Envelhecimento ativo e os novos modelos de organização da sociedade | Sociedade

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Envelhecimento ativo e os novos modelos de organização da sociedade

27/02/2020 | Sofia Alçada

Envelhecimento activo e a tecnologia: novos modelos - Maria João Quintela e Fernando R. Mendes Envelhecimento activo e a tecnologia: novos modelos - Maria João Quintela e Fernando R. Mendes

Na conferência organizada pela Cidadania Social e pela Ordem dos Economistas sobre o tema Orçamento de Estado de 2020 – Proteção Social, para onde vamos? foi abordado o tema do “Envelhecimento Ativo, Estilos de Vida Saudável e sustentabilidade dos sistemas de proteção social” num painel que teve como moderador o Economista da Cidadania Social, Fernando Ribeiro Mendes e como oradores a médica e presidente da Associação Portuguesa de Psicogerontologia, Maria João Quintela e Bernardo Ivo Cruz, doutor em Ciência Política.

Restantes artigos acerca da conferencia - veja aqui - Segurança Social e o Rendimento e a Robotização e o emprego

Envelhecimento e a tecnologia - Novos modelos de organização do trabalho

Segundo Bernardo Ivo Cruz, e relativamente ao envelhecimento da população “há uma harmonização global da esperança de vida que ascende aos 70 ou 80 anos globalmente e para todos”, afirmando que o envelhecimento tem impacto no ganho de anos de vida para todos, sendo uma questão mundial e não apenas do paises mais desenvolvidos.

Revolução 4.0 – exemplos de novos modelos

A revolução 4.0 provoca uma alteração no saber que tem impacto transversal em todas as áreas. Como nas restantes intervenções da referida conferencia, a opinião de Bernardo Ivo Cruz está alinhada relativamente a questão de que vamos ter novas profissões a surgir e a necessidade de criar uma nova organização do trabalho.

Foi apresentado o exemplo dos países nórdicos e as novas soluções de políticas públicas como a flexisegurança que inclui o capitalismo livre, que permite que as empresas possam contratar e despedir tornando o mercado de trabalho mais ágil e flexível. O que conjugado com uma segurança social a que chamou de poderosa, permite que uma pessoa entre empregos não fique sem rendimentos, enquanto se prepara e requalifica para nova entrada no mercado de trabalho, evitando assim a desatualização profissional.

“Mas este novo modelo de organização do trabalho só é possível pois temos as empresas e os sindicatos, ambos com assento no conselho de administração com poderes para zelar pelos interesses de cada lado” reforça o nosso orador. Cita ainda como exemplo que este modelo já se encontra a ser testado em dois países nórdicos – a Finlândia e a Suécia. No caso da Finlândia é um modelo orgânico e no caso da Suécia é um modelo imposto. Apesar da diferença na forma de implementação dos modelos, ambos apresentam bons resultados na flexibilização do mercado de trabalho, na criação de emprego e de riqueza, refere Ivo Cruz.

 

Novos modelos ao nível do Rendimento:

Com a criação de novos empregos, surgem novos modelos ao nível do rendimento. Se o mercado encontra o equilibro, as empresas irão absorver a mão-de-obra à procura de trabalho. Neste modelo, a segurança social permite que esteja assegurada a transição do trabalho, permitindo a requalificação a mão-de-obra para as atividades que tem maior procura.

Mas há que garantir o rendimento para todos nomeadamente nos períodos de transição. A propósito disso, Ivo Cruz referiu entre outras referencias do nosso tempo,  Bill gates, quando este preconizou a necessidade de criar um imposto sobre a produção criada, para garantir a cobertura desse rendimento global.

Alguns países e zonas tem já instituído o rendimento mínimo garantido, como é o caso da Escócia, da Califórnia (onde a experiencia é paga na integra pelo empreendedor Sam Altman) ou da Finlândia (embora este pais não tenha até agora tido um grande sucesso). “O objetivo com este rendimento mínimo garantido é que quem não é capaz de garantir a adequação profissional e de competências nesta fase de transição, tenha condições mínimas de sobrevivência pois não se pode deixar milhares de pessoas no desemprego sob pena de aumentar o populismo ou quem sabe algo mais grave como uma guerra face a pressão que o desemprego trás”, reforça o nosso orador.

