Porque há cada vez mais centenários? | Sociedade

Introduza o seu e-mail

Porque há cada vez mais centenários?

25/07/2022 | Sofia Alçada

Os centenários e os supercentenários serão cada vez mais. Foto: DR Os centenários e os supercentenários serão cada vez mais. Foto: DR

A Organização das Nações Unidas (ONU) estima que, em 2021, mais de 621 mil pessoas tenham chegado aos 100 anos ou mais de vida, representando apenas 0,008% da população mundial. A tendência no entanto, é para registarmos um crescimento dos centenários no mundo, estimando atingir o marco de 1 milhão até ao final da nossa década.

Estamos perante um grande feito. Se pensarmos que uma pessoa nascida no ano de 1960 (quando a ONU começou a tratar os dados globais sobre longevidade) tinha uma expectativa de vida de apenas 52 anos, e no ano de 1990, existiam “apenas” 92 mil pessoas com 100 anos ou mais”, imaginem o ganho em termos de anos de vida que temos vindo a conquistar.

Percorremos sem dúvida, um longo caminho no que toca a esperança de vida, explicado pelos avanços na área da:

  • saúde,
  • alimentação
  • condições de vida em geral.

 

Como está a esperança média de vida?

Atualmente, a esperança média de vida global está nos 73 anos.

Embora, sendo a média que é, esconde algumas realidades que se mostram muito diferentes de país para país.

A expectativa de vida média no Japão, por exemplo, é de 85 anos, em Portugal ronda os 81 anos (segundo os dados do INE) enquanto República Centro-Africana costuma viver apenas 54 anos.

 

Qual é o segredo dos 'supercentenários'?

Comemorar 100 anos é realmente um feito e não é para todos. Nos Estados Unidos, um estudo da Universidade de Boston estimou que “apenas” 1 em cada 5 milhões de americanos atinge o estágio de "supercentenário" — quando se ultrapassa os 110 anos.

Os "supercentenários" naturalmente atraem muita atenção dos cientistas que estudam a longevidade e o envelhecimento humano, para tentar perceber as razões de tal feito.

Veja aqui um artigo acerca de Kane Tanaka  

A saúde nem sempre é uma realidade nestes centenários

Um facto curioso é que nem sempre os centenários são um bom exemplo de boas práticas de saúde e de vida. E isso é sem dúvida, motivo de espanto e estudo por parte dos cientistas e investigadores

Num artigo publicado Journal of the American Geriatric Society em 2021, onde se abordava um estudo realizado com um grupo de 400 judeus americanos com 95 anos ou mais, foi encontrado um grupo com maus hábitos de vida, como por exemplo:

  • Quase 60% dos participantes fumava e metade destes tinha sido obeso durante a maior parte da vida, sendo que apenas 3% eram vegetarianos.

O que leva mesmo a chegar a situação de referir que

"A primeira coisa que precisamos dizer às pessoas interessadas em viver tanto tempo é não seguir dicas de estilo de vida de centenários ou supercentenários",

diz Richard Faragher, professor de biogerontologia da Universidade de Brighton, no Reino Unido, um dos principais especialistas em estudo do envelhecimento. .

"Há algo excepcional sobre eles. Porque muitos fazem exatamente o oposto do que sabemos que pode ajudar alguém a viver mais", acrescenta o especialista.

Será a explicação de origem genética?

Os cientistas suspeitam que a genética desempenha um papel importante na longevidade.

Centenários (e supercentenários) parecem capazes de se proteger contra o desgaste que afeta os mais jovens com o passar do tempo. E também se mostram capazes de compensar até mesmo hábitos pouco saudáveis ​​que levam a maioria de nós à morte precoce.

Especialistas como Lord e Farragher procuram identificar essas vantagens biológicas, que não são tão óbvias quanto se poderia pensar.

CRÉDITO,GETTY IMAGES

A pessoa mais velha da história

Até esta data, a pessoa mais velha que se tem registo foi Jeanne Calment, francesa de origem, que morreu em 1997 aos 122 anos e é oficialmente a única a ter vivido para além dos 120 anos.

Legenda da foto: Francesa Jeanne Calment, morreu aos 122 anos em 1997, é a única pessoa reconhecida por ter vivido além dos 120

 

Pesquisadores da Universidade de Washington, nos EUA, afirmam que a longevidade extrema atingirá novos limites neste mesmo século — e possivelmente resultará em casos de pessoas que chegarão aos 125 ou até mesmo aos 130 anos.

"Acreditamos que é quase certo que alguém quebrará o atual recorde de idade e que é bem possível que alguém possa viver até os 126, 128 ou 130", estima Michael Pearce, estatístico e coautor do estudo. Pearce e o professor Adrian Raftery usaram o International Database on Longevity, uma base de dados sobre expectativa de vida, para simular os limites de longevidade para as próximas décadas.

Eles concluíram que há uma fortíssima probabilidade, próxima dos 100%, de que o recorde de Calment seja batido e com cerca de 68% que alguém comemore os 127 anos.

As regras do jogo do envelhecimento

No entanto, há muitas perguntas que a ciência ainda precisa responder para entender completamente o quebra-cabeça do envelhecimento.

Legenda da foto: Como podemos empurrar ainda mais os limites da longevidade humana?

Especialistas como Richard Siow, diretor de Pesquisa de Envelhecimento do King's College London, no Reino Unido, acreditam que esse entendimento é crucial para abordar questões de qualidade de vida com uma população global cada vez mais envelhecida — a ONU estima que o mundo já é habitado por mais pessoas com mais de 65 anos do que por crianças com menos de 5 anos.

"A grande questão aqui não é discutir quanto tempo podemos viver, mas como podemos retardar o início do declínio relacionado à idade e permanecer saudáveis por mais tempo do que agora", aponta Siow.

"Dessa forma, se tivermos a sorte de chegar à velhice, podemos aproveitar esses anos em vez de vivê-los em sofrimento."

Organizações como a HelpAge International, uma rede que oferece apoio a idosos em todo o mundo, apontam que essa filosofia é crucial para ajudar a abordar o envelhecimento da população como uma oportunidade, e não como um fardo para os sistemas de saúde e bem-estar social.

"Os idosos com boa saúde oferecem um enorme potencial para as sociedades de várias maneiras, inclusive na economia." argumenta Eduardo Klien, porta-voz da HelpAge.

 

O bom exemplo da Monarca Inglesa e a sobrecarga adicional de trabalho.

Legenda da foto: A rainha Elizabeth II do Reino Unido tem se ocupado com o aumento de centenários no Reino Unido

Enquanto isso, pense na rainha Elizabeth II e no bom exemplo da monarca britânica, quase uma centenária. Para além do seu excelente exemplo de dedicação e empenho, teve um aumento na carga de trabalho durante os últimos anos.  É costume no Reino Unido que as pessoas que completam 100 anos recebam uma carta da monarca.

A proporção de centenários no Reino Unido atingiu um recorde em 2020 e a tendência é que esse número só cresça daqui em diante.

Saiba aqui os segredos da longevidade da monarca británica.

Preparados para viver mais, mas sobretudo viver melhor?

Fonte: https://www.bbc.com/portuguese/geral-62120822