Economia da Longevidade: A realidade em Portugal, Espanha e na Europa | Sociedade

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Economia da Longevidade: A realidade em Portugal, Espanha e na Europa

28/02/2023 | Ana Sepulveda - 40+Lab

Estudos que revelam a realidade em Portugal e na Europa Fonte:  Stock adobe Estudos que revelam a realidade em Portugal e na Europa Fonte: Stock adobe

A Oxford Economics fez um estudo semelhante para a Europa e para Espanha, donde retiro alguns dados que me parecem de relevo.

Do relatório elaborado em conjunto com o Technopolis Group para a União Europeia, sobre o impacto económico do envelhecimento da população é apresentado uma análise semelhante ao que foi feito para os Estados Unidos no que diz respeito ao consumo dos 50+ na Europa, por categorias. É o gráfico abaixo.

Fonte: Technopolis Group e Oxford Economis “The Silver Economy”, 2015. Pg 15.

 

Esta é uma boa fonte de informação para aqueles que ainda acreditam que falamos de velhos sem futuro e que a economia das pessoas 50+ é algo sem grande futuro, o dito tsunami prateado. Mas a verdade é que quando falamos de longevidade estamos, cada vez mais, a falar de intergeracionalidade.

O estudo feito pela Oxford Economics em parceria com a Universidade de Salamanca, no âmbito do centro de investigação CENIE (Investigating the Economics of Longevity in Spain) em 2021, fica claro o impacto dos 50+ na economia espanhola ao identificar que o impacto do consumo dos 50+ no PIB em 2019 foi de 325.303 milhões de euros.

No gráfico abaixo está visível o consumo atual destes espanhóis com 50 e mais anos de idade. Destes dados, chamo a atenção para o consumo dos mais de 80 anos, porque se trata de um segmento que o senso comum diz ter um baixo potencial de compra.

Fonte: Oxford Economics e Universidade de Salamanca “Investigating the Economics of Longevity in Spain”, 2021. Pg. 13.

Longevidade e envelhecimento: Ausência de estratégia para Portugal:

Ainda não temos dados da economia da longevidade para Portugal, que sejam comparáveis com os dados globais, ou mesmo que sejam comparáveis com a Europa ou com a Espanha, o que me gera alguma preocupação porque a ausência destes dados representa um atraso potencial no despertar dos agentes que têm maior impacto na transformação da sociedade, os agentes económicos e políticos.

Portugal continua até à data, sem uma estratégia oficial para o envelhecimento quanto mais para a economia da longevidade. Sem isso, estamos a perder competitividade.

Alguns dados para Portugal: Estudo AARP

Os dados que apresento sobre a economia em Portugal resultam de um estudo projetivo feito pela AARP e Oxford Economics (Global Longevity Economy® Outlook: Portugal) e de um outro estudo do Centro de Investigação Ageingnomics da Fundação Mapfre, desenvolvido com a colaboração da Google (1º Barómetro Consumidor Sénior Portugal – Economia Prateada, 2022).

O estudo da AARP refere que, em Portugal, os 50+ foram responsáveis por 59% de todas as despesas de consumo doméstico em 2020 e estimam que em 2050 este valor suba para 69%.

O gráfico seguinte mostra esta evolução no consumo por categoria. Obviamente que um estudo elaborado antes do covid revela uma realidade que em certa medida já não existe.

No entanto, alguns dados mostram que atualmente são os 50+ que estão a sustentar em grande parte o consumo dos jovens.

Fonte: AARP Global Longevity Economy® Outlook: Portugal, 2020 pg. 2.

Alguns dados para Portugal: Estudo Fundação Mapfre

Do estudo da Fundação Mapfre, que também está focada nos 50+, é referido que mais de metade dos agregados familiares dos 50+ em Portugal (55,3%) têm duas fontes de rendimento mensal (13,4%). Em termos de hábitos que visam a promoção da longevidade, o estudo mostra que:

  • mais de 70% destes 50+ cuidam da alimentação,
  • 68% consulta o médico com regularidade,
  • 49,10% faz exercício físico
  • 34,8% tem atenção à sua saúde emocional.

O relatório encerra chamando a atenção para o potencial nacional da economia da longevidade como setor estratégico da economia:

“Assim, sendo, Portugal está nas melhores condições para beneficiar da economia prata (silver economy), um novo vetor económico que pode contribuir para o país com novos empregos e produção de riqueza com base no potencial de uma sociedade que celebra o seu aniversário com boa saúde.”

Como vimos, a economia relacionada com as pessoas com 50 e mais anos de idade assume-se como um forte caminho de crescimento das economias nacionais e regionais.

Os 50+ são já hoje mais de metade da população portuguesa, são um grupo profundamente heterogéneo, muitos deles infelizmente abaixo do limite da pobreza, mas a verdade é que é um segmento que cresce.

Retomando o tema da longevidade, que está na raiz desta demografia mais centrada nos adultos, a longevidade é uma nova categoria de consumo. Intergeracional e focada na promoção de uma vida mais longa e sustentada. É cada vez mais uma forma de estar que define um estilo de vida e que acarreta um conjunto de novas oportunidades de consumo, de inovação para o qual as marcas precisam de olhar já.

Falta a Portugal uma efetiva quantificação do mercado dos 50+, à semelhança do que já fez a nossa vizinha Espanha, mas também uma quantificação do mercado da longevidade.

Caminhamos para uma realidade menos centrada no envelhecimento, onde os conceitos “age friendly” tendem a ser substituídos por conceitos mais “longevity friendly”, onde o “age” está incluído.

Caminhamos para uma realidade onde as pessoas vão querer trabalhar em e com organizações que promovam a longevidade.

Viver em bairros que sejam amigos de todas as gerações e que promovam as vidas mais longas.

O conceito de risco estará mais focado na idade biológica que na cronológica, os “biohackers” (profissionais que visam a optimização da biologia do indivíduo com vista a uma idade biológica idealmente inferior à idade cronológica) são uma realidade já em Portugal.

É para esta realidade que caminhamos. E será que estamos prontos?

Leia o artigo acerca da economia da longevidade