Novo modelo na educação:

“Temos que gerar uma maior literacia digital, de dados e humana para que sejamos Robot Proof”. Ivo Cruz citou como exemplos países onde vamos tendo ensaios no sentido de aumentar a literacia acima referida como é o caso do Reino Unido, Japão e Alemanha onde foi instituída a cadeira de programação logo na primária ou na Finlândia onde as crianças são chamadas a pensar num objecto ou num evento sobre todos os primas – Social, tecnológico, cientifico, humano, literário…uma mudança total na forma de ver o ensino mais voltado para a vida real e para o contexto profissional.

“Somos o que somos por aquilo que fazemos” esta é a forma como é validado o contributo das pessoas para a sociedade atualmente e é isto que tem que ser alterado. Somos mais do que as funções ou o trabalho que desempenhamos ao longo da vida, e temos que melhorar a nossa perspetiva sobre o real valor das pessoas.

Envelhecimento e Tecnologia – Para onde vamos?

Em conclusão, Bernardo Ivo Cruz diz-nos que a Revolução 4.0 está ai. Já é uma realidade. Temos que a preparar para evitar problemas. Para isso, temos que:

- Perceber quais as soluções que estão ai e que potencialmente nos podem ajudar a lidar com a entrada da tecnologia no mercado de trabalho.

- Como alterar a segurança social e dar condições as pessoas de se adaptarem e de terem o rendimento que precisam.

- Repensar o modelo de educação para ser útil a nova sociedade e a nova economia.

- Repensar todo o modelo social valorizando quem não tem “valor imediato” de forma a ter condições de se requalificar e de se adaptar as novas realidades de mercado.

 

Envelhecimento mais que saudável

“Estar vivo, dá um trabalhão! “, assim começa Maria João Quintela, presidente da associação portuguesa de psicogerontologia. “Não vale a pena ter envelhecer com saúde se não tenho atividade”. Alertando que “Ficar horas em frente a televisão não é suficiente. “

A oradora refere a ausência da aprendizagem acerca do fenómeno da longevidade “não aprendemos nada na escola sobre o envelhecimento. Nem na universidade. Começamos a ganhar noção da idade e da necessidade de aprendermos mais acerca do fenómeno do envelhecimento quando nos perguntam “com que idade está?”.

Hoje, ainda relativamente ao fenómeno do envelhecimento, já não se comparam apenas os países. O foco em termos comparativos já são os bairros ou as pessoas. Pois não existem 2 pessoas iguais com 70 anos. Não há nada mais diferente do que as pessoas mais velhas, pelo percurso que cada uma delas tem, refere Maria João Quintela.

“No conceito de envelhecimento ativo, já não chega apenas ser saudável. Temos que incluir outros pilares”, refere a nossa oradora dando exemplos do ambiente, da solidariedade, da segurança, da aprendizagem entre outros. ”Ninguém vive bem abandonado. O problema é que cada vez vivemos mais anos de vida, mas não sabemos o que fazer com esses anos a mais que vamos ganhando”.

Há grandes desenvolvimentos ao nível das neurociências na visão do envelhecimento, que nos dão alguns contributos importantes na forma como vemos a idade e as capacidades de nos desenvolvermos nas várias áreas da nossa vida. Sabemos hoje por exemplo, que “burro velho aprende línguas, sim!”.

O que temos que fazer para preparar o nosso envelhecimento, é continuar a ser surpreendidos para ganhar saúde e ter melhores perspetivas de vida.

E então, estamos a fazer com o nosso envelhecimento? Sabemos o que temos e queremos fazer? Estamos a acrescentar vida aos anos? Prepare-se para um envelhecimento saudável, mas sobretudo ativo e feliz!