Lidar com o processo de envelhecimento | Dar vida aos anos

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Lidar com o processo de envelhecimento

01/11/2021 | Júlio Sequeira Raimundo

Júlio Raimundo dá o seu testemunho de vida e de envelhecimento Foto: Júlio Raimundo Júlio Raimundo dá o seu testemunho de vida e de envelhecimento Foto: Júlio Raimundo

Para abordar o tema “ Como estou a lidar com o processo de envelhecimento” escolhi esta passagem, que de algum modo poderá ter alguns contornos verdadeiros, mas é francamente irreal na maioria dos outros.

Tenho 78 anos, ainda fresquinhos e ao longo da vida cedo percebi que a actividade física, designadamente ao ar livre contribuiria para que este estado natural da natureza humana, o envelhecimento, que acontece logo após o nosso nascimento, poderia ser compensado.

No entanto, só mais tarde se percebe, que o desenvolvimento e harmonia das várias etapas da vida, desiguais entre si, são carentes de mais atenção e respeito.

Claro, que as responsabilidades recaem sobre vários actores diferenciados, uns de caracter individual e outros colectivos, mas nunca descartando a responsabilidade e protagonismos individuais.

Trabalhar o envelhecimento ativo

Vamos então aos factos, em que o actor é o próprio escrevente.

Por volta da segunda metade dos anos oitenta do século passado, o horário dos estabelecimentos bancários sofreu uma profunda e desajustada alteração, isto é, a hora de abertura e a entrada para os seus trabalhadores, onde eu me incluía, passou das 10H00 para as 08H30.

Os bancos passaram entretanto a encerrar às 15H00, embora os seus trabalhadores permanecessem mais tempo no interior para a preparação do dia seguinte, mas às 16H30 já estavam na rua. 

Tão cedo?

Pois, e sendo assim, procurei adaptar-me à nova realidade, mas porque não querendo seguir as pisadas de muitos dos meus colegas, indo para as petisqueiras da tasca e também porque não pretendia desempenhar outras funções laborais (o que o Banco me pagava era suficiente para viver uma vida digna e sem percalços de maior), pensamento talvez precipitado, mas do qual ainda hoje não me arrependo.

Com este quadro pela frente, marquei uma consulta médica, com uma sugestão elencada: praticar atletismo em modo de jogging. O doutor percebeu a intenção e deu-me a receita com a dosagem indicada: correr 500 metros, descansar e continuar o processo, aumentando dia sim, dia não a distância a percorrer.

Bom, ao fim de mês e meio de “tratamento” já fazia 8,9,10 Km sem paragem para descanso. Comecei até a participar em provas de atletismo, mas apenas com um compromisso, chegar ao fim.

E chegava.

De referir, que ao longo dos percursos, os chamados treinos, muitos deles já diariamente, mentalmente, ia traçando projectos, apreciando a paisagem e a pouco e pouco comecei a sentir uma disponibilidade, tipo alívio mental, que me permitiu, p.e. (re)começar a leitura com mais frequência e “apetite”.

Voltando ao médico, dando conta dos resultados do “tratamento”, fiquei a saber, que a corrida, obrigando a uma melhor irrigação sanguínea, melhorava o desempenho dos neurónios. Coisa que ficamos a saber quando gostamos do que estamos a fazer.

Nessa altura já era CINQUENTÃO.

O tempo da Reforma…ainda que antecipada

Entretanto, e passada uma dezena de anos veio a reforma antecipada (havia pessoal a mais e era conveniente passá-los do activo para o passivo).

Continuei o desempenho da actividade física ao ar livre, agora já sem necessidade de voltar à consulta médica, pois a receita preventiva preencheu o objectivo proposto e desejado.

Percebi entretanto, que ainda podia ser útil no meio onde continuava a viver e assim, entre 2001 e 2009 dirigi uma empresa cooperativa de consumo pro bono, nos dois primeiros anos, e depois remunerada, moderadamente.

Com perto de 100 trabalhadores, hoje chamados “colaboradores” e com um volume de negócios rondando meia dúzia de milhões de euros, mensalmente, para além da responsabilidade carecia de muito trabalho de direcção, não tendo dúvidas que a actividade física que continuava a desenvolver tinha um papel fundamental no desempenho profissional que todos os dias tinha pela frente.

