Introduza o seu e-mail
Esta semana fui a uma consulta com uma médica que me segue há muito tempo, porque sempre achei que tinha, e realmente tem, uma abordagem muito positiva em termos de saúde e bem-estar.
De repente, ao pagar a consulta na clínica onde ela agora atende, deparei-me com o nome que agora deram à sua especialidade: “consulta anti-aging” ou, em português de Portugal, “consulta anti-envelhecimento”.
Fiquei chocada, porque o que eu procurava era receber conselhos e indicações para continuar a sentir-me bem comigo própria à medida que os anos avançam, apostando na prevenção para um dia quem sabe chegar aos 88 anos como a Judi Dench chegou e não tentar evitar o inevitável.
Como podem ver pelo exemplo acima, a linguagem é um instrumento fundamental na comunicação e na forma como encaramos o mundo à nossa volta. A forma como utilizamos as palavras e os termos tem uma importância significativa na nossa perceção da realidade e, por conseguinte, no modo como tratamos determinados assuntos.
Um exemplo disso é a forma como atualmente se fala na nossa sociedade sobre envelhecimento, utilizando o termo “anti-envelhecimento” como se de uma cura se tratasse. A palavra sugere a velhice como uma coisa negativa em si, que tem de ser combatida.
Em contrapartida, o termo "pro-aging", ao contrário, sugere que a velhice é natural e positiva: em vez de lutarmos contra ela, devemos aceitá-la e valorizá-la.
Ao adotarmos uma abordagem "pro-aging", somos incentivados a cuidar de nós próprios e a desenvolver estilos de vida que nos permitam envelhecer de forma saudável e ativa. Quem defende este termo, sejam gerontólogos, médicos, psicólogos e outros especialistas em envelhecimento, argumentam que o que é importante é mudar a forma como pensamos sobre o envelhecimento, procurando maneiras de apoiar as pessoas à medida que vão tendo mais idade.
Por isso quando a emblemática revista Allure declarou em 2017 que abolia a palavra anti-aging da sua revista, provocou uma revolução no mundo editorial pois com esta posição radical serviu de referência a outras que a seguiram.
Já falámos da importância da linguagem e dos termos utilizados, mas a forma como o comunicamos também o tem, pois o seu impacto reflete-se na forma como as pessoas veem o mundo, o que por sua vez, inclui a forma como se veem a si próprias.
Por isso quando a comunicação veicula um termo anti-envelhecimento, ela contribui para uma sociedade que valoriza a juventude acima de tudo, com campanhas que de uma maneira geral se preocupam mais em mostrar pessoas jovens e bonitas, sugerindo que o uso de determinados produtos ou tratamentos pode manter tais virtudes por mais tempo. A utilização de palavra como "rejuvenescimento" leva os consumidores a comprar esses produtos em busca da eterna juventude, o que pode provocar efeitos negativos na sua saúde mental e no seu bem-estar.
Em contrapartida, a publicidade pró-envelhecimento pode ajudar as pessoas a aceitar e a valorizar um processo que é natural, servindo de inspiração para que os consumidores cuidem de si mesmos e assim possam viver uma vida longa e saudável. O que se pretende é mostrar a beleza e a sabedoria que vêm com a idade, não o de esconder os seus sinais.
Deixo aqui 2 exemplos do que refiro.
Um por parte da Vogue Brasil com a utilização do cantor icónico Ney Matogrosso na sua capa dos 80 anos ou da Peloton Interactive, que ao mostrar no seu filme de publicidade pessoas com mais de 80 anos e com abordagens diferentes à forma como disfrutam da velhice através da utilização do seu produto, consegue promover o envelhecimento de forma positiva e ao mesmo tempo falar com muitos potenciais consumidores consumidores.