Não chega só adicionar anos à vida. O que queremos é dar vida a esses anos. | Entrevistas

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Não chega só adicionar anos à vida. O que queremos é dar vida a esses anos.

27/07/2021 | Sofia Alçada

Vamos dar vida aos anos, pela nossa longevidade. Foto: Alena, Pexels Vamos dar vida aos anos, pela nossa longevidade. Foto: Alena, Pexels

O Impulso Positivo (IP) traz consigo uma visão, claro está, positiva, otimista, e renovada da longevidade e do envelhecimento ativo. O que faz com que a faixa etária mais sénior não seja habitualmente vista da forma tão inspiradora que apresentam na vossa plataforma?

Nós, com o Impulso Positivo queremos dar às pessoas ferramentas para perceberem que vivermos mais anos não é negativo. Antes pelo contrário. Permite-nos ganhar tempo para fazermos muito mais coisas, acompanharmos durante mais tempo as pessoas de quem gostamos e ganhar “novas vidas”, desde que o queiramos. Para isso temos que preparar, definirmo-nos enquanto pessoas e propósito de vida. Os mais velhos têm que deixar de ser vistos e de muitas vezes se sentirem como um peso para a família, para a sociedade. As pessoas devem perceber que são cidadãos de pleno direito, independentemente da idade e da fase de vida.

Temos claramente que mudar a forma como se olha para as pessoas mais velhas dando-lhe o papel e a dignidade que realmente merecem para que também elas próprias recuperem a auto estima e a vontade de viver. E isso depende de cada um de nós. Pois o que é certo é que, se vivermos bem, e tivermos sorte, arrisco a dizer que o trajeto e o percurso normal é esse mesmo – chegarmos a velhos! Com todas as coisas boas e más que essa fase de vida tem como todas as outras porque passamos. E muitas vezes depende de nós perceber como a queremos viver. Não chega só adicionar anos à vida. O que queremos é dar vida a esses anos.

Como é que a longevidade e o envelhecimento ativo se cruzam no seu percurso e se fundem com a sua vasta experiência em Marketing para dar origem ao IP?

Chego ao Impulso Positivo e aos temas da longevidade e do envelhecimento, através de um convite de um ex-colega de curso que muito considero pelo excelente trabalho que tem desenvolvido e pela sua enorme iniciativa, capacidade de trabalho e inspiração. Um dia, convidou-me para trabalhar no Impulso Positivo e para alterar a perspectiva que o projeto tinha até então. O Impulso Positivo até aí era uma plataforma centrada no 3.º sector e a ideia era orientar para as questões do envelhecimento, na altura, por ser um tema pouco trabalhado. A partir dos 40/50 anos, diria eu, estes temas começam a fazer parte da nossa vida. Começamos a despertar para eles. Nessa idade, tornámo-nos cuidadores dos nossos filhos e muitas vezes, dos nossos pais, ganhando consciência de como queremos envelhecer, tendo por base, boas ou menos boas referências, dependendo do caso.  Sempre tive bons exemplos de longevidade na minha família. São realmente casos inspiradores de quem gosta de viver e tira partido das adversidades e das facilidades que a vida vai trazendo e, talvez por isso, acredito que nós também fazemos, em parte, o nosso percurso e o nosso destino em termos de boa longevidade.

Quando recebi o convite, estava perto de chegar aos 50 anos, e portanto fez todo o sentido integrar um projeto que tem a ver com a minha fase de vida. Além disso, é um projeto de comunicação, e portanto onde os meus conhecimentos profissionais poderiam sem dúvida ajudar.

O envelhecimento demográfico, tal como pode ler-se na plataforma do IP, “é uma das grandes preocupações deste século, podendo ser igualmente uma oportunidade”. Que oportunidades vê, por um lado, para as gerações mais velhas e, por outro lado, para uma sociedade que saiba incluí-las positivamente?

As gerações mais velhas têm como nunca na história uma oportunidade de viver bem até mais tempo. Uma oportunidade de viver “várias vidas” e de fazer vários projetos ao longo do seu tempo de vida, construindo ou deixando um legado para as novas gerações. Saibam as pessoas perceber e interiorizar estes desafios e mais-valias da longevidade. E possa a sociedade dar-lhes oportunidade para isso, respeitando a sua presença, a sua voz e a sua vontade.

As sociedades são compostas de gerações e hoje em dia de mais gerações em simultâneo. Saibamos nós integrar a mais valia que a intergeracionalidade pode trazer a uma sociedade. Cada vez vemos mais pessoas que, com idades avançadas, continuam a ser uma forte presença e contributo para o país e para a sociedade. Não faltam exemplos disso, a começar pelo nosso Presidente da República por exemplo ou de figuras de peso da nossa sociedade que continuam a contribuir de forma exemplar nas mais diversas áreas. No Impulso Positivo temos uma rubrica chamada “Jovens para sempre” onde damos bons exemplos de pessoas que vivem muito bem a sua longevidade sendo ainda e sempre inspiradores. Podemos citar o Professor Sobrinho Simões na área da medicina, Simone de Oliveira na área das artes, a Drª Manuela Eanes na área da cidadania, o Arq. Gonçalo Byrne na área da arquitetura e do planeamento das cidades, Henrique Moreira na área da inovação…É só querermos ver para além da idade que descobriremos muito perto de nós bons exemplos de mulheres e homens que fazem da vida um constante laboratório de experiências e de resultados para o bem comum e para uma sociedade melhor. Esteja a sociedade preparada para isso! Num dos nossos podcast, estivemos a falar com Isabel Rosado dos Palhaços d’Opital que nos disse uma frase que resume bem isto que estamos a falar. Sempre que iniciava uma reunião de apresentação do projeto que a Isabel tinha em mãos, referia: “Estamos aqui para tratar do v/ futuro. Estão preparados?”.

