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A importância da tecnologia e do digital «é transversal a todas as idades», considera a jurista Paula Guimarães, que falava na 11ª sessão do Simpósio InterAções, no dia 31 de março.
De uma forma muito particular, no último ano, a tecnologia revelou o seu enorme impacto na qualidade de vida dos adultos mais velhos. Um envelhecimento positivo e saudável, promovendo o envelhecimento na comunidade, depende também, e cada vez mais, do suporte das tecnologias e do digital. «De facto temos de ver todos estes instrumentos tecnológicos que se vão desenvolvendo como um sinal de esperança relativamente à melhoria das condições de vida das pessoas mais velhas», comentou Paula Guimarães.
E se, por um lado, é fundamental compreendermos e acompanharmos o ritmo da evolução tecnológica porque ele é de facto muito positivo, por outro lado é, igualmente, fundamental que não percamos de vista a discussão deontológica, moral e ética do lugar que estas tecnologias devem ter nas nossas vidas.
A ideia de vigilância permanente na habitação e através dos sistemas de teleassistência ou de equipamentos como pulseiras eletrónicas ou câmaras de vigilância «pode revelar-se e funcionar como um processo de controlo da pessoa idosa», alertou Paula Guimarães.
Certamente a tecnologia pode contribuir para sermos mais autónomos e independentes, contudo, e paradoxalmente, «a excessiva utilização dos meios tecnológicos pode revelar-se nociva para a manutenção da autonomia residual se for usada em excesso e se desenvolver a inércia e laços de dependência face aos meios digitais, substituindo totalmente a relação presencial», referiu. «É algo que já sentimos com os jovens», acrescentou sublinhando que este é «um risco sério», em qualquer idade.
Sobretudo num contexto em que a iliteracia digital ainda representa uma percentagem muito alargada da população adulta mais velha, a imposição das soluções digitais pode desencadear situações de violação da reserva da vida privada quando há a partilha de dados pessoais sem o consentimento esclarecido por parte do titular.
Por último, mas muito importante, «nem tudo pode ser substituído pela resposta digital», sublinhou a jurista, alertando para o risco de desumanização das relações familiares e da prestação de cuidados socias e de saúde. «A substituição excessiva das relações pessoais pelas redes sociais e o recurso à telemedicina, como regra, pode contribuir para a desumanização dos cuidados e para uma falsa ideia de combate ao isolamento».
De olhos postos no futuro Paula Guimarães aponta alguns dos desafios éticos e jurídicos da gerontecnologia:
Estes são na sua opinião passos importantes para assegurar que todos estaremos preparados para o digital e para os novos desafios que futuro certamente nos trará, com o crescimento da tecnologia e da automação na prestação de cuidados.
«É fundamental deixar de acreditar que a tecnologia é boa ou má em si mesma. Ela é como uma ferramenta, que pode ser usada para o bem ou para o mal», concluiu Paula Guimarães, citando o jornalista Diogo Queiroz de Andrade.
Paula Guimarães, Jurista; Sérgio Cintra, Santa Casa da Misericórdia de Lisboa; Carina Dantas, SHINE 2Europe; Hugo Paredes, INESC TEC – UTAD; João Tremoceiro, Câmara Municipal de Lisboa; e Francisco Pessoa e Costa, Santa Casa da Misericórdia de Lisboa, foram os oradores convidados da sessão ‘Envelhecer na Era do Digital: tecnologias e serviços de apoio’, moderada por Mário Rui André, Diretor da Unidade de Missão da Santa Casa da Misericórdia de Lisboa.
Uma sessão integrada na 3ª Edição do Simpósio Interações – Uma Sociedade para Todas as Idades, organizado pela Unidade de Missão ‘Lisboa Cidade de Todas as Idades’ da Santa Casa da Misericórdia de Lisboa.
Esta foi a 11ª sessão de um conjunto de 16 sessões, todas com transmissão online e gratuitas, sempre às quartas-feiras, com início às 14h30.
Saiba mais AQUI sobre esta iniciativa. E não deixe de ver ou rever a sessão completa no canal do Youtube da SCML.