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Tal como já tenho referido vezes sem conta, existem coisa na vida que não queremos nem podemos por termo ou controlar e a longevidade é uma delas.
Ainda mais agora que as pessoas começam a tomar consciência de que vão viver mais tempo, embora não saibam bem de que forma e como “garantir” que vivem bem.
Ainda mais agora que o mundo da inovação olha para o envelhecimento como um alvo a abater e onde se estão a investir muitos milhões em desenvolvimento científico com o intuito de parar o processo de envelhecimento.
Ainda mais agora que entramos numa outra etapa do investimento público para tornar o ambiente mais saudável, onde se fala mais de bairros promotores da longevidade que de bairros amigos de todas as gerações, um conceito que é a evolução do conceito de bairros amigos dos mais velhos.
Vamos viver mais tempo. Mesmo com todo o impacto negativo da pandemia que teima em ficar por aqui e que não nos permite tirar as máscaras, voltar a dar beijinhos e abraços como antes.
Mesmo com toda a falta de saúde mental e emocional, vamos sem dúvida viver mais tempo, é um facto.
Sendo, portanto, a longevidade um facto, pode surgi a pergunta: Porquê desígnio nacional? Por duas simples razões:
Primeiro, porque é preciso promover a literacia para a longevidade.
Apercebemo-nos que vivemos mais tempo, mas não sabemos como atuar no sentido de promover uma longevidade positiva.
Não sabemos o que fazer para termos um futuro mais sustentável, ainda mais com a crescente incerteza que paira. Longe vão os tempos em que podíamos planear algo e ter quase a certeza de que esse algo iria acontecer.
É preciso que as pessoas percebam o que significa a longevidade, o que implica termos vidas mais longas. É preciso perceber que longevidade é muito mais do que saúde e poupança e que nem tudo é mérito pessoal. Há que educar para a vida mais longa, principalmente as gerações mais novas.
Segundo, porque em países como Portugal, existir uma estratégia para a longevidade que implique o desenvolvimento de um cluster económico é um caminho para o crescimento económico que pode minimizar o impacto da atual crise.
No projeto que foi feito pela 40+ Lab para a Fundação Calouste Gulbenkian (Foresight Portugal 2030 ) ficou claro que as economias que procuram estar à frente, as mais inovadoras e competitivas, já têm uma estratégia para a longevidade numa lógica de promoção da economia da longevidade, com a criação de estruturas governamentais interministeriais e de longo prazo.
são hoje fatores importantes que estão a ser tidos em conta por investidores e empreendedores que, trabalhando na área da longevidade e da economia da longevidade, escolhem Portugal como porta de entrada na Europa e na União Europeia.
Termos uma estratégia de promoção do desenvolvimento da longevidade como cluster económico é fundamental para tirar maior proveito daquilo que já está a acontecer, mas que não está integrado numa estratégia de desenvolvimento do território, de promoção de sustentabilidade social e nem de internacionalização da nossa oferta.
Quase diariamente contacto com start-ups que querem fazer o landing na Europa através de Portugal e o facto de sermos o 4º país mais envelhecido do mundo está a colocar-nos no radar daqueles que estão a investir e a desenvolver soluções promotoras da longevidade e do envelhecimento.
Como costumam dizer:
“vocês são um bom país para se lançar novas soluções e testar inovação”.
Muito do que é o trabalho diário da minha equipa na 40+ Lab passa por trazer a inovação para os negócios e agora para os territórios. Estamos constantemente a trabalhar para promover o crescimento dos negócios e em algumas situações, o que propomos pode ser um pouco ousado, ou fora da caixa, como se diz, mas a verdade é que não somos nem tão ousados nem tão fora da caixa. Só estamos em linha com o que de melhor se desenvolve no mundo.
Refiro isto, não para promoção da consultora que tenho o prazer de dirigir, mas para dar um exemplo concreto daquilo que é preciso fazer – atuar junto dos grandes stakeholders que têm a capacidade de mudar mentalidades para que a longevidade seja um dos pilares de promoção dos negócios.
A longevidade tem de ser um desígnio nacional porque é através da promoção do crescimento económico, da inovação e da criação de emprego que se pode, hoje, minimizar o impacto da atual crise. Principalmente num país onde, em 2020 e segundo dados da Pordata, mais de 17% dos portugueses com 65 e mais anos de idade eram pobres.
Número que, infelizmente, tende a aumentar se nada for feito.
Sobre a autora: Ana João Sepulveda - CEO 40+ Lab - Presidente da associação Age Friendly Portugal. Embaixadora da rede Aging2.0 para Lisboa. Ana.sepulveda@40maislab.pt