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Tenho estado a observar os artigos publicados, um pouco por todo o mundo, nos últimos meses que dão conta de um número crescente de pessoas com mais de 80 anos que se estão a tornar bloggers e a marcar modas e tendências.
Escrevo este artigo porque de facto não é possível ficar calada quando também ouço falar da quase impossibilidade das pessoas com mais de 65 anos aderirem ao mundo digital, como se os chamados “seniores” fossem um grupo homogéneo e pequeno.
A verdade é que não só é um grupo profundamente heterogéneo como de pequeno não tem nada.
Se não vejamos estes dados Pordata para a evolução da população com 85 e mais anos, de 2000 a 2019.
Passámos de 152.019 pessoas (1.48% da população) para 316.442 pessoas (3.07% da população), ou seja, em praticamente 20 anos tivemos um crescimento de 2% no total de portugueses com 85 e mais anos de idade.
Acabo de ler um artigo sobre uma blogger de 90 anos, brasileira, que criou um curso na Universidade de São Paulo (minha antiga casa) para recuperar as memórias autobiográficas de outros da mesma idade, ou mais novos que ela - Neuza Guerreiro de Carvalho, mais conhecida como “Vovó Neuza”.
Neuza tomou contacto com a Internet mais ou menos na mesma época que eu, em 1997.
Tem trabalhado online todos estes anos e, naturalmente, usa a internet como meio de expressão pessoal, um espaço onde deixa o seu legado para a posteridade, os seus pensamentos, ao mesmo tempo em que ajuda outros a fazerem o mesmo.
Numa entrevista dada em 2015 ao canal Record referia que a sua escrita é precedida de investigação.
Fala da necessidade de partilhar a sua vida, o seu mundo com os outros, refere a importância de partilhar a sabedoria.
É isto que a faz criar o seu blogue em 2004.
Em Portugal tenho a felicidade de trabalhar com outras duas mulheres, bem mais novas, mas ambas 50+ que possuem um blogue cada uma e, coincidentemente, na área das viagens, turismo e experiências.
Duas mulheres. Uma de origem angolana e outra brasileira, que tiveram grandes carreiras e que decidiram mudar de rumo e, tanto quanto me é dado a perceber, vivem vidas bastante preenchidas.
Escolheram a criação de um blogue para partilhar um pouco das suas experiências e visões do mundo com os outros.
After 50 - criado por uma mulher da comunicação e do marketing com passado recente em multinacionais.
Segundo o que se pode ler no blogue, para a Ana Marquilhas, o After 50 pretende ser “um ponto de encontro para aqueles viajantes que, por terem mais de 50 anos, têm uma forma própria de:
Tanto para descobrir o novo como para revisitar o conhecido, os fifties:
De um lado, está o entusiasmo de sempre, do outro, a sensatez conquistada ao longo dos anos.
Registamos aqui as suas experiências e também as dos que, sem forçosamente partirem em viagem, querem testemunhar a sua visão do que é ter, hoje em dia, mais de 50 anos.”
Across Seven Seas da jurista brasileira Sílvia Triboni cuja missão é “ajudar as pessoas com mais de 60 anos a promoverem as melhores condições saúde, de bem-estar e juventude”.
Sílvia assume-se como Never old! Classic.
Refere que fez a maior parte das suas viagens após os 45 anos de idade.
Aos 62 assume a sua incurável obsessão “por viagens e conhecimento”.
Dois frutos da longevidade.
Duas mulheres que assumem as plataformas digitais como canais para se exprimirem e vivenciarem a sua cidadania, com o intuito de inspirar e formar mentalidades.
As tendências são muitas vezes ditadas pelas maiorias, reais ou em formação.
Como é o caso das pessoas com 40 e mais anos de idade, que em Portugal já são a maioria da população.
Curiosamente, continuam ainda bastante ignoradas pelas marcas e pela sociedade e muitas vezes vítimas do idadismo (preconceito com base na idade).
A necessidade de criarem um espaço para si, de se fazerem ouvir, leva a que assumam os novos media como veículos de comunicação.
Assim vemos surgirem estes novos influenciadores digitais, pessoas que vêm provar que não há uma razão concreta e objetiva para se acreditar no antagonismo entre os mais velhos e a nova tecnologia.
É tudo uma questão de didática e de pertinência, não tivesse o tempo de confinamento vindo provar a necessidade de nos digitalizarmos todos e em todo o mundo.
E há um pouco de tudo, no mundo dos influenciadores digitais.
Volto ao Brasil para dar mais um belo exemplo:
Avós da Razão - 3 mulheres com muito humor (Gilda 78 anos, Sonia 82 anos e Helena 91 anos),
“Três amigas se conhecem a mais de 50 anos, com vidas interessantíssimas muito a frente do seu tempo e com um senso de humor ácido e inteligente, longe dos padrões daquele estereótipo da ‘vovó’ que conhecemos.”
Um outro registo estas mulheres respondem a perguntas dos cibernautas através de um canal criado no whatsapp.
Se para uns mais distraídos tudo isto é uma novidade, que fiquem a saber que alguns destes cibernautas de cabelo branco fazem dinheiro com os seus blogues.
São patrocinados por marcas ou usam este espaço para promover as suas marcas.
Maya Santana, do blogue “50 e mais, a vida adulta e inteligente” refere que este é um “um generoso espaço de discussão sobre a vida adulta, com uma abordagem inovadora e desprovida de preconceitos. Os desafios de conviver com a roda do tempo, que desperta temores e ao mesmo tempo oferece novas descobertas, são a matéria-prima desse blogue.
” Foi aí que conheci outra brasileira, Helena Schargel, que aos 79 lançou a sua segunda coleção de lingeries voltada para mulheres acima dos 50 anos.
As tendências são marcadas por aqueles que estão à frente do seu tempo, pelo seu estilo de vida, forma de estar e, consequentemente, pelas suas necessidades e motivações que, no final, manifestam-se no consumo.
Na sociedade do conhecimento e da comunicação (acrescento eu), os influenciadores são trendsetters e estamos a assistir ao nascimento de um grupo de influenciadores adultos, ativistas da Economia da Longevidade, em todas as suas vertentes.
Estão atentos a esta tendência?
Ana Sepulveda – CEO da 40+ Lab
Expert em Economia da Longevidade e em envelhecimento