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A iniciativa de incluir a velhice na Classificação Estatística Internacional de Doenças e Problemas Relacionados à Saúde (CID), mantida pela Organização Mundial de Saúde tem provocando uma forte reação nomeadamente pelos especialistas que tratam os temas do envelhecimento e da longevidade, preocupados com o risco de se mascarar problemas de saúde referentes a esta população, e ainda aumentar o preconceito contra os mais velhos (idadismo) interferindo com o tratamento e pesquisa de doenças.
A CID existe desde 1900. E está agora na sua 10ª edição. Será na 11ª que entrará esta alteração com o nome de código MG2A, onde se inclui o tema referente à velhice. Esta nova versão entra em vigor em janeiro de 2022, e tem um prazo de três anos para ser implementada.
Reações dos especialistas face a referência a velhice:
O especialista Alexandre Kalache, do Centro Internacional de Longevidade é um forte opositor a esta alteração e tem usado sua rede de contatos para impedir a sua implementação. Muitas outras entidades ligadas ao envelhecimento, criticam e questionam a OMS como por exemplo a:
Rubens Belfort, presidente da Academia Nacional de Medicina, fala na questão dos seguros. Refere como exemplo que com o novo código, o que poderá acontecer é que se uma pessoa for fazer um seguro de vida com mais de 65 anos, e lhe perguntarem se tem alguma doença, na verdade terá. Chama-se velhice!
Para além disso, uma pessoa que morra depois dos 65 anos, poderá receber o diagnóstico de que morreu de “velhice”.
Será isto possível?
A velhice não como uma doença, mas sim uma condição
Robert Jakob, que é o líder da equipe de classificação dos termos da OMS, refere que a mudança não torna a velhice numa doença, mas sim uma condição, dizendo que na prática pouca coisa mudará. Acrescentando que o rótulo “velhice” vai substituir a “senilidade”, muito usado até agora, acrescentando que esta discussão é na verdade um “mal-entendido”:
A decisão terá resultado de discussões que apontavam para a conotação negativa da palavra “senilidade” e portanto houve a necessidade de a substituir.
O envelhecimento é uma conquista e um privilégio que nem todos podem usufruir
Se velhice for considerada doença, surge então a questão: quem é considerado velho?
Essa questão não é especificada pela OMS, e pode variar de país para pais.
Por exemplo em Portugal é se considerado idoso aos 65 anos. No Brasil, é um pouco mais cedo, aos 60 anos. Por outro lado, em Itália é aos 75 anos.
A respeito deste tema, Alexandre Kalache, refere ainda que não há um único biomarcador capaz de definir a idade das pessoas. Havendo sim dados sobre tireoide, colesterol e glicemia que podem estar associados ao envelhecimento, mas não o determinam por si só.
O Envelhecimento é uma conquista e é um processo natural da vida do ser humano. Na verdade, é um privilégio envelhecer.
O risco desta mudança poderá ser mais uma vez o agravamento do idadismo ou agismo, aumentado o preconceito em relação a idade e neste caso em concreto, em relação a população mais velha.
Será que corremos efetivamente este risco? Para nosso bem, é bom que não! Pela nossa longevidade.