O mercado deve saber o que nós realmente queremos e precisamos | Sociedade

Introduza o seu e-mail

O mercado deve saber o que nós realmente queremos e precisamos

04/12/2020 | Sílvia Triboni

O que nós queremos, enquanto consumidores. Foto: Andrea Piacquadio em Pexels O que nós queremos, enquanto consumidores. Foto: Andrea Piacquadio em Pexels

Demonstrar o que os idosos realmente desejam e destruir mitos sobre o envelhecimento, são apenas alguns dos enfoques de Joseph F. Coughlin, em sua obra The Longevity Economy, Unlocking the World's Fastest-Growing, Most Misunderstood Market. Neste livro, Coughlin fornece elementos para que líderes de negócios atendam a ambiciosa e desafiante população sénior.

Cada vez mais a contínua ambição individual e profissional da população mais madura, o seu desejo por novas experiências e

a sua busca por auto actualização constante, estão construindo uma visão surpreendente e inédita de uma vida mais longa que poucos empresários conseguem entender.

Joseph F. Coughlin, PhD, é fundador e Director do Massachusetts Institute of Technology AgeLab. Coughlin é uma das 100 pessoas mais criativas do mundo segundo a Fast Company Magazine.

O Wall Street Journal o nomeou um dos 12 pioneiros dos Estados Unidos que trataram sobre o futuro da aposentadoria e do envelhecimento.

Ele foi agraciado com o Prémio Maxwell A. Pollack da Sociedade Gerontológica da América para Envelhecimento Produtivo pela excelência demonstrada em traduzir pesquisas em aplicações práticas e políticas que melhoram a vida de pessoas mais velhas.

 

Mas, afinal, o envelhecimento global é uma oportunidade ou um problema?

Do ponto de vista governamental, o envelhecimento da sociedade é prejudicial para a saúde económica de um país, uma vez que reduz a mão de obra e aumenta os encargos para os sistemas de saúde pública.

Tal é a verdade, que na reunião de 2019, do G20, no Japão, o envelhecimento foi sido incluído na pauta de prioridades.

Naquele congresso, o governador do Banco do Japão, Haruhiko Kuroda, disse que o envelhecimento da população pode representar "sérios desafios" para os bancos centrais.

Da mesma forma, em relatório recente das Nações Unidas foi destacado que o envelhecimento global traria "pressões fiscais nas próximas décadas, em face da manutenção de sistemas públicos de saúde, pensões e protecção social para os idosos.”

Entretanto Joseph F. Coughlin, acredita que, embora as populações estejam envelhecendo em números significativos, a ideia de "velhice" não deve permitir que se reprimam as oportunidades económicas.

Ele argumenta que a velhice é uma construção social que não reflecte realisticamente como as pessoas vivem após a juventude. Diz que “as empresas devem oferecer o que as pessoas mais velhas realmente querem e não o que a sabedoria convencional sugere que elas precisam.”

“Não se trata apenas de construir carros para uma população com mais idade”, diz Coughlin.

Mas da criação de serviços de diversão, moda, turismo e viagens agradáveis.

"É sobre não ser velho. Os mais velhos buscam coisas mais personalizadas, mais focadas no bem-estar, e que facilitam a vida", complementa o citado professor.

Embora haja pouca pesquisa disponível sobre a economia da longevidade, o que está claro é que, se as empresas conseguirem aproveitar essa base de consumidores, isso pode significar grandes oportunidades de negócios.

Afinal, o grupo etário dos maturis é consumidor nato.

 

O Consumidor Sénior e a sua importância para a Economia da longevidade

Um relatório da KPMG de 2017 sobre consumidores online em 51 países revelou que os baby boomers gastam mais por meio desse canal - uma média de US$ 203 por transacção - em comparação com os millennials, conhecidos como "nativos da tecnologia".

Este último grupo é o que menos gasta, com uma média de US$173 por transacção.

Actualmente, o maior mercado para a "economia de longevidade" é o Japão, a nação que mais rapidamente envelhece no mundo.

A cultura japonesa moderna adaptou-se às necessidades diárias da sua população envelhecida, e implementou ideias que envolvem desde pequenas conveniências, como, por exemplo o fornecimento de óculos nas agências dos correios, bancos e hotéis para facilitar a leitura de letras pequenas, até grandes soluções estruturais nas cidades, como a colocação de botões especiais nas faixas de pedestres os quais, quando pressionados, permitem mais tempo para atravessar a rua.

 

A produtividade dos trabalhadores mais velhos é o "dividendo da longevidade"

Um grande triunfo da actual longevidade, associado ao excelente nível de saúde que o público mais velho conquistou, é a liberdade de poder trabalhar.

Quando os trabalhadores vivem vidas mais saudáveis e mais longas, surge o que a empresa de consultoria Deloitte chama de "dividendo da longevidade". Ou seja, a produtividade económica dos trabalhadores mais velhos atinge níveis superiores aos anteriores registados.

Na Alemanha, manter os trabalhadores mais velhos no emprego é uma questão de estabilidade económica nacional. Mais de 21% da população alemã tem mais de 65 anos.

De acordo com a OCDE - Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Económico, face os avanços na saúde e o aumento da expectativa de vida, espera-se que um alemão de 65 anos viva, em média, ainda mais 20 anos. No entanto, devido à natureza fisicamente exigente da indústria transformadora alemã, manter os trabalhadores nas fábricas até a reforma é um grande desafio.

Cientes desta ameaça, algumas empresas já promovem as adequações necessárias e adaptam suas plantas industriais para criar espaço para os trabalhadores mais velhos e assim mantê-los activos.

Por exemplo, na fábrica da Porsche em Leipzig, implementaram medidas ergonómicas e novas jornadas de trabalho para o conforto e preservação do trabalhador mais velho. Normalmente operam em turnos de uma hora e giram de estação em estação ao longo do dia.

"A rotação entre as diferentes etapas de fabricação ajuda a evitar tensões. Além disso, ajustes de processos e componentes, limites de força, espaços de trabalho com altura ajustável, dispositivos de manuseio e sistemas de suporte, evitam a sobrecarga física", diz Alissa Frey, especialista em ergonomia da Porsche em Leipzig.

 

Uma ameaça ou uma vantagem?

Agora, se o aumento da longevidade é uma ameaça ou uma vantagem para uma nação, tudo vai depender de como as sociedades se prepararão para os desafios colocados pelo envelhecimento, e de quão hábeis serão a identificar e maximizar os benefícios que a vida longeva traz.

"Os baby-boomers representam uma nova geração", diz Coughlin.

"Embora já não sejam jovens, sentem-se jovens.

Não só esperam, como em muitos casos exigem novos produtos, novos serviços e novas experiências, para tornar cada etapa da vida, se não todos os dias, cada vez melhor.

De nossa parte, os maturis, deixamos claro que estamos cientes do valor do nosso poder de consumo, e de produção de valor, ao equilíbrio econômico de nosso país.

Estamos dispostos a trabalhar com o setor empresarial, líderes e formuladores de políticas públicas, a fim de que conceitos errôneos sobre o envelhecimento sejam desfeitos, e sejam ressaltados os valores que os mais velhos trazem à nossa economia

Juntos, poderemos forjar um caminho que nos permita aprimorar e expandir o novo paradigma da Economia da Longevidade, e assim garantir um futuro de muitas vantagens para o nosso mundo.

Mãos à obra!

 

Silvia Triboni – Editora e Produtora de conteúdo em Longevidade e Turismo na Across Seven Seas

www.acrosssevenseas.com