Mas, como tudo tem um princípio e um fim, senti a necessidade de partir para outra actividade, que não me desgastasse tanto, mas não parando.

“PARAR É MORRER”, sempre ouvi dizer e nunca duvidando.

Voltei-me para a participação em viagens de turismo no país e algumas delas em terras de “nuestros hermanos”, que fiquei a conhecer melhor e nessa altura já com uma máquina fotográfica a tiracolo.

Transformei-me num fotógrafo amador já com acervo fotográfico composto por milhares de fotografias de vários géneros, tons e temas.

Hoje, com os tais 78 anos é o meu hobby de excelência.

Nesse intervalo, em 2015, inscrevi-me na Universidade Sénior de Beja (USB), não o tendo feito mais cedo porque a cessação das responsabilidades empresariais exigiram um pedaço de “sossego”, como se diz aqui pelo Alentejo.

Com a licenciatura (?) concluída, a matrícula vai ser renovada no pressuposto de concluir o mestrado …

Julgo-a também responsável por aquilo que penso ainda possuir, uma mente saudável.

É aliás o lema da Universidade:

“Universidade Sénior de Beja / Mens Sana in Corpori Seniori”

O ano passado, por razões sobejamente conhecidas, não houve aulas presenciais, mas entretanto, a RUTIS, associação que congrega as universidades séniores do país, encetou o processo de aulas virtuais, via ZOOM, que também frequentei algumas delas.

Foi daqui que, indirectamente, apareceu um contacto inesperado e na Mesa do Café da Manhã colocaram-me o Curso Repórte 60 + ( Portugal), iniciativa brasileira  e até agora o primeiro e último realizado no país.

A experiencia do Curso Reporter 60+

O Curso Repórter 60+ ( Portugal) decorreu no período de 04 de Maio a 29 de de Junho, com uma carga horária de 31 horas.

A par dos ensinamentos por parte dos vários pedagogos convidados, a coordenação do curso foi efectuada por Lilian Liang, a partir de São Paulo e por Sílvia Triboni, em Lisboa.

Durante esse período várias revistas e plataformas digitais foram apresentadas e trabalhadas, cujo foco variava entre o envelhecimento activo saudável e a longevidade.

A Plataforma Digital “Impulso Positivo” veio várias vezes à baila, daí não ser um parceiro desconhecido para os alunos participantes.

Pessoalmente, no primeiro dia de apresentação, focada nos pressupostos e finalidade do curso, referi que o encarava com uma “FASQUIA” demasiado alta.

Contudo, ultrapassada a barreira com todos os objectivos satisfeitos, glosei a situação com uma historieta de cariz radiofónico brejeiro, ocorrida no Alentejo, cantando, “O Crachá e o Diploma já cá cantam “.

Fiquei tão consolado, que me atrevi a fazer a proposta para que a Lilian Liang e a Sílvia Triboni organizassem no nosso país um Repórter 90 +(Portugal)

O convite para o Impulso Positivo

Com a via aberta , também via ZOOM, aparece agora uma explicação exaustiva da Plataforma Digital “Impulso Positivo” na pessoa da sua directora executiva sobre o seu papel pedagógico na sociedade, enquanto agente motivador e proeminente nas vertentes do envelhecimento e longevidade e não bastasse esse facto, o convite para os focas do Repórter 60 + ( Portugal) poderem colaborar.

Para o “Impulso Positivo” fica o aviso, que a “FASQUIA” continua presente, agora talvez menos tensa e de pendor mais ultrapassável.

Se este trabalho, o meu primeiro ensaio, tipo “CASTING” reunir os pressupostos mínimos exigidos, ficarei com ânimo suficiente para poder encarar futuras presenças, mas se tal não acontecer, o septuagenário, Júlio Raimundo, não se irá abaixo.

NB- A resposta que dei quando me disseram, “eh pá”, cada vez estás mais novo, foi do género, “vê-se mesmo que não dormes comigo”.

Júlio Sequeira Raimundo  - Julio.raimundo@hotmail.com