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Como já ouvi algumas vezes, mulheres não ficam grisalhas, ficam loiras. Mas no meu caso, por escolher o tom vermelho intenso, a correção dos fios brancos que surgiam em menos de dez dias obrigava-me a visitar o salão de beleza cada vez mais em menos tempo. O que era um prazer, virou obrigação e consequentemente um fardo.
Não voltei!
Foi aí que descobri nas redes sociais uma série de mulheres passando pelo mesmo processo. Um movimento global.
Desvendei as várias fases da transição, dicas de beleza, reclamações sobre a falta de produtos específicos, acompanhei processos inteiros de outras mulheres que fotografaram mês a mês a sua jornada. Rememorei a divina Meryl Streep como Miranda Priestly em Diabo veste Prada de 2006.
Rita Lee, a minha inspiração, já os tinha em 2015.
E como foi cool ver Glória Pires e Samara Felippo grisalhas também!
Sinal de que as tendências surgem num crescente e destravam comportamentos, valores e opiniões. Eu nunca imaginei que estaria a escrever sobre mulheres de cabelos brancos. Era impensável para mim, deixar os meus cabelos sem tinta. E aqui estou!
Fato esse que não nos livrou também de todos os adjetivos pejorativos desqualificando a nossa decisão e passar por essa transição cinza não é fácil. Os diversos tons de cabelo que surgem nessa descoloração natural (o meu cabelo assumiu três tons! prata, laranja, vermelho desbotado) abriu espaço para os olhares de reprovação, conselhos para não continuar o processo, mas também uma rede de apoio para não fugir do propósito porque a transição é lenta e demorada, um verdadeiro teste de persistência e força de vontade.
Ao entrar na sala de aula e vislumbrar os olhares, digamos, curiosos dos alunos diante do meu cabelo multicolor, costumava já dizer, eu estou em transição capilar! Ainda precisamos justificar as nossas escolhas!?
Sim porque é um comportamento aprendido culturalmente, mulheres com fios brancos são velhas, ou desleixadas, ou coitadas por carregarem nos seus genes a má sorte de terem os malditos fios brancos desde jovens, ou são novas demais para assumi-los - ainda nem chegou aos 50!
Entretanto, algo muda.
Para o nosso deleite o festival de Cannes tornou-se tendência grisalha. Obrigada Jodie Foster, Helen Mirren e Andie MacDowell por nos representarem lindamente!
Culpa, em parte, da pandemia que levou mulheres a olharem-se no espelho e, mais ainda, para dentro de si mesmas e descobrirem as suas raízes:
Jamie Lee Curtis plena!!!! - e médios escovados.
Não importa o tamanho, a tonalidade do cinza ou penteado. Importa estar bem com a sua escolha e principalmente estar bem consigo mesma!
A tendência grisalha é uma das dimensões na mudança de pensamento quanto a diversidade de comportamentos.
Isto se reflete nas evidências e narrativas emergentes de convivência com o diferente, do discurso da autenticidade, do fora do padrão, da escolha emocional individual, de não rótulos que fomentam novas reflexões, posturas e representatividades.
Os cabelos são parte dessa identidade feminina que reflete amor-próprio, liberdade, alegria, sensualidade. É a moldura de si.
Para as mulheres, uma escolha. Para as marcas, um desafio. Para os estudos de tendências, um campo de descobertas. Vamos a isso!
Não perca o nosso podcast com Patrícia Gonçalves acerca das mulheres de 50 anos.