essa é uma explicação. Outra pode ser que com a idade a nova informação é cada vez menos nova e menos revelante, tendo o cérebro mais ocupação.
Não é infinita. Não sabemos qual é a capacidade. Uma das teorias é que pode ser necessário esquecer algumas coisas para armazenar novas. O que é claro é que a capacidade do cérebro muda, não para reter informação já previamente adquirida, mas de adquirir nova informação. Ainda assim, se a informação for suficientemente saliente, é apreendida pela pessoa.
Diz-se que burro velho não aprende línguas, mas na realidade aprende, na parte da fala, da habilidade motora, é que não está tão flexível. Burro velho aprende línguas, mas com sotaque. Não tem a capacidade que tinha em mais jovem de pronunciação. Isso tem a ver com o movimento. A nossa grande plasticidade da fala acontece quando somos crianças – por isso é que digo que toda a parte do movimento é muito cognitiva.
Conseguimos, daí eu sugerir fazer exercícios diferentes. Pode ser cantar, dançar, pintar, não há um exercício específico. Nem há problema algum que as pessoas falem com sotaque, desde que o outro perceba, mas é natural que as pessoas queiram falar o melhor possível.
Há diferenças de género nos tipos de demências mais frequentes e no envelhecimento normal também. Há diferenças que hão de ser de base biológica, outras que têm a ver com experiência e vivência de pessoas. Mas não é fácil dizer se há diferenças de género. Na Universidade de Columbia, onde agora estou em parte, há estudos que indicam que ter mais osteocalcina, que é uma hormona libertada pelos ossos, é importante para melhorar a memória com a idade. Caminhar tem impacto, porque leva a libertação desta hormona. Já, por exemplo nadar, não tem impacto para os ossos, pelo que não é libertada osteocalcina, há de fazer bem a outras coisas, claro. Mas depois pode perguntar-se se a osteoporose tem alguma coisa a ver com isto, porque ocorre mais em mulheres que foram mães e amamentaram.
Com base nisso, podemos dizer que há diferenças de género. Contudo, isso pode não ter a ver com o cérebro ou o género, mas com a experiência da pessoa, pois pode não ter certas hormonas tão balanceadas. O exemplo que dei do estudo científico de tarefas de trabalho numa fábrica pode, anos mais tarde, também significar resultados diferentes.
Biologicamente, os cérebros têm diferenças também entre os géneros. Mas há muita parte da nossa educação que leva a que tenhamos tarefas diferentes. Por exemplo, há estudos de uma investigadora da Universidade de Chicago que descobriram que as mulheres professoras têm menos segurança sobre o conhecimento matemático que têm e as alunas são mais suscetíveis a isso do que os alunos, porque se identificam com a pessoa. Não sabemos se há diferenças físicas, mas há uma parte que passa culturalmente. Isso pode levar a que, quando o cérebro envelhece, se pense que algo se deve ao género, mas não se sabe quanto daquilo são as diferenças biológicas – que existem – ou são diferenças da vivência ou da educação. É importante no futuro perceber as diferenças biológicas reais. Isso é libertador até para as discussões de género, até em termos de tratamentos médicos.
Há cada vez mais casos. Mas o que é preciso é haver institutos dedicados à temática do envelhecimento. Há quem estude o tema, como eu e outros, mas não há institutos que se dedicam apenas a este tema. Na Universidade de Columbia, o Eric Kandel, que é prémio Nobel, descobriu que o declínio normal da memória é diferente de Alzheimer. Descobriu também, aí em conjunto com o investigador Gerard Karsenty, que aumentando a osteocalcina pode restaurar-se alguns dos défices de memória. Além disso, os estudos da Daphna Shohamy, que também é minha colega em Columbia, mostram que certos aspetos da memória melhoram com a idade. Não há só más notícias.
As de longo prazo estão lá, mas em outros tipos de memórias há diferenças e algumas são mais facilmente adquiridas. As memórias semânticas, relacionais, por exemplo.
O que toda gente tenta fazer é encontrar uma cura, algum fármaco que impeça que as células morram, no caso de Parkinson e Alzheimer, ou que restaurassem a função dos circuitos. Quais são os novos desafios? Um é ver se, com células estaminais, poderíamos restaurar, por exemplo, no caso Parkinson, células dopaminérgicas. Isso já está a ser feito. Já houve testes em ratos e está a começar a ser testado em humanos, mas não há ainda muitos dados. Outra área em que se está a investir é em perceber como a tecnologia de estimulação do cérebro pode ser usada – no caso Parkinson, de forma invasiva, com estimulação cerebral profunda, e, no caso do Alzheimer, com estimulação à superfície – e como pode melhorar a função dos circuitos. Do ponto de vista de poderem ser utilizadas em grandes faixas da população, estes são ainda estudos iniciais.
Sou otimista, mas do ponto de vista da ciência, isso significa algumas décadas. Nestas doenças, a pessoa pode deixar de ser pessoa e isso é terrível para a pessoa e para a quem a rodeia. O impacto em termos de custo para a sociedade é, neste momento, muito superior, nas doenças do cérebro do que no cancro ou em qualquer outra doença. Ali estão incluídas doenças que não têm a ver com a neurodegeneração, mas incluem-se no cérebro, como a depressão, para a qual há maior tendência com a idade, o que é algo de que não se fala muito.
