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“O coração... O princípio da vida; o sol do microcosmos…é verdadeiramente a fundação da vida, a fonte de toda a ação”. - William Harvey, 1628
As doenças cardiovasculares são a maior causa de morte nos países da OCDE. Os seus efeitos são devastadores, não só em vidas perdidas, mas também em incapacidade e perda de qualidade de vida, requerendo uma sempre crescente alocação de recursos para o seu tratamento.
Há muito que se sabe que o aparecimento destas doenças é fortemente condicionado pelo estilo de vida. A evidência científica é unânime em reconhecer o peso de um estilo de vida saudável, sobretudo da dieta e exercício físico, na promoção e manutenção da saúde cardiovascular.
Se a consciência da importância destes fatores na saúde presente e vindoura tem vindo, gradualmente, a difundir-se na população, a verdade é que ainda existem, contudo, graves desigualdades. Os escalões etários superiores e certos grupos populacionais são as grandes “vítimas”, quer da deficiente informação, quer da limitação, por fatores económicos, do acesso a alimentos de qualidade: o chamado paradoxo da pobreza/obesidade.
Uma intervenção eficaz, e precoce, quer ao nível da informação e literacia para a saúde, quer ao nível de uma melhoria societal e económica que permita um melhor acesso, é fundamental para que haja uma efetiva mudança.
Dieta mediterrânica e 30 minutos de exercício
A dieta mediterrânica é reconhecida como a mais adequada para a prevenção das doenças cardiovasculares e degenerativas. Com um país com um património gastronómico riquíssimo, porque não estimular a recuperação da tradição alimentar ancestral?
Também o efeito benéfico do exercício físico, mesmo que ligeiro, é consensual. Estima-se que trocar 30 minutos por dia sentado por uma atividade física ligeira reduz o risco de mortalidade em 14%. Já realizar uma atividade moderada a intensa sobe ainda mais a fasquia e reduz o risco em 45%.
Medidas tão simples como o estímulo à atividade física na escola e no local de trabalho poderiam ter consequências muito significativas na saúde dos portugueses.
Saliente-se que os benefícios da mudança de estilo de vida não se esgotam na prevenção primária. De facto, o risco de eventos adversos e morte nos doentes que já sofreram eventos cardiovasculares é reduzido de forma significativa pela implementação de comportamentos saudáveis.
O bem-estar e saúde mental, são também fulcrais, contribuindo não só para a prevenção e controlo, mas também para o próprio prognóstico dos doentes. Por exemplo, a depressão constitui um fator de risco independente de mau prognóstico após um evento cardiovascular. A meditação tem um efeito benéfico comprovado sobre o controlo de múltiplos fatores de risco.
A melhoria da saúde cardiovascular das populações é um assunto complexo e multifacetado. Grandes progressos foram já alcançados, mas a atitude e informação do público será determinante para desencadear e consolidar as mudanças societais e legislativas que se impõem.