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Noto que cada vez mais as pessoas têm claro o que são os dois conceitos e como diferem e porque faz sentido investir na longevidade para se ter um bom envelhecimento. Mas não é sobre isso que quero escrever.
Quero partilhar um aspeto interessante e que vem na sequência destas duas perguntas que habitualmente faço a quem me ouve nestas conferências e que está ligado à perceção que se tem do que é ser uma pessoa velha e do que é ser uma pessoa longeva.
Interessa-me compreender o que está na mente das pessoas, que imagem/estereotipo estão a construir em relação aos dois modelos de pessoas. Por isso, após perguntar o que significa cada um dos conceitos, pergunto o que é para eles uma pessoa velha e o que é uma pessoa longeva, o que as caracteriza, o que têm em comum (se têm alguma coisa) e o que as diferencia. Partilho convosco aquilo que têm sido os resultados destas minhas “pesquisas”, porque é muito interessante ver a forma como o pensamento das pessoas evolui.
Assim, o primeiro aspeto que partilho tem a ver com o que têm em comum velhos e longevos e que é a idade cronológica. Percebo que ainda há uma colagem grande dos dois tipos de pessoas às pessoas seniores (60/65+), o que não me deixa de surpreender porque eu achava que os longevos seriam mais novos que os velhos.
Contudo é somente isto que têm em comum, são ambos seniores em termos cronológicos.
O que os separa é ainda mais interessante, porque aos velhos fica associado tudo o que é “negativo” e aos longevos tudo o que é “positivo”. Como se fossem dois lados de uma moeda onde um é a realidade (velhos) e outro aquilo que se procura, o que é aspiracional.
Passo a explicar melhor:
Na mente das pessoas, o envelhecimento e mesmo a longevidade ainda estão associados aos mais velhos. Se envelhecimento quer dizer pessoas com mais de 60 anos, a visão que se tem destas pessoas, hoje, é a de pessoas diminuídas, com falta de condições de vida, falta de condições motoras e cognitivas, a caminho de uma exclusão “natural” da sociedade.
Esta visão profundamente estereotipada e idadista permite-nos compreender porque a visão de uma pessoa velha, mas de bem com a vida, plenamente integrada na sociedade e que vivem bem com aquilo que são os sinais naturais do envelhecimento é “irreal” e aspiracional.
Como a longevidade é aspiracional, a pessoa longeva é um velho que ainda não existe. É o velho que se quer ser. A grande questão é que na nossa sociedade convivem os dois tipos. Na verdade, em muitos dos seniores portugueses convivem tanto o longevo como o velho. Embora, infelizmente, muitos dos nossos seniores correspondem mais ao estereotipo do velho que do longevo.
Isto leva-me a outro aspeto que quero refletir convosco e que está relacionado com a importância de termos uma sociedade e um ambiente que permita ao velho ser longevo, porque envelhecer-se bem depende em parte do próprio (daí a importância da literacia para a longevidade) mas também do sítio onde se vive, das condições a que a pessoa tem acesso.
Portugal é como bem se sabe, dos países mais envelhecidos e longevos do mundo. Segundo dados da OCDE estamos no top 5 dos países com maior percentagem de pessoas com mais de 65 anos no total da população e estamos no top 5 dos países com maior longevidade.
Se queremos inverter a situação e promover os longevos em detrimento dos velhos precisamos:
(1) Tomar consciência desta realidade demográfica.
(2) Promover uma alteração de mentalidades, mostrando que todos podemos ser longevos, mesmo os velhos. Isto é fundamental porque as novas gerações vão viver mais e convém que aos poucos desenhem estratégias que lhes permita integrar esta longevidade, uma vez que a única forma de não viverem tanto é quererem morrer antes, o que é impensável. Por isso ….
(3) Trabalhar efetivamente para colocar ao dispor da maioria da população ferramentas e condições para que estas pessoas percebam o que está na base de um bom envelhecer (que é o que promove a longevidade), como por exemplo uma boa inteligência emocional, mas também bons hábitos de saúde. Mas não nos podemos ficar por aí.
(4) Criar uma sociedade que seja “user friendly” para os mais velhos. Que promova a integração das pessoas a todos os níveis, desde o mais básico como o combate ao idadismo até ao mais complexo, como o desenvolvimento de produtos e serviços que respondam às necessidades e motivações de uma pessoa longeva e que não tenha somente a ver com o desenvolvimento das ditas bengalas, sapatos sem atacadores ou aparelhos auditivos.
Eu sou por uma sociedade de velhos longevos. De adultos longevos. De jovens longevos. De crianças e bebés longevos.
Há um caminho a percorrer, mas temos mesmo de o fazer para bem da sustentabilidade da sociedade portuguesa e para bem da nossa economia.
Ana João Sepulveda
Expert em Economia da Longevidade e em Envelhecimento Sustentado
Presidente da Associação Age Friendly Portugal e Embaixadora da rede Aging 2.0
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