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«É um dos paradoxos das sociedades ocidentais. A conquista da humanidade ao tempo de vida não se traduz necessariamente na garantia de direitos fundamentais», disse Sérgio Cintra, Administrador da Santa Casa da Misericórdia de Lisboa, que falava durante a 2ª sessão do Simpósio InterAções, que decorreu online, no dia 27 de janeiro.
Somamos anos e viveremos possivelmente mais 20, talvez 30 anos, que os nossos avós e visavós, mas esta vida longa que conquistamos «obriga-nos a pensar como podemos dar mais vida aos anos e como envelhecer tem necessariamente de ser algo bom. Bom para a pessoa, para a família e para a sociedade no seu todo. Para isso temos de garantir que os direitos humanos das pessoas mais velhas são respeitados», sublinhou.
Sérgio Cintra referiu que em causa devem estar «respostas de apoio acessíveis e com qualidade; a aprendizagem ao longo da vida; a garantia da participação cívica, independentemente da nossa idade; com o fomento de laços sociais que sejam simultaneamente uma forma de garantir que são combatidos o isolamento e a solidão, mas também a integração na sociedade que se pretende coesa e solidária». «E não menos importante», ressalvou «com a segurança de que qualquer comportamento ou atitude idadista não sejam tolerados».
«Portugal é o quatro país mais envelhecido da OCDE e no entanto tal parece não se refletir no espaço dado às pessoas idosas quer na discussão das políticas públicas e medidas legislativas quer no retrato da sociedade que é feito nos livros, nos anúncios que vemos, nas empresas e muitas vezes nas famílias», comentou João Lázaro, Presidente Executivo, Associação Portuguesa de Apoio à Vítima.
«Vivemos, infelizmente, numa sociedade idadista, em que chegadas a certas idades as pessoas deixam de ser encaradas como sujeitos de direitos passando a ser vistos como meros indivíduos que carecem de proteção», afirmou realçando a visão estereotipada que a sociedade criou das pessoas mais velhas, sempre associadas a questões de doença ou encargos e, consequentemente, levando ao desrespeito pelos seus direitos, à sua exclusão, marginalização e mesmo à violência. «Vivemos numa sociedade em que a violência contra pessoas idosas, em particular a violência psicológica, é normalizada, despenalizada e muitas vezes ignorada. Esta é a sociedade que nós queremos mudar. Esta é a sociedade que nós temos de mudar», apelou.
Combater o idadismo «far-se-á através da promoção da visibilidade das pessoas idosas, isto é apresentando o retrato da sociedade como ela é: envelhecida», apontou João Lázaro, acrescentando a importância de capacitação das pessoas mais velhas «permitindo que exerçam por si os seus direitos ou então com apoio. Temos de trabalhar para que a juventude não seja exaltada mais do que a idade avançada, pois o valor intrínseco de cada pessoa não diminui com o passar dos anos». E temos, acrescentou, de «combater a escassez, a ineficácia e a desadequação das respostas por parte do Estado». Mas, o combate à violência contra pessoas idosas requer ainda, e fundamentalmente, «uma sensibilização generalizada da população para o que consiste em violência e para o que não podemos mais tolerar, nem como vítimas nem como testemunhas».
Nas palavras de Luís Jerónimo, Diretor do Programa Gulbenkian Desenvolvimento Sustentável, também ele convidado da segunda sessão do Simpósio InterAções, «todos temos um papel a desempenhar. Temos de unir esforços e partilhar responsabilidades para a desejada mudança de perceção e de comportamentos das pessoas, para o exercício efetivo do direito das pessoas idosas e também para conseguir combater este flagelo da violência contra as pessoas mais velhas».
Sérgio Cintra, Administrador da Santa Casa da Misericórdia de Lisboa, Luís Jerónimo, Diretor do Programa Gulbenkian Desenvolvimento Sustentável, João Lázaro, Presidente Executivo da Associação Portuguesa de Apoio à Vítima, Alexandra Lopes, Investigadora e Professora na Universidade do Porto, Marta Carmo, Jurista e Técnica de Projetos da Associação Portuguesa de Apoio à Vítima foram os convidados da sessão ‘Portugal Mais Velho: Desafios da Longevidade e Envelhecimento’, moderada por Mário Rui André, Diretor da Unidade de Missão, Santa Casa da Misericórdia de Lisboa.
Esta foi a segunda sessão de um conjunto de 16 sessões, todas com transmissão online e gratuitas, sempre às quartas-feiras, com início às 14h30.
A 3ª Edição do Simpósio Interações – Uma Sociedade para Todas as Idades é organizado pela Unidade de Missão “Lisboa Cidade de Todas as Idades” da Santa Casa da Misericórdia de Lisboa.
Saiba mais AQUI sobre esta iniciativa.
Não deixe de ver ou rever a sessão completa AQUI.