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Trabalho: Se parar é morrer, vamos continuar

01/12/2018 |

Photo by carl heyerdah on unsplash Photo by carl heyerdah on unsplash

Face à revolução silenciosa que ocorre na demografia portuguesa*, cuja última edição é de 2017 e que visa o período de 2015-2080 – antecipa-se um declínio da população em idade ativa de 6,7 para 3,8 milhões de pessoas neste horizonte. As consequências desta mudança estrutural são difíceis de antecipar e, embora alarmantes, estes números devem ser interpretados em função dos dados estatísticos disponíveis, nomeadamente o facto de a idade ativa se encontrar atualmente entre os 15 e os 64 anos.

No Portugal hodierno, em que a maioria da população entra na força de trabalho após os 20 anos – entrada esta que será tanto mais protelada quanto maior for o grau de formação médio obtido – e em que a ciência promete desbravar novas fronteiras para a esperança (e qualidade) de vida, prova-se fundamental assegurar, tendo em mente o princípio da justiça intergeracional e as oportunidades de carreira das gerações vindouras, o estabelecimento de enquadramentos que permitam às pessoas com mais de 65 anos ter um papel ativo na sociedade.

Será, portanto, crucial conceber mecanismos que, impedindo o prolongamento do anacronismo, permitam ganhar uma oportunidade ao satisfazer simultaneamente a necessidade humana de propósito com a da obtenção de rendimento daquela faixa etária, à medida que as gerações mais novas beneficiam da experiência das anteriores. Se conseguíssemos, enquanto país e através de um acordo de concertação entre os setores privado, público e social estabelecer condições que promovam níveis de participação na força de trabalho após os 65 anos semelhantes aos da Suécia (21,9% em 2017), seriam colhidos dividendos alavancados no capital humano acumulado destas pessoas que se traduziriam em benefícios tangíveis quer para a sociedade quer para aqueles que desejem prolongar a sua vida ativa.

Embora comecem a surgir algumas iniciativas nesse sentido (como a Experienced Management) estas são incipientes. É vital ser inclusivo e criativo no processo de enfrentar os desafios colocados ao Estado social por uma população envelhecida, bem como pelo baixo grau de qualificação médio da força de trabalho portuguesa. E, nesse sentido, a dignidade do trabalho sénior e a translação de conhecimento para as gerações mais novas apenas serão asseguradas através da reformulação de todo o percurso de vida do cidadão, assentando-a, entre outras estratégias, na reconversão das qualificações – através, por exemplo, da utilização de tecnologias de realidade virtual.

 

*Fonte INE, “Projeções de População Residente em Portugal”