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Estão a ocorrer grandes transformações demográficas, económicas, sociais e culturais na sociedade portuguesa, e em que a longevidade é simultaneamente causa e efeito. A perceção da ‘velhice’ e do ‘ser velho’ está a mudar. Não só porque o reconhecimento de si próprio como idoso é cada vez mais tardio, consequência do aumento da esperança média de vida, mas também porque a sociedade reconhece cada vez mais na grande franja que representa a população sénior agentes ativos e produtivos.
Contudo, envelhecer em Portugal continua marcado por aquilo que Alexandra Lopes, investigadora e professora na Universidade do Porto, identifica como «as grandes fragilidades estruturais da velhice».
Convidada da segunda sessão do Simpósio InterAções, uma iniciativa promovida pela Santa Casa da Misericórdia de Lisboa, Alexandra Lopes falou sobre a realidade e as fragilidades da população mais velha em Portugal.
De acordo com dados de 2018, em Portugal «71% da população com 65+ anos vive com uma pensão de velhice ou invalidez inferior ao salário mínimo nacional» referiu Alexandra Lopes, sublinhando que «é conveniente ter presente que tal como a própria designação assim o sugere o salário mínimo corresponde a um mínimo de rendimentos para acedermos a um mínimo social adequado».
Os baixos rendimentos da grande maioria da população sénior traduzem-se em situações muito concretas. Dados de 2018 revelam que «30,5% das pessoas com 65+ anos vivem com infiltrações ou humidades na casa»; «22% da população mais velha não tem condições de aquecer a casa no Inverno»; e «21,2% vive abaixo da linha de pobreza monetária».
Em 2018, cerca de 47,9% das pessoas com 75+ anos declaravam um baixo nível de satisfação com a vida e 62,7% declaravam baixo nível de satisfação com condições financeiras e qualidade da vida. «Vive-se com pouco e vive-se triste», conclui a professora.
Num domínio tão essencial como a saúde, «mais de metade das mulheres com 75+ anos nunca fizeram exames fundamentais tais como uma mamografia, papanicolau ou despeite ao cancro do intestino. E se perguntarmos qual o motivo, cerca de 23% das pessoas com 75+ anos declaram que por razões financeiras», referiu Alexandra Lopes.
Há também uma enorme ‘pobreza relacional’ comentou a professora Alexandra Lopes. «As redes de proximidade e de entreajuda relativamente densas e operantes, que marcaram as anteriores gerações parece estar em erosão acelerada e isso traduz-se em solidão e em isolamento.»
Dados de 2014, revelam que quando se perguntava às pessoas com 75+ anos com que frequência tinham contactos com família e/ou amigos no último ano 12,9% responderam que ‘nunca’ e 9,3% responderam ‘uma vez’.
São números que espelham uma sociedade que queremos mudar, que precisamos de mudar! Estamos todos a envelhecer, diariamente, num processo natural, que nos deve alegrar e do qual nos devemos orgulhar, afinal envelhecer representa o nosso desenvolvimento individual e colectivo, pois é impossível envelhecer numa sociedade que não permita alcançar a qualidade de vida necessária para conquistarmos a nossa longevidade.
Importa hoje, independentemente da nossa idade, refletirmos sobre ‘em que sociedade queremos envelhecer?’ e ajudar a construí-la.
Alexandra Lopes, Investigadora e Professora na Universidade do Porto, Sérgio Cintra, Administrador da Santa Casa da Misericórdia de Lisboa, Luís Jerónimo, Diretor do Programa Gulbenkian Desenvolvimento Sustentável, João Lázaro, Presidente Executivo da Associação Portuguesa de Apoio à Vítima, Marta Carmo, Jurista e Técnica de Projetos da Associação Portuguesa de Apoio à Vítima foram os convidados da sessão ‘Portugal Mais Velho: Desafios da Longevidade e Envelhecimento’, moderada por Mário Rui André, Diretor da Unidade de Missão, Santa Casa da Misericórdia de Lisboa. Uma sessão integrada na 3ª Edição do Simpósio Interações – Uma Sociedade para Todas as Idades é organizado pela Unidade de Missão “Lisboa Cidade de Todas as Idades” da Santa Casa da Misericórdia de Lisboa.
Esta foi a segunda sessão de um conjunto de 16 sessões, todas gratuitas e com transmissão online, sempre às quartas-feiras, com início às 14h30.
Sobre esta sessão pode ainda de ler o nosso artigo ‘Os nossos direitos não têm idade!’
Saiba mais AQUI sobre esta iniciativa. E não deixe de ver ou rever no vídeo abaixo a sessão completa no canal do Youtube da SCML.