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Em 2015 as pessoas com 65 ou mais anos representavam mais de 20% de toda a população residente em Portugal: a alteração do nosso perfil demográfico torna o tema do envelhecimento central em qualquer discussão no âmbito das políticas públicas. Segundo os últimos dados disponíveis (PORDATA, 2015), o índice de envelhecimento em Portugal passou de 27,5% em 1961 para 143,9% em 2015, o que representa uma transformação social significativa e exige adaptações e respostas a diversos níveis, nomeadamente por parte dos serviços públicos, como o sistema de saúde, as valências da Segurança Social, os transportes e formas de mobilidade.
A sociedade encara legitimamente o fenómeno do envelhecimento como um avanço socioeconómico e uma vitória da saúde pública. Contudo, o desafio que se coloca aos diferentes stakeholders já não se esgota, em si mesmo, nos meros incrementos estatísticos da esperança média de vida. Importa sobretudo intervir nos processos sociais conducentes ao envelhecimento e na qualidade de vida em idade avançada. O facto de vivermos mais tempo não é motivo suficiente para nos deixar mais tranquilos. É expectável que essa evolução encontre paralelo numa reflexão conjunta sobre as condições necessárias para que, vivendo mais, o façamos com mais dignidade e qualidade de vida.
Mais importante do que estratégias efetivas de promoção do envelhecimento ativo, torna-se relevante compreender as condições que influenciam esse mesmo processo. Os fatores de saúde são preponderantes, mas não se deve esgotar esta oportunidade numa mera reflexão em torno da promoção de comportamentos saudáveis. É imperioso enquadrar os fatores ambientais e pessoais, como as condições económicas, sociais e culturais, o ambiente físico, o sistema de saúde, entre outros determinantes (WHO, 2002).
O envelhecimento representa per si um desafio multissetorial, tanto no domínio do seu impacto económico e laboral, como ao nível da sustentabilidade dos nossos instrumentos de proteção social e na modernização dos prestadores de cuidados de saúde.
Do ponto de vista do mercado de trabalho, prevê-se uma alteração profunda ao nível dos perfis profissionais em diversos setores da economia, enquanto o sistema de saúde tenderá a ser menos assistencialista e a apostar num modelo cada vez mais preventivo, verticalizado, promotor de boas práticas e integrador no que respeita à organização de cuidados de saúde.
Não sendo alarmista, o mundo pós transição demográfica será irreversivelmente diferente quer pela maior exigência do ponto de vista económico e social quer pela crescente vulnerabilidade à inovação e avanços tecnológicos, pelo que devemos antecipar-nos com as reformas tendentes a uma maior equidade e que salvaguardem a sua sustentabilidade.