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Não deixa de ser interessante recuar no tempo e recordar os tempos em que os nobres e burgueses eram tratados nas suas casas. As ‘hospedarias’ da época ora acolhiam os peregrinos, ora assistiam os necessitados e desamparados que necessitassem de ajuda por organizações de caridade. Volvidos séculos o hospital passou a ser símbolo de todos os recursos disponíveis para o tratamento de doentes de qualquer classe social. E no século XX Portugal conheceu o Sistema Nacional de Saúde, garantindo a todos o acesso à saúde e contribuindo decisivamente para o aumento da esperança média de vida.
Contudo, hoje os hospitais deparam-se com «problemas reais», designadamente a «sobrelotação e uma incapacidade de resposta», referiu a Dra. Vitória Cunha, médica interna do Hospital Garcia de Orta, que falava durante a 7ª sessão do Simpósio InterAções.
Os hospitais de dia, a cirurgia de ambulatório, as unidades de curta duração, as unidades de diagnóstico rápido e também as unidades de hospitalização domiciliária fazem parte de uma nova resposta dos hospitais à necessidade de assistência dos doentes.
«As unidades de hospitalização domiciliária são no fundo alternativas ao internamento convencional», explicou a Dra. Vitória Cunha. «Significa o tratamento do doente agudo hospitalizado em casa. Tentamos de alguma forma uma maior humanização dos cuidados, de uma forma um pouco diferente daquela que teríamos na enfermaria convencional, mas sempre com cuidados a nível hospitalar prestados no domicílio do doente. A eficácia e os resultados clínicos têm-se revelado semelhantes ao internamento convencional e com iatrogenia diminuída», explicou.
Para a Dra. Vitória Cunha «continua a ser muito difícil ganhar a confiança dos doentes e familiares/cuidadores e com isto conseguir de alguma forma parcerias e responsabilização nos cuidados. Ou seja, quer o doente compreender melhor a sua doença, quer o envolvimento dos familiares e cuidadores».
Acresce que «temos de aprender a tratar em casa, muitas vezes usar ferramentas diferentes para chegar ao mesmo tipo de resultado e, obviamente, manter os resultados clínicos sobreponíveis aos do internamento convencional».
«Acabamos por perceber que a hospitalização domiciliária é mais um passo na transição do hospital para casa, colocando o doente um bocadinho mais próximo daquilo que é depois a comunidade em si, colocando no seu ambiente e já com as pessoas com quem é suposto ficar depois da alta hospitalar», referiu.
E as oportunidades são grandes: «há uma grande satisfação por parte dos profissionais de saúde no tipo de cuidados que são prestados e no feedback que temos do doente». Além de «uma recuperação muito mais rápida dos indivíduos quando estão em casa», acrescentou a Dra. Vitória Cunha.
Entre os benefícios da hospitalização domiciliária destacam-se:
- mais tempo para o utente / dedicação exclusiva
- mais educação para a saúde / melhor adesão / reconciliação terapêutica
- maior envolvimento do utente e família na doença
- melhor articulação com cuidados de saúde primários
- maior satisfação dos profissionais de saúde
- menor deterioro do estado funcional e recuperação mais rápida
As primeiras unidades de hospitalização domiciliária surgiram nos anos 40, nos EUA. Mas só em 2015 se estrearam em Portugal. Foi o Hospital Garcia de Orta a criar a primeira unidade em Portugal, sendo que neste momento já quase 30 hospitais adotaram este tipo de internamento.
«Temos criado super doentes, pessoas mais capazes, mais fortes, com ligações mais fortes ao hospital, à comunidade e à família. E esperamos que este trabalho seja para continuar e alargar a todo o país», conclui a Dra. Vitória Cunha.
Vitória Cunha, do Hospital Garcia de Orta; Sofia Duque, do Hospital Francisco Xavier; Maria Manuela Marques, da Santa Casa da Misericórdia de Lisboa; António Martins, do Hospital Ortopédico de Sant´Ana foram os oradores convidados da sessão ‘Do hospital à comunidade: estratégias de efetivação da continuidade dos cuidados’, moderada por Mário Rui André, Diretor da Unidade de Missão da Santa Casa da Misericórdia de Lisboa.
Uma sessão integrada na 3ª Edição do Simpósio Interações – Uma Sociedade para Todas as Idades, organizado pela Unidade de Missão ‘Lisboa Cidade de Todas as Idades’ da Santa Casa da Misericórdia de Lisboa.
Esta foi a sétima sessão de um conjunto de 16 sessões, todas com transmissão online e gratuitas, sempre às quartas-feiras, com início às 14h30.
Saiba mais AQUI sobre esta iniciativa. E não deixe de ver ou rever a sessão completa no canal do Youtube da SCML.