E esse é o nosso desafio. Acabar com o preconceito em relação a idade, qualquer que ela seja, mas claramente em relação aos mais velhos. Até porque, ao sermos idadistas, estamos claramente a tratar mal o nosso futuro e isso é certo!

Fica então a questão: O que queremos para nós, quando lá chegarmos? Como gostaríamos de ser tratados?

As gerações mais novas (diríamos, a população ativa) estão habituadas e preparadas para pensar a sua longevidade e a forma como, a longo prazo, vão “dar mais vida aos anos”, acautelando, entre outros, a gestão dos seus rendimentos?

Esta é uma das grandes preocupações e objetivos do Impulso Positivo. Alertar para estas questões da longevidade, focando muito nas questões que cada um de nós individualmente poderá trabalhar, com tempo. Precisamos de tempo para trabalhar pelo menos duas grandes áreas da nossa vida: a saúde e o rendimento. Aqui, sim, tem de ser preparado com tempo, sem esquecermos todas as outras áreas que têm sempre impacto na nossa longevidade. Mas estas duas serão fundamenais para um bom envelhecimento. Sem elas dificilmente conseguimos ter uma boa longevidade. E quando falamos de rendimento não estamos a dizer que temos que ser ricos. Na verdade, temos de projetar o que precisamos para viver a vida que desejamos, garantindo o rendimento adequado. No nosso caso, não teremos direito ao que nos falaram e para a qual levamos toda uma vida a trabalhar. Estou a falar da reforma obviamente. As novas gerações já sabem que não poderão contar com isso e já sabem que vão viver muito mais. Há quem já projete que já nasceu a pessoa que viverá 150 anos...Assim, diria que esta geração terá, mais que nenhuma outra até aqui, que começar a pensar cedo em como garantir o rendimento adequado a essa fase de vida ou então reinventar as fases de vida.

Que papel tem a literacia financeira no objetivo de viver mais e melhor, defendido e promovido pelo IP?

É uma das nossas bandeiras, sem dúvida, é aumentar a literacia, não só financeira, mas também de longevidade. Como podemos assegurar uma boa longevidade. E isso obriga a pensar várias áreas da nossa vida onde a base, como referi, passa pelo rendimento e pela saúde. Sem essas, dificilmente teremos uma boa longevidade.

Mas além disso temos questões como a mobilidade, a habitação, a cultura e o lazer, a inovação ou a vida em sociedade, que temos de assegurar.

Os direitos e os deveres das pessoas ao longo da vida, garantindo que se cumpre a vontade das pessoas, é fundamental. E, para isso, trabalhamos todos estes temas.

A plataforma do Impulso Positivo faz uso do digital e a formatos multimédia recentes, como o podcast. Sentem que existe um investimento das instituições para a literacia digital dos mais velhos?

Acho que existe um esforço para aumentar a literacia digital na população em geral e em especial na população mais velha, o que se tornou uma necessidade nesta fase de pandemia como pudemos constatar. E vimos que houve muitas pessoas que adotaram a tecnologia sem problemas pela necessidade de o fazer e de a utilizar para conseguir comunicar ou fazer as suas compras por exemplo.

A tecnologia, hoje em dia, é bastante intuitiva e é desenhada para isso. Acredito claramente, como refere o ditado, que a “necessidade aguça o engenho”. Temos obviamente de estar abertos para querer aprender e não ter medo de errar.

O Impulso Positivo não é um projeto focado unicamente nos mais velhos. O nosso foco é em todas as pessoas que queiram preparar a sua longevidade ganhando maior consciência de como o fazer, nas várias áreas da sua vida, e para isso utilizamos os vários formatos possíveis para chegar as pessoas.

Sendo uma plataforma colaborativa, sentem que está a crescer o interesse e preocupação das instituições, das empresas e das marcas perante as questões da longevidade?

Sem dúvida que sim, pois é cada vez mais tema em todos os meios. Embora acredite que ainda haja um grande caminho a percorrer. O foco ainda é muito do lado negativo, com um grande peso no envelhecimento, e não tanto nos desafios e oportunidades que a longevidade pode trazer. Mudar mentalidades e formas de estar é sempre algo que exige tempo e, acrescento, vontade e energia. O que nem sempre acontece…Mas acredito que, cada vez mais, as pessoas comecem a despertar para estes temas e a ganhar mais consciência de como querem viver os anos a mais que estão a conquistar. E talvez aí, passem também a exigir das marcas, das empresas e das instituições que lhes deem atenção e dediquem tempo.

Muito há a fazer e todos temos de trabalhar para isso, numa versão colaborativa dando voz às pessoas que têm algo a dizer e a quem trata desses temas, de forma inspiradora se possível. E esse é o convite que deixamos a quem quiser partilhar conteúdo dentro da lógica da longevidade, contribuindo para esta mudança da visão do envelhecimento e da sociedade, para, em conjunto, construirmos uma visão mais inclusiva e agregadora onde todos temos um papel ativo e relevante como cidadãos de pleno direito, independentemente da idade e da fase de vida. Fica o convite!