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A junção destas duas palavras numa mesma frase, para algumas pessoas, poderá ser controversa. Para umas, o verbo cuidar não se coaduna com a vertente do processo criativo e expressivo inerente à exploração de uma determinada linguagem artística, com a qual os artistas se relacionam com o mundo. Para outras, a palavra arte estará confinada ao contexto da cultura e do espectáculo e, como tal, distante da acção de cuidar inerente aos contextos de saúde e assistência.
Porém, o seculo XXI têm sido palco de inúmeras manifestações científicas que sustentam os reais benefícios das artes ao nível do bem-estar físico, mental, social e emocional, entre outros benefícios em contextos assistenciais e hospitalar.
De acordo com um estudo realizado pela OMS (2019), assente numa revisão abrangente sobre arte e saúde, concluiu-se que não só algumas intervenções artísticas produzem bons resultados, como oferecem soluções que a medicina tradicional não conseguiu alcançar de forma eficaz. Consequentemente, o interesse pelo papel das artes no âmbito da saúde, tem vindo a ser substancial!
Estas novas intervenções assentes em linguagens artísticas, como a dança, a música, o teatro, as artes visuais, etc., têm vindo a demonstrar o seu impacto positivo, em diferentes contextos de doença, nomeadamente na demência e doenças neurodegenerativas, que se manifesta na melhoria do bem-estar e qualidade de vida, metas essenciais quando infelizmente não existe um tratamento de cura.
Sabe-se, por exemplo, que a dança pelo seu impacto positivo, em áreas como força, condicionamento físico e equilíbrio, tem sido enormemente destacado no âmbito das deficiências físicas e doença de Parkinson. Paralelamente, aos seus enormes benefícios no combate à solidão e na melhoria da gestão emocional e confiança, na relação com a doença.
Por outro lado, a música pelo seu poder mágico de evocar uma emoção, uma sensação ou uma memória do passado tem sido especialmente destacada em casos de demência e alzheimer. Uma ferramenta poderosa que permite favorecer, por exemplo, a memória autobiográfica, as habilidades de linguagem, assim como, beneficiar a saúde ao nível da diminuição do stress, ansiedade, dor e melhoria da qualidade do sono e da função imunológica.
O contacto com as artes visuais favorece a estimulação dos sentidos, promove a capacidade da atenção e concentração, e possibilita a capacidade de abstração relativamente a preocupações, dor ou desconforto, podendo ser especialmente benéficas para adultos-seniores. Para pessoas com demência e seus cuidadores é, também, uma experiência que comporta benefícios significativos, não só a cada um individualmente, como ao nível da comunicação e cumplicidade da relação.
Porém, é ainda necessária uma mudança de paradigma na nossa sociedade para que as artes definitivamente possam vir a ser integradas no panorama das novas políticas de saúde, e para que as linguagens artísticas, a criatividade e a imaginação sejam considerados agentes activos do bem-estar e da promoção da saúde.
Por isso, e para que tal aconteça num futuro próximo, todos devemos ser agentes activos, críticos e interventivos da nossa saúde. Consciencializar-nos para novas formas de pensar e fazer saúde e, adquirir novas competências e ferramentas para enriquecer os espaços de relação com aqueles a quem cuidamos. Em suma, abrir-nos a novas possibilidades ao nível de intervenção não farmacológica para potenciar e investir em novas directrizes de acção e intervenção, em contextos de assistência e de saúde.
Porque a arte transforma, movimenta, aproxima. A Arte Cuida!
Sobre a autora:
Rita Machado, psicóloga clínica, arte-terapeuta e experiência profissional em mediação artística e cultural, em contextos de saúde.
Criadora e fundadora da plataforma AMPLITUDE onde, junto de profissionais de saúde e cuidadores, apela à importância do papel da Arte em contextos de assistência para repensar e enriquecer a acção de cuidar!