É muito difícil. É preciso haver terapias e há bons psiquiatras que podem ajudar. As pessoas pensam que o psiquiatra é para fazer medicação e se calhar houve abusos no passado. Mas, por exemplo, nós aqui temos uma unidade de neuropsiquiatria, que tem neurologistas, psiquiatras, psicólogos e investigadores básicos de neurociência. Vemos pessoas de diferentes idades e tentamos sempre ter uma aproximação terapêutica que não tem a ver só com fármacos (às vezes nem tem mesmo a ver com fármacos, cada caso é específico). É muito importante a pessoa ter um diagnóstico com escalas cognitivas e ter dados reais. Temos de habituar-nos a efetuar esses diagnósticos. Se há diagnósticos físicos que fazemos a partir de certa idade, também temos de fazer estes.
Claro. Na doença cardiovascular, por exemplo, há o Estudo de Framingham, em que é feito o acompanhamento de muitas pessoas durante gerações. Como resultado, sabemos se estamos na curva e se há algum risco. No envelhecimento, não sabemos. Já não me lembro de alguma coisa. Será que estou a perder faculdades ou não? Não sabemos. Não há um standard.
É falta de investigação e do hábito de a ir a uma análise de rotina ao psiquiatra ou psicólogo especializados nos 50+. Tem de fazer parte da rotina, tanto mais que essa população será tendencialmente cada vez mais numerosa. Como é possível no século XXI estarmos a discutir as capacidades que se perdem ou não perdem e cada um de nós não sabe quantificar o que está a perder. Imagine que era assim com o colesterol?
Depois há o estigma. Hoje, com a audição, há auriculares fantásticos, mas há o estigma de usá-lo. Mas com óculos não há e é muito maior e invasivo. Porque já nos habituámos. Portanto, temos de convencer a Dolce & Gabbana a produzir auriculares [riso].
Sou um pouco cético nesse aspeto. Acho que desempenha um papel muito fraco, para ser honesto. Vejo muito mais o papel da sociedade, o papel de fundações sem fins lucrativos e associações de doentes. A maioria das grandes farmacêuticas está interessada pura e simplesmente em fazer dinheiro e quando há um risco [financeiro] muito grande… Há empresas farmacêuticas que abandonaram por completo os programas de Alzheimer e de Parkinson.
Quando afirmamos que, se calhar, em 2050, uma em cada cinco pessoas vai ter uma demência, é óbvio que temos de fazer algo. Dizem que é muito arriscado e não avançam. O que é muito arriscado é não termos nada. Por isso é que digo que o papel da indústria farmacêutica tem sido muito fraco e até me questiono se o Estados e as associações de doentes não deveriam continuar a ter um papel preponderante no controlo dos ensaios clínicos. Imagine que estávamos a falar de um vírus? Portanto, é inacreditável que nada seja feito. Não há nenhuma epidemia com probabilidades de um em cada cinco. As neurociências, e por isso é que a Fundação está a investir, são a área em que o custo para a sociedade e o que investimos como sociedade é maior.
É deixado ao resto da sociedade. O que é um pouco hipócrita é que se houver descobertas, querem “saltar” em cima e não deve ser assim. É claro que essas empresas devem ter lucro, mas com limitações, dado que todos nós investimos para o conhecimento. Mas isto já seria para outra conversa.
Tentou-se fazer um consórcio português, mas para ser exemplo mundial, com a liderança do Nuno Sousa da Universidade do Minho. O objetivo é fazer o tal estudo dos parâmetros normais de envelhecimento do cérebro. Contudo, confesso que não sei em que estádio está no presente.
Do ponto de vista do que o Estado faz, tenho de dizer que é desapontante. Aquele foi um esforço que se tentou fazer, com o Health Cluster Portugal, com um misto de iniciativas privadas e do Estado, mas não vejo evolução. A ciência em Portugal está numa crise muito grande e a investigação nesta área é muito pouca. A Fundação Champalimaud acaba por ser uma exceção, uma ilha.
Uma seria perceber como é que exatamente decidimos fazer ou não fazer uma coisa. Do ponto de vista de aplicação, se calhar seria perceber porquê que certas células morrem na doença de Parkinson e como é que podemos impedir isso. Portanto, uma teria impacto em termos de conhecimento e de aprendizagem e outra mais no impacto real. Isto do meu ponto de vista.
A nível geral – eu também estudo Alzheimer, mas menos. Abordo mais o Parkinson – o Alzheimer é muito mais prevalente. Portanto, alguém descobrir uma forma de impedir a neurogeneração ou a progressão da doença seria extraordinário.
A questão do avião foi só um exemplo. O nosso cérebro tem a capacidade de controlar o braço, uma caneta, um carro, um computador, etc. Então e se ligarmos o cérebro diretamente ao computador e se o cérebro aprender a controlar, imagine, um cursor ou se é para virar para a esquerda ou para a direita? Será que consegue aprender? O que vimos é que, sim, consegue aprender, e rapidamente, ao fim de uma semana. Com experiências feitas, mas ainda não publicadas, conseguimos perceber que não só conseguimos aprender, mas reter durantes dois anos.
Fizemo-lo com um capacete que consegue controlar não um músculo, mas a atividade da máquina. Usámos isso no avião, mas, por exemplo, estamos agora a utilizar a tecnologia em
jogos e para ajudar pessoas com hiperatividade, mas pode usar-se também para controlar cadeiras de rodas. Estamos, portanto, a desenvolver um dispositivo não invasivo para isso. A ideia é que, no futuro, possa ser usado para gestos do dia a dia, como baixar estores ou ligar a televisão. E pode ter um grande impacto no escalão 50+, dado que o cérebro pode passar a controlar mais do que o corpo.
Nota: Esta entrevista hoje publicada é a entrevista integral feita ao Neurocientista Rui Costa e que foi publicada em parte na Edição em papel do Impulso+ no Jornal Publico, em 2019. Pela pertinencia do tema e a grandeza do entrevistado, reeditamos e publicamos na integra.