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O financiamento do Sistema de Segurança Social no contexto da robotização e da perda de emprego” foi alvo de discussão num painel que teve Rui Leão Martinho, bastonário da ordem dos economistas como moderador, Pedro Corte Real economista na FCT-Nova e Pedro Duarte Jurista na Microsoft como oradores.
Pedro Corte Real focou a sua apresentação no impacto a Robotização e da Inteligência artificial e como financiar a segurança social, começando por referir um estudo de referência dos economistas Carl Benedikt Frey e Michael A. Osborne da Universidade de Oxford que nos indica qual a probabilidade dos nossos empregos e parte das tarefas serem realizados por um robot (WillRobotstakemyjob.com). O referido estudo deixa uma dura notícia, apontando para que 47% do emprego nos USA esteja em risco com o advento da robotização.
“Importante referir, que independentemente da profissão e do trabalho realizado, o que é relativamente consensual entre os investigadores, é que são necessárias novas competências nas áreas digitais para diminuir o gap entre as pessoas” refere o orador, o que se denomina na gíria como “Digital Divide”.
“Os sistemas de proteção social são lentos na adaptação pois tem relação com um grande conjunto de disciplinas como é a fiscalidade ou a economia por exemplo. Mas uma coisa é clara. Se deixarmos as pessoas fora do sistema, vamos ter um problema no futuro. As sociedades têm que se adaptar. Existe uma falta de dinamismo em Portugal” acrescenta. “Temos que ter políticas de emprego, educação, ciência, empreendorismo que conjugadas criem a nova arquitetura do sistema de proteção social. Falo em arquitetura e não em reformas pois já fizemos 4 “reformas” da segurança social e efetivamente muito pouco foi feito, refere Pedro Corte Real.
Do lado do emprego, refere algumas das grandes tendências e alterações que estão a emergir como o aumento da contratação a micro, curto ou medio prazo para projetos ou tarefas determinadas, ou ainda modelos em que quem acaba primeiro um trabalho, é quem recebe (winner takes it all)”, exemplifica o orador. Refere ainda a necessidade de termos maior mobilidade no emprego pois cada vez o espaço fisico é mais caro o que faz emergir novas formas de trabalho, como o trabalho remoto estar cada vez mais em voga. E ainda a ausência de um horário laboral de trabalho, possível com o suporte na tecnologia emergente ou já existente como por exemplo a tecnologia Blockchain.
Do lado do empreendedorismo, existem cada vez mais pessoas a fazerem atividades para várias empresas, visível através do aumento do número de empresas em nome individual que estão a surgir, transitando o risco da empresa para o empregado, o que resulta de uma dinâmica bilateral e que muitas vezes parte mesmo do empregado. Citou o exemplo dos hackers que querem trabalhar por conta própria ou invés de estarem ligados a uma entidade única.
Seguiu-se Pedro Duarte Jurista da Microsoft, que começa por nos apresentar uma imagem de NY nos anos 1902 onde apenas vemos carruagens puxadas a cavalo. Uma segunda foto de 1920, do mesmo local onde podemos ver carros em vez das referidas carruagens, o que na época representou uma perda de 100 mil postos de trabalho. Assim o que assistimos é que historicamente, a evolução implica perda de empregos, logo substituída por novos, com o aparecimento de outras profissões e trabalhos.
“A história diz-nos não haver perda líquida de emprego. Mas não sabemos o que se vai passar, pois hoje em dia há grandes diferenças face ao passado e que tem a ver com a velocidade com que as tecnologias são incorporadas e chegam aos 50 milhões de utilizadores, à abrangência da tecnologia, que está ao alcance de todos e ao aparecimento da nova economia com um grande impacto no nosso quadro mental e social” refere Pedro Duarte.
“A realidade é que já não são apenas as profissões com menos competências e formação que estão em risco”, referindo-se por exemplo ao caso dos médicos radiologistas.
Os novos tipos de emprego privilegiam novos tipos de relações contratuais, novos serviços, novos modelos de negócios, sazonalidades distintas, novas geografias de trabalho e mudança de canais de distribuição. Comprar online uma T-shirt, receber um código e imprimir na loja da esquina numa impressora 3D é cada vez mais uma realidade, dá como exemplo.
As mudanças estão a acontecer com uma enorme rapidez, contrariamente as outras revoluções industriais onde havia uma geração de distancia para adaptação.
Tudo isto coloca um enorme desafio ao modelo social e ao sistema de segurança social.
Pedro Duarte sugere uma série de soluções que passam por mudar o paradigma, por “desligar” o apoio social dos contratos de trabalho passando a ser mais o cidadão e menos a empresa a suportar, que designa de sistema de proteção de cidadania. A existência de pensões como sistema complementar em que poderá ser cofinanciado por todos os que querem contribuir e a necessidade de requalificação das competências para este novo mundo. Refere ainda o “Multilateralismo” - a taxação das empresas numa logica global pois a internet não tem fronteiras e o “Stakeholdarismo” que tem a ver com a com a força e o poder das comunidades e que obriga a uma atitude por parte de todos.
Existem sem dúvida enormes desafios que se colocam nesta nova economia a que todos devemos estar atentos e ganhar competências, transformando os desafios em oportunidades.
Ainda sobre a conferencia, poderá ver a opinião de Miguel Coelho