«Ser mais velho é uma mais-valia» | Sociedade

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«Ser mais velho é uma mais-valia»

06/03/2021 | Fernanda Cerqueira

Os mais velhos têm de ter um papel ativo na sociedade. FOTO UNSPLASH Os mais velhos têm de ter um papel ativo na sociedade. FOTO UNSPLASH

«Os mais velhos têm um valor económico, social e cultural muito relevante e são um recurso para a sociedade e para as suas próprias famílias», afirmou Jorge Torgal, professor da Escola Superior de Saúde do Alcoitão, que falava durante a sexta sessão online do Simpósio InterAções, no dia 24 de fevereiro.

Reconhece, contudo, que persiste um «olhar menos positivo» sobre o envelhecimento da população e em que «veem nos mais velhos menos população ativa no mercado de trabalho, mais custos para a saúde e um aumento dos custos com pensões». É um olhar sobre o envelhecimento que se detém nos desafios, ignorando as imensas oportunidades abertas pelos progressos tecnológicos e científicos e, sobretudo, pela conquista do envelhecimento saudável.

«Eu sou o que sou hoje, provavelmente, em 25% por causas hereditárias e em 75% por resultado daquilo que foi a minha vida. Do ambiente em que nasci, como cresci e como me desenvolvi. Nós sabemos hoje que 75% daquilo que as pessoas são no fim da vida resulta dos impactos cumulativos das desigualdades sociais, dos comportamentos e dos recursos ao longo da vida e com um grande impacto na saúde», explicou o professor Jorge Torgal.

«Entendo que é necessária uma abordagem de saúde publica compreensiva para o envelhecimento das populações. Que reflita as necessidades, as capacidades e as aspirações das pessoas idosas, assim como os diferentes contextos em que vivem, em particular, as suas casas, os seus bairros, as suas cidades e as condições em que os serviços existentes têm respostas saudáveis, adequadas e eficazes».

E continuou sublinando que «as intervenções do Governo, dos Municípios, das organizações sociais e económicas não podem reforçar as desigualdades. Sabemos que quem nasce numa família pobre, quem teve poucas possibilidades de estudar ou pertence a uma minoria cultural terá uma pior condição de saúde na velhice. E viverá provavelmente menos anos. Quem tem mais recursos económicos e teve uma formação académica formal tem, em geral, comportamentos mais saudáveis e tem uma maior esperança de vida e, sobretudo, uma maior esperança de vida com saúde».  

A conquista do envelhecimento saudável fará da idade cronológica um número redutor e um indicador cada vez mais impreciso do que é ser idoso.

Uma sociedade mais saudável e mais ativa

Na opinião do professor Jorge Torgal os mais velhos «têm de ter um papel ativo», mas cabe à sociedade, como um todo, «criar condições para que tenham esse papel». «Os mais velhos têm conhecimentos, têm qualidades e meios para participar nos diferentes níveis da construção de uma sociedade mais saudável, mais igualitária e que melhor responda às suas próprias necessidades». E acrescentou, concluindo que, «a sociedade antiga em que se era estudante e depois trabalhador e depois reformado é uma sociedade que passou. Hoje os estudantes trabalham, os trabalhadores têm de estudar, de outra forma estarão mal no seu trabalho, e os mais velhos têm de continuar a ser ativos no prolongamento dos seus projetos e percursos de vida adaptados às suas qualidades».

3ª Edição do Simpósio Interações – Uma Sociedade para Todas as Idades

Jorge Torgal, professor da Escola Superior de Saúde do Alcoitão; Pedro Pinto de Jesus, da GEBALIS; Catarina Teles de Araújo, do Centro de Medicina e Reabilitação de Alcoitão; e Maria Jesus Rodrigues, do Centro de Medicina e Reabilitação de Alcoitão foram os oradores convidados da sessão ‘De volta a casa: abordagem integrada à mobilidade’ moderada por Mário Rui André, Diretor da Unidade de Missão da Santa Casa da Misericórdia de Lisboa.

Uma sessão integrada na 3ª Edição do Simpósio Interações – Uma Sociedade para Todas as Idades, organizado pela Unidade de Missão ‘Lisboa Cidade de Todas as Idades’ da Santa Casa da Misericórdia de Lisboa.

Esta foi a sexta sessão de um conjunto de 16 sessões, todas gratuitas e com transmissão online, sempre às quartas-feiras, com início às 14h30.

Saiba mais AQUI sobre esta iniciativa. E não deixe de ver ou rever a sessão completa no canal do Youtube da SCML.

Sobre a representação social da idade cronológica recomendamos a leitura do nosso artigo Tenho 40, 65 ou 80 anos. Esqueça o rótulo da idade