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A importância do relacionamento intergeracional para o aproveitamento das oportunidades

01/12/2022 | Sílvia Triboni

A importância da intergeracionalidade nos projetos e na sociedade Fonte: Silvia Triboni A importância da intergeracionalidade nos projetos e na sociedade Fonte: Silvia Triboni

SilviaOlá, Lala. Obrigada por no conceder esta entrevista. Gostava de começar por perguntar onde estamos e quais as oportunidades à nossa frente? Como agir diante destas oportunidades?

Lala Deheinzelin - A primeira coisa importante a compreender é que a história tem ciclos. O que nos ajuda a compreender onde estamos. Não estamos totalmente perdidos. O ciclo maior de todos é o da própria vida que quer evoluir. E evoluir é organizar-se de forma mais colaborativa.

Nós, enquanto sociedade, estamos como se fossemos a célula que ainda não sabe que faz parte de um organismo. Em ciclos menores, temos alternância entre momentos de concentração e momentos mais horizontais, mais em rede, mas com mais foco no coletivo.

Estes são ciclos de 500 anos. O último deles foi o que resultou na ponte Portugal e Brasil, graças às estruturas horizontais dos jesuítas que permitiu um grande avanço do conhecimento.

O ciclo mais curto é o de 90 anos que corresponde às "estações do ano". Temos o Inverno que é o período de crise. A última crise foram as guerras e a depressão de 29. Com a crise, o coletivo precisa de criar novas maneiras de se organizar e criar coisas para todos... para a colectividade.

Depois vem a primavera. Agora, estamos de novo no inverno.

Respondendo a pergunta sobre o que fazer, diria que seja em qual dos ciclos for, a chave está na colaboração. Fazer em conjunto. Criar novas instituições, ferramentas e plataformas para isso.

A boa notícia é que nunca houve um momento como este com tantas condições para chegar realmente em um estagio de evolução de bem comum como agora. Podemos perceber o que está a acontecer globalmente graças à tecnologia. Antes não era assim.

Hoje podemos criar maneiras e soluções de nos organizarmos para além do Estado.

Estámos a viver um momento impressionante onde as escolhas que fazemos, impactam o nosso futuro. Temos as condições para impactar positivamente este futuro, para criar novos negócios, novas estruturas, desde que sejam colaborativas. Desde que tenham um objetivo comum de futuro e que integrem o uso das tecnologias.

 

SilviaFalando dessa positividade em relação ao futuro, o que diria sobre o relacionamento intergeracional e de que forma este pode contribuir para o esse futuro que pode ser fantástico para toda a humanidade?

Lala Deheinzelin - A primeira coisa que é chave na existência deste planeta é entender que tudo tem dois lados. Vivemos em um mundo que é dual. Dia noite. Masculino, feminino. Isto significa que qualquer processo que a gente faça, ele precisa ser sempre híbrido.

Nós achamos lindo as culturas tradicionais mas achamos horrível ficar velho. Todas as culturas tradicionais tem os conselhos de anciãos porque eles já passaram por varias etapas diferentes. Todo projeto deveria ter jovens, os nativos digitais sem muitos dos vícios e das dores que nós tivemos, mas precisa de pessoas que já tiveram experiência como a nossa.

Eu conheço a última crise através de meus pais que saíram da Europa por causa da guerra. Vivi o momento de estruturação desta nova fase, cresci com a ditadura, coisa que muitos de nós conhecemos inclusive aqui em Portugal.

A questão é a gente fazer tudo de forma híbrida. Vemos que startups morrem todos os dias. Será que morreriam se cada startup tivesse um partner senior? Em todas as coisas e soluções, precisamos promover esta dupla visão.

Estamos a envelhecer de uma forma que nunca aconteceu. Somos a primeira geração que não é velha com 50 ou 60 anos.

Temos um patrimônio imenso de conhecimento, de experiencias, de relações, de tempo e eventualmente algum patrimônio monetário que pode ser investido de forma extraordinária.

A única coisa que não pode acontecer é ficar com todo este patrimônio de tempo, dinheiro, experiência, deprimido dentro de casa vendo TV. Não! De jeito nenhum! O que a gente faz para que isto aconteça?

Fazemos coisas como o seu trabalho, Silvia. Sair pelo mundo, se conectar, juntar-se a projetos que precisam de sua inteligência, de suas redes de relação.

O que tem é que isso é muito novo.

A imagem do envelhecimento atual infelizmente einda é esta: já criei um filho, agora ficarei na cadeira de balanço a esperar a morte.

 

SilviaLala, para encerrar esta nossa conversa, gostava de lhe pedir se nos poderia deixar um conselho ou uma palavra final?

Lala Deheinzelin – Devemos ter a consciência do nosso papel. Quando cheguei a Portugal, percebi que este é um pais de uma grande diversidade e abertura. É um caldeirão multicultural. Não é por acaso que estamos na Web Summit, em Portugal. Não é por acaso, que acontece aqui.

Então, preste atenção no que está a acontecer, e junte-se a este movimento.

Saiba mais sobre Lala Deheinzelin, considerada uma das 100 mulheres do mundo que estão a cocriar a nova sociedade e